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Arte de rua – arte engajada entre Minas e Marselha – conhecendo Dagson Silva

Nascido no Morro das Pedras, conjunto de favelas de Belo Horizonte, Minas Gerais, Dagson Silva, 31 anos, artista plástico, vive atualmente em Marseille no sul da França onde faz mestrado na Escola de Belas Artes. Desde pequeno sempre esteve engajado na vida comunitária do seu bairro e interessado em suas origens.

Por volta dos anos 2000, em um momento em que havia no Brasil um aumento da criminalidade e muita disputa de território no seu bairro, começou a fazer grafite, inconscientemente com o intuito de trilhar um caminho que não estava em evidência. Andava de skate, se aproximando  assim do movimento  Hip-Hop e pensava que o grafite poderia ajudar seu bairro como o que aconteceu no Bronx em Nova York onde esta cultura foi uma ferramenta de transformação social.

O bairro é seu atelier onde ele constrói seu trabalho se apropriando da cultura local e dos modos de vida dos seus habitantes.

Desta forma, toda reflexão e trabalho artístico (pintura, fotografia, vídeo e grafite) que Dagson faz estão intrinsicamente ligados à sua experiência de vida que se deu neste espaço. A questão da sensibilidade, o jeito de olhar a vida de uma forma mais ampla, de aceitar a diversidade aprendendo a conviver com a diferença, de pensar e trabalhar sempre coletivamente, das fronteiras pouco delimitadas entre o espaço público e privado, são princípios que norteiam a vida do artista.

Dagson ressalta que no imaginário coletivo talvez haja a ideia equivocada de que em um bairro popular não exista arte nem atividades artísticas. Para o artista, as comunidades populares têm uma riqueza cultural enorme  e explica que é difícil falar de cultura brasileira sem fazer referência às favelas e aos bairros populares, às festas tradicionais, à música, à dança, ao cinema, às expressões artísticas religiosas acontecendo em espaços populares. Cita exemplos mais clássicos como o carnaval, o samba, mas também o cinema, como o  « 5 vezes favela », uma série de filmes que retrata o início da construção das favelas nos anos 60.

Uma referência importante na sua formação artística é o livro « Quarto de despejo » da escritora mineira Carolina de Jesus, considerada a maior escritora negra do Brasil, traduzida em 16 línguas e publicada em 46 países. Segundo Dagson, pode-se considerar Carolina poeta, filosofa, cientista social, pois ela teve um olhar antropológico sobre o espaço onde vivia. Este livro, lido no começo da sua trajetória artística, influenciou seu olhar para seu entorno e para a possibilidade de trabalhar à partir daquilo que ele via no seu bairro.

A favela faz parte da cultura brasileira pois é um lugar culturalmente rico. Sua intenção não é de dizer que como artista ele leva a arte para estas comunidades, ao contrário, a arte já esta lá, já é uma resistência, como a capoeira, o samba, o carnaval mais de origem, que sempre foram formas de resistência artística do lugar. Somente através da arte esta galera consegue resistir à opressão do Estado que vem desde o surgimento das favelas. Seu trabalho através do grafite é mais uma atividade artística que acontece dialogando com as outras que estão ali.

Seu intuito é representar um espaço, uma cultura que não é valorizada nos meios tradicionais de veiculação da arte colocando em evidência as comunidades populares.

O grafite é uma arte democrática, aberta sobre a rua,  de identidade contestadora, tendo um olhar crítico sobre a sociedade, de atuação no campo político veiculando uma mensagem, algo extremamente necessário nos dias de hoje. Para Dagson, é fundamental que os artistas tenham um olhar crítico sobre a realidade e um posicionamento social que fará toda a diferença.

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