Por tOn Miranda
Ele nasceu Francisco José Rodrigues de Moraes Pissolato, praticamente um nome de avenida, né? Mas a gente conhece esse ator do interior de Sampa (nasceu em Piracicaba e foi criado até os 17 anos em Cosmópolis, no interior do Estado de São Paulo) artisticamente como Kiko Pissolato, um dos artistas mais doces que eu conheço, apesar do seu tamanho e das caras e bocas que ele adora fazer.
Conheci o Kiko primeiramente vendo-o fazer TV nas suas aparições nas novelas Avenida Brasil e depois em Amor à Vida, ambas da Rede Globo (ele fez muitas outras). Depois o conheci pessoalmente nos bastidores do espetáculo O QUARTO ESTADO DA ÁGUA que ele protagonizou junto com os atores Anderson di Rizzi e Herbert Richers Jr em 2017 com temporadas aqui em Sampa sob a batuta da direção da grande Bia Szvat. Aliás, o espetáculo foi gravado pela equipe do Canal Diversão & Arte e volta através de exibição digital no programa Premiere nessa sexta-feira, 17 de julho de 2020 a partir das 20h.
Quem vê por fora engana-se, pois pode até achar de relance que esse taurino só tem beleza, mas quem se aproxima vê nele um artista sensível e atento aos movimentos e causas político-sociais do país e do mundo. Kiko é formado em Educação Física pela USP e dono de um porte atlético admirável, conquistado por ainda praticar diversas modalidades esportivas, ele, que é casado com a atriz Bruna Anauate e pai do Antônio e da Clara, tem uma carreira artística que passeia pelo teatro, TV e cinema. Um dos seus grandes sucessos na telona é o herói dos quadrinhos de Luciano Cunha, o temível O Doutrinador (de 2018). Mas ele também se aventura a escrever, tanto pro teatro como também pra literatura infantil quando lançou em 2019 seu primeiro livro infantil, o Dino VEGX (Editora Viés).
Kiko Pissolato é desses artistas apaixonados pelo seu ofício, seja qual for a função da vez: ator, escritor ou roteirista. Basta ver como se dedica e mergulha a cada projeto. Esse moço que completou no último dia 06 de maio seus 40 anos, topou responder as 28 perguntas permanentes da coluna PERFIL. Vamos ver o que ele tem a nos dizer?
tOn Miranda: Qual a lembrança marcante você tem da sua infância?
Kiko Pissolato: Bom, da minha infância é difícil lembrar alguma coisa… eu tive uma infância muito privilegiada, cresci no meio do mato e o que eu mais lembro é da natureza em volta, de poder sentar embaixo céu e olhar as estrelas e já de criança ficar pensando de onde a gente veio para onde a gente vai, essas perguntas filosóficas.
tOn: O que te levou a se envolver com a área artística?
Kiko: Costumo dizer que o artista ele nasce, às vezes demora um tempo mais para se descobrir mas desde criança sempre soube que o meu caminho era na arte. Sempre fiz curso de canto coral, piano, dança, o que eu podia, mas por morar na zona rural de uma cidade pequena eu achava meio impossível viver disso, aí quando eu vim para São Paulo para estudar outra coisa, foi aí que eu comecei a perceber que era possível viver de arte e foi aí que eu comecei, um pouco mais velho, depois de já formado na faculdade.
tOn: Quem é uma inspiração para você?
Kiko: É difícil falar de uma inspiração né Eu acho que ao longo da vida a gente vai se inspirando em várias pessoas que passam pelo nosso caminho: minha mãe que ama artista nata, embora não viva de arte e nunca tenha vivido, sempre foi uma pessoa muito artística, minha esposa e com todo mundo que eu vou trabalhando eu vou sempre aprendendo alguma coisa. Eu acho que é isso, a inspiração vem do dia a dia, das pequenas coisas e das observações que a gente faz e de toda e qualquer música que a gente escuta, livro que a gente lê, filme, série, um quadro, dos grandes colegas e grandes artistas que a gente tem, o tempo todo observando e me alimentando. Não tenho uma grande referência, são vários os que me inspiram realmente.
tOn: Qual o hábito mais chato das pessoas?
Kiko: Eu acho que o hábito mais chato das pessoas é a intransigência ou não estar aberto a aprender uma coisa nova e não aceitar a própria ignorância e isso faz as pessoas arrogantes e difíceis de lidar porque todo mundo quer saber de tudo, sobre tudo e aí fica difícil. A gente poderia ter uma humanidade tocando uma música perfeita se cada um entendesse que toca um instrumento diferente, numa potência diferente, mas todo mundo quer tocar tudo, falar tudo ao mesmo tempo, tocar ao mesmo tempo, então fica sempre uma música muito ruim para os nossos ouvidos.
tOn: O que você vê como seus pontos fortes?
Kiko: Meu ponto mais forte sem dúvida nenhuma é a disciplina. Em segundo lugar a humildade. Não que eu seja uma pessoa super humilde, mas eu aprendi na vida a ouvir e a valorizar o outro e o que ele tem a me ensinar. Então eu sempre agradeço pela minha vida, pelo que eu estou fazendo, por estar trabalhando, por estar vivendo mesmo, eu tenho um aspecto de disciplina muito forte, então eu sou uma pessoa bem fácil de lidar, embora eu seja teimoso para caramba, eu tenho as minhas manias, mas para trabalhar, principalmente eu sou muito fácil de lidar porque eu sou muito grato, então acho que isso é uma característica importante.
tOn: Qual o mais distante você já esteve de casa?
Kiko: Mais distante da minha casa é difícil um falar, em termos de distância física, de quilômetros, eu já tive em outros países, já estive na Europa, mas a minha mulher estava junto comigo e ela é a minha casa naquele momento, hoje são os meus filhos, então o mais distante que eu estive foi no Rio de Janeiro fazendo uma novela por meses e a minha mulher e meu filho aqui, agora tenho dois filhos, mas não estive longe dos dois ainda por muito tempo. A gente estar longe não só fisicamente, mas longe pelo tempo e emocionalmente, eu acho que essa distância que mais me incomoda, ficar muito tempo imerso em um trabalho sem poder ver eles. Já recusei trabalho que eu ia ter que ficar muito tempo internado, longe, sem poder voltar, fazendo novela eu voltava sempre, mas mesmo assim era muito dolorido porque ficava um dia e tinha que ir embora, então foi muito sofrido, mas fisicamente foi a Europa e a trabalho foi no Chile e em Portugal.
tOn: Cite dois ou três pratos que sua mãe ou seu pai faziam que eram especialmente memoráveis?
Kiko: O meu pai era o cara do churrasco, na minha infância, embora hoje eu não como mais carne, mas eu comi muito churrasco que ele fazia, isso marca e marcou muito e minha mãe o arroz e feijão, o básico de sempre, na minha casa tinha forno a lenha. Eu lembro de nhoque, meu pai também fazia coalhada, eu lembro que ficava enrolado no cobertor… ah, essas coisas, comida bem básica, tradicional brasileira.
tOn: Em que momento decidiu fazer do seu talento uma profissão?
Kiko: Momento que eu decidi viver da arte foi logo que eu me formei bacharel em esporte, me formei na USP em curso similar à educação física, já trabalhava e aí eu falei: “não é isso que eu quero”, eu estava com 22 anos e resolvi que dali pra frente eu viveria de arte.
tOn: Qual artista faz a trilha sonora da sua vida?
Kiko: Assim como na questão da inspiração, eu não sou ligado a um artista ou a um estilo de música, eu sou muito eclético mesmo, mas se fosse pra escolher alguém pra fazer a trilha da minha vida sem dúvida nenhuma seria Beatles.
tOn: Quem são os seus melhores amigos?
Kiko: Os meus melhores amigos, fora a minha família, obviamente, são o Fernando, o André e o Dalcio, que são meus amigos de infância, o Fernando é desde os meus 4 anos de idade, e o Marco que é meu amigo da época da faculdade e o Léo que fez oficina de atores comigo. Não são muitos, mas esses são os mais próximos.
tOn: Qual canal de TV não existe, mas deveria?
Kiko: O canal de TV que não existe mais deveria é um canal que dá oportunidades para pessoas iniciantes, se bem que existe… enfim, eu acho que todos os canais existem o que falta é uma programação mais diversificada, pouco mais voltada pro conteúdo educativo. Acho que tem de tudo, na real todo mundo deveria ter acesso a tudo que tem e não consumir só entretenimento, então os canais deveriam ser mais equilibrados. Hoje em dia a gente tem de tudo na TV, é difícil, acho que não falta nenhum canal não, o que falta é as pessoas terem acesso a tudo que é produzido, isso sim, porque a gente tem TV à cabo, Netflix, Amazon e todas as plataformas de streaming, mas não é todo mundo que consegue pagar e aí a gente acaba só vendo TV aberta e fica limitado mesmo.
tOn: Quem são os seus heróis?
Kiko: Meus heróis são todas aquelas pessoas que conseguem se destacar de alguma maneira na sua vida. Na maioria das vezes, pessoas que conquistam alguma coisa no campo humanitário, essas me interessam mais, então: Jesus, Buda, Madre Teresa, também Nelson Mandela, Gandhi… no campo artístico também: Mozart, Beethoven, Da Vinci, todos esses campos, o científico, o educativo como o Paulo Freire, no geral, se for passando por todas as áreas, os grandes ícones me chamam a atenção. Esses caras são os meus heróis porque conseguem produzir, se destacar e reverter para as pessoas de alguma maneira, um artista, por exemplo, que consegue se destacar, ficar famoso e ganhar dinheiro e não reverte isso de alguma maneira, a mim não me interessa. O desenvolvimento humano em primeiro lugar, eu não tenho “O Herói”, a gente tem que buscar o heroísmo dentro da gente sempre.
tOn: Onde você gostaria ir de férias e nunca foi?
Kiko: Tem tanto lugar, eu conheço tão pouco do mundo, viajei tão pouco, tão caro viajar, né? Mas eu gostaria de ir pra Grécia, fazer uma viagem assim Grécia, Itália e passar pelo norte da África, enfim, são vários lugares, mas eu que seria uma viagem interessante.
tOn: Qual foi a última coisa que você conseguiu de graça?
Kiko: São tantas as coisas que eu consigo de graça: beijos, abraços, carinho… consegui de graça essa entrevista (risos)… mas acho que coisa material assim… eu vivo recebendo comida, agrados da minha família, difícil responder… eu não sou um cara que ganha presentes no Instagram, por exemplo, mas outro dia eu recebi uma remessa de sucos pra eu postar…então não é de graça, porque tem que postar… mas acho que de graça a gente recebe sempre, a vida, o maior presente que a gente recebe de graça!
tOn: Qual filme merece uma sequência?
Kiko: Não sei, mas acho que todo filme que merece uma sequência acaba tendo né? Na real é isso…
tOn: Se você pudesse se encontrar com qualquer pessoa no mundo, quem seria e por que?
Kiko: Se eu pudesse encontrar com qualquer pessoa no mundo? Eu já pensei num monte de merda que eu poderia fazer, umas pessoas que poderia dar um tapa na cara… mas vamos pensar numa coisa boa, vivos né? pessoas vivas! Não sei, difícil… difícil nesse momento de tristeza, de complicação que a gente vive pensar em encontros positivos. Hoje eu gostaria só de encontrar minha mãe e meu pai, saudades de ver eles por causa dessa quarentena.
tOn: O que você ensinaria a você mesmo quando criança?
Kiko: Acho que eu falaria só: ‘fica tranquilo e faz o que você tem que fazer que vai dar tudo certo’ eu não tenho essa piração de voltar e corrigir, sabe? Eu acho que eu só sou o que eu sou hoje pelo que eu fiz, então se eu voltar e ensinar alguma coisa eu não vou ser o que eu sou hoje (risos) então eu prefiro deixar a equação como está e tá certo.
tOn: Se você fosse um herói, qual seria o seu super poder e por que?
Kiko: Falando no campo lúdico dos heróis, aí é um universo que eu adoro. Se eu pudesse sem dúvida nenhuma eu seria…opa, deixa eu pensar direito… em termos de poderes e tal eu acho que o Superman, ou o Thor. O Thor é até melhor porque ele é imortal…embora, não, não, melhor não… não quero ser o Thor, Deus me livre ser imortal! Acho que o Superman, porque ele tem um ponto fraco, mas ele tem muito poder e poderia usar esse poder pra fazer tanto bem às pessoas, difícil seria não deixar subir à cabeça, mas acho que o Superman com todos os poderes dele: super força, ser à prova de bala, super velocidade, voar! (risos). Eu ia destruir todas as armas do mundo num piscar de olhos… assim… essa seria minha primeira providência, ninguém mais tem arma, seria tão lindo.
tOn: Pelo o que você gostaria de ser lembrado?
Kiko: Eu gostaria de ser lembrado pelo o que eu sou, pelo o que eu fiz de bom. Dizer: ‘o Kiko era um cara legal, um cara fácil de trabalhar, um cara dedicado, um bom pai, um artista que produziu e que viveu, e que tentou ser melhor a cada dia”, só isso. E ser lembrado pelo meus, pelos meus amigos, pela minha família, acho que essa é a melhor lembrança.
tOn: Qual a pergunta mais chata que fazem a você?
Kiko: A pergunta mais chata que fazem pra mim é “quando você vai voltar a fazer novela?”… vai pra puta que pariu…
tOn: Uma cor…
Kiko: Branca.
tOn: Uma música…
Kiko: Varia também, todo dia uma diferente, mas também se for escolher uma “Let It Be”
tOn: Um lugar…
Kiko: Minha casa, sem dúvida nenhuma.
tOn: Um livro..
Kiko: Também cada dia um… mas… “O Cavaleiro da Estrela Guia” do Rubens Saraceni
tOn: Dia ou Noite?
Kiko: Dia
tOn: Doce ou Salgado?
Kiko: Salgado
tOn: Um prazer…
Kiko: Ficar na minha casa com minha família.
tOn: Uma saudade…
Kiko: Saudade da liberdade…(risos).