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BOCA A BOCA nova série brasileira no NETFLIX

Boca a Boca, lançamento nacional da Netflix, tem chamado muito a atenção. Criada e dirigida por Esmir Filho, a produção fala sobre uma epidemia, justamente em um momento como o que estamos enfrentando hoje. 

A série conta a história dos jovens de Progresso, uma cidadezinha pacata – e fictícia – do interior. Tudo ia bem até que depois de uma festa, os jovens começam a se infectar com uma doença misteriosa transmitida através do beijo.

Ninguém sabe exatamente como proceder e nem o que de fato está por trás disso, além de ter vários mistérios em torno daquela situação. Então, o trio protagonista formado por Chico (Michel Joelsas), Fran (Iza Moreira) e Alex (Caio Horowicz), saem em buscas de respostas para esse mistério.

Boca a Boca além do suspense, apresenta também diversos conflitos e dramas familiares: tem o pai religioso que precisa lidar com a orientação sexual do filho, tem a adolescente apaixonada pela melhor amiga, tem o filho que vai contra o ideal dos pais. E todos esses problemas se intensificam com a chegada do novo vírus.

Essas situações possibilitam ao elenco que entreguem performances muito boas. O trio protagonista é afiado e consegue passar na tela uma sensação de que são realmente muito amigos de verdade. Eles fazem bonito ao lado de atores veteranos.

Michel Joelsas, o Chico, manda muito bem no embate com seu pai, o religioso Tomás vivido por Flávio Tolezani (O Outro Lado do Paraíso, Êta Mundo Bom!). As cenas com seu irmão mais novo, o Quim vivido por Kevin Vecchiato (Turma da Mônica – Laços) são de encher o coração de alegria. Aliás, Kevin, com apenas quatorze anos de idade, já mostra em tela seu talento para a atuação.

Do outro lado, temos Bruno Garcia (Sob Pressão) como Doni, o pai de Alex. Ele é um pecuarista que toma decisões que confronto os ideais defendidos pelo filho e isso faz com que entrem em constante conflito, rendendo ótimas cenas.

Boca a Boca também presenteia o público com o retorno de Denise Fraga ao gênero. A atriz e produtora que vinha se dedicando ao cinema e também ao teatro com o espetáculo Eu de você, é presença carimbada na nova produção da Netflix.

Enquanto esperamos seu retorno às novelas, previsto para o ano que vem na novela Um Lugar ao Sol de Lícia Manzo, Denise nos presenteia com Guiomar, a diretora rígida mas ao mesmo tempo frágil da escola de Progresso.

Natural do Rio de Janeiro, Denise é hoje uma atriz consagrada amplamente premiada por seu trabalho no cinema e no teatro. Para o público, uma das suas personagens mais marcantes é Dorinha, a esposa infiel de O Auto da Compadecida. Não é de hoje que seu talento é reconhecido, tê-la em uma produção é uma grande honra e a equipe soube fazer bom proveito.

O elenco tem ainda a atriz mineira Grace Passô dando vida à Dalva, mãe de Fran que sofre com os abusos do patrão Doni, além de perdas na sua vida. É uma personagem rica de emoções, cheia de complexidade e que com o brilho da atriz a tornam uma das mais queridas da série.

Thomas Aquino que fez sucesso com o personagem Pacote do filme Bacurau, representa um peão másculo, bravo, retraido que vai ser abalado quando um novo interesse amoroso surgir em sua vida.

Todos esses personagens e histórias estão conectados de maneira verossímil, uma vida se entrelaça na outra de forma natural. Grande ponto do roteiro.

Um outro personagem importante para a trama é o Doutor Tadeu interpretado pelo ator e cantor César Melo. O personagem traz a importância dos cuidados médicos diante uma doença, nos levando a refletir sobre a importância de o personagem existir e César conseguiu fazer com que sua personagem cativasse o público.

Um ponto a se elogiar é a escalação de um ator negro para o papel de médico. Normalmente costumamos ver essas profissões sendo representadas por atores brancos – característica violenta de um racismo histórico e por anos refletido também em narrativas dramatúrgicas. É muito importante que as produções tomem a iniciativa de trazer à pauta a representatividade negra também em postos de poder e decisão. Não esqueçamos de que somos um país predominantemente negro.

Muitas pessoas têm chamado a atenção para outro ponto da produção: a direção.

Boca a Boca tem cenas muito bem feitas, que vão do sonho à ilusão. O vírus que é transmitido na série deixa manchas pelo corpo das pessoas, e essas manchas ganham um efeito psicodélico que fica visualmente incrível. É umas das direções mais bem trabalhadas do audiovisual brasileiro, ponto para Esmir Filho e Juliana Rojas, que dividem o trabalho.

A série tem apenas 06 episódios e está inteiramente disponível no catálogo da Netflix. Sabemos que atualmente as pessoas tem ânsia por maratonar os conteúdos, o que indica que em pouquíssimas horas você terá visto a série completa.

Particularmente, acredito que Boca a Boca é uma série para ser vista com calma, episódio a episódio, absorvendo tudo que o texto, direção e atores nos oferecem em cada uma das cenas. Arrisco até dizer que senti falta em aprofundar a trama da seita que está escondida na cidade de Progresso. Talvez com um número maior de episódios isso fosse possível, mas não é algo que tire os méritos da produção.

Vale a pena conferir essa produção nacional que entrega um texto primoroso, atuações brilhantes e uma direção espetacular digna de grandes produções do cinema.

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