Por tOn Miranda
“Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria do que eu quisesse ter. Que nada, minha porção mulher, que até então se resguardara é a porção melhor que trago em mim agora, é que me faz viver” os geniais versos de Gilberto Gil, de 1979, da música “Super homem – a canção” (do álbum Realce) exprimem a ideia que desde aquela época já se discutia que a masculinidade tóxica não faz bem pra ninguém. Essa masculinidade tradicional, que é tão questionada e repelida nos nossos dias, é um modelo caduco e ultrapassado de masculinidade baseada na exclusão e no domínio do outro, na subordinação do diferente.
Na sétima edição da mostra TODOS OS GÊNEROS: Mostra de Artes e Diversidade, que o Itaú Cultural promove todos os anos, o tema é ‘masculinidades’, um tema que segundo Galiana Brasil (gerente do núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, uma das áreas de expressões artísticas que encabeçam a equipe multicultural da mostra) veio pra problematizar, questionar, reposicionar e dar voz ao processo de construção das masculinidades.
A mostra que começa HOJE, 24 de agosto e vai até 30 de agosto (domingo), será realizada pela primeira vez 100% online, com transmissão no site do IC e trará pro público durante a última semana de agosto, conversas com formadores de opinião, artistas, ativistas e pensadores convidados, como Tiago Koch, criador do projeto Homem Paterno. Pode também assistir a espetáculos como Barrela, texto de Plínio Marcos encenado pela Companhia Cemitério de Automóveis, cujo enredo trata da violência sexual nos presídios masculinos, assim como cenas de dança e teatro feitas a partir do pensamento sobre a masculinidade recebida e a masculinidade criada.
O encerramento fica por conta dos shows permeados pelo universo musical queer do rapper paulista Rico Dalasam e do cantor pernambucano Ciel Santos.
“Precisamos ver a masculinidade de uma maneira plural, com todas as perspectivas e questões que esse lugar das masculinidades traz, todas as intersecções: masculinidade e transgeneridade, masculinidade e negritude, masculinidade e paternidade, então são várias camadas que esse tema toca, e onde ele reverbera também. O processo de curadoria artística, como sempre, traz muito esse olhar pros territórios e pra diversidade. Nós temos: performance, dança, teatro, música, então são várias linguagens, que já um pouco a nossa forma de operar nos projetos, e trazendo essa polifonia, trazendo o máximo de camadas, de significações, a gente tem por exemplo o trabalho do André Vitor, que bota a subjetividade da masculinidade do homem sertanejo, num lugar muito distante, muito diferente do que a gente costuma ver, no imaginário, nos clichês, da forma como se lê o sertão nordestino, tem também o trabalho do Elilson que é uma performance num espaço urbano, acontecendo agora, nesse momento de distanciamento, enfim, são camadas de subjetividade poética que a programação traz e a curadoria olhou muito pra isso, pra essa diversidade nessa construção da masculinidade, tanto do ponto de vista das identidades quanto do ponto de vista das geografias e dos territórios”, pontuou Galiana ao Canal Diversão & Arte.
Confira abaixo a programação:
Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade
Sétima edição
De 24 a 30 de agosto
No site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural
PROGRAMAÇÃO, SINOPSES E SERVIÇO
24 de agosto (segunda-feira)
18h30
Cenas Teatrais – Filho Homem
SINOPSE:
Um documentário ficcional sobre as diferenças e proximidades entre dois irmãos – um criado para ser homem e outro criado para ser mulher. Violência, amor e a descoberta da transexualidade estão entre os temas abordados em cena.
FICHA TÉCNICA:
Concepção e atuação: Bernardo de Assis (RJ)
Duração aproximada: 10 minutos
Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 12 anos
Interpretação em Libras
19h
Mesa de abertura – Masculinidades em trânsitos
Com Airan Albino (RS), Lino Arruda (SP) e Marcelino Freire (PE)
Mediação: Thiago Rosenberg (SP)
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
25 de agosto (terça-feira)
17h
Roda de Conversa – A construção das masculinidades
Com Jordhan Lessa (RJ), Marcus Boaventura (BA) e Sirley Vieira (PE)
Mediação: Guilherme Valadares (MG)
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 10 anos por conter diálogos não estimulantes sobre sexo dentro de um contexto educativo
Interpretação em Libras
20h
Cenas Teatrais – Oboró
SINOPSE:
A obra retrata a realidade e a subjetividade de homens negros, marcadas por questões como a hipersexualização do corpo e a busca por perfeição em troca de um lugar ao sol numa sociedade de estrutura racista.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Adalberto Neto
Direção: Rodrigo França
Atuação: Cridemar Aquino (RJ), Drayson Menezzes (RJ) e Sidney Santiago Kuanza (SP)
Produção: Fábio França e Mery Delmond
Realização: Diverso Cultura e Desenvolvimento
Duração aproximada: 40 minutos
Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 12 anos
Interpretação em Libras
26 de agosto (quarta-feira)
17h
Roda de Conversa – Paternidades
Com Luis Baron (SP), Orun Santana (PE) e Tiago Koch (RS)
Mediação: Viviane Duarte (SP)
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação Indicativa: livre
Interpretação em Libras
20h
Espetáculo – Bola de Fogo
SINOPSE:
Devidamente trajado, o ator e diretor Fábio Osório Monteiro prepara e frita a massa do acarajé enquanto performa a si próprio e a outros corpos negros. O trabalho explora questões de política, espiritualidade, memória, afeto e ancestralidade.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Fábio Osório Monteiro (BA)
Codireção: Leonardo França
Colaboração: Jorge Alencar e Neto Machado
Produção executiva: Natália Valério
Produtor assistente/contrarregra: Gabriel Pedreira
Interpretação em Libras: Cintia Santos
Produção: Dimenti Produções Culturais
Duração aproximada: 45 minutos
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos por conter linguagem imprópria
Interpretação em Libras
27 de agosto (quinta-feira)
20h
Espetáculo – Barrela
SINOPSE:
Encenação do primeiro texto do dramaturgo paulista Plínio Marcos (1935-1999), a peça traz a história real de um menino que, preso por um pequeno delito, foi violentado por companheiros de cela – os quais, mais tarde, foram mortos por ele. O espetáculo discute o estado de exceção que se cria em determinados ambientes e o código de conduta entre criminosos.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Plínio Marcos
Direção e trilha sonora: Mário Bortolotto
Elenco: Mário Bortolotto, Walter Figueiredo, Marcos Gomes, Nelson Peres, Paulo Jordão (Rodrigo Cordeiro), André Ceccato (Marcos Amaral), Daniel Sato e Alexandre Tigano
Iluminação: Caetano Vilela
Cenário e arte do cartaz: André Kitagawa
Assistentes de direção: Marilia Medina e Gabriela Fortanell
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Fotos: Marta Santos
Duração aproximada: 55 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Interpretação em Libras
28 de agosto (sexta-feira)
20h
Cenas Encomendadas
Duração: 30 minutos no conjunto dos vídeos
Kaddish, uma Oração para os Homens que Eu Matei
SINOPSE:
Partindo da reza tradicional judaica em homenagem aos mortos, que só pode ser recitada pelos filhos homens da pessoa falecida, Ronaldo Serruya ficcionaliza elementos autobiográficos para abordar o modelo masculino judaico-cristão que o formou e a necessidade de matá-lo para afirmar diante do mundo seu corpo queer e que convive com o HIV.
FICHA TÉCNICA:
Criação, dramaturgia e atuação: Ronaldo Serruya (SP)
Direção e edição de imagens: Luiz Fernando Marques
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos por conter linguagem imprópria e descrição de violência
Interpretação em Libras
C(h)ancela 24
SINOPSE:
Partindo do uso recorrente no Brasil do número 24 – que remete à figura do “veado” e à condição de ser “viado” – como xingamento contra homens gays, o artista vê essa herança vocabular da normatividade hétero-masculina e traz na performance e texto ação-tributo que fez aos 24 anos para um irmão, também homossexual, suicidado com a mesma idade.
FICHA TÉCNICA:
Criação e performance: Elilson (PE)
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos por conter citação de ato violento que pode causar angústia
Interpretação em Libras
29 de agosto (sábado)
20h
Cenas Encomendadas
Duração: 45 minutos no conjunto dos vídeos
Para Não Dançar em Segredo
SINOPSE:
A obra revisita memórias e construções identitárias de gênero do performer André Vitor Brandão, abordando as problemáticas da construção de uma masculinidade hegemônica no Sertão. O vídeo é um convite para a celebração das masculinidades na dança e um desejo de tornar manifesta a pluralidade imanente dos corpos masculinos, sobretudo aqueles que habitam o Sertão.
FICHA TÉCNICA:
Roteiro, direção e interpretação: André Vitor Brandão (PE)
Direção de fotografia, montagem e edição: Fernando Pereira e Robério Brasileiro
Direção de arte: Ana Paula Maich
Trilha sonora original: Gean Ramos
Assessoria criativa: Jailson Lima
Produção: Alan Barbosa
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
CorazA
SINOPSE:
“A couraça era o medo e a vergonha de ser livre. Eu resolvi soltar e liberar minha musculatura para respirar e ser o que sou!”
FICHA TÉCNICA:
Direção e interpretação: Odacy Oliveira (AM)
Auxiliar de direção: Alan Panteón
Produção e consultoria artística: Valdemir Oliveira
Iluminação: Alan Panteon e Odacy Oliveira
Cenografia: Odacy Oliveira e Alan Panteón
Filmagem: Alan Panteón
Paisagem sonora: Moncho Bunge
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
Nkisi Hongolô – A Divindade do Arco-Íris
SINOPSE:
Uma abordagem da masculinidade como um princípio energético dinâmico e que pode ser alterado. Assim, os padrões sociais deixam de ser dados para serem construídos e formatados pela individualidade de cada um. Hongolô é um Nkisi – uma divindade – de princípio masculino. Está ligado às mudanças e recebe vários nomes, dependendo do seu local de culto em terras bantus. É também Hongolô que auxilia na comunicação entre os seres humanos e as divindades.
FICHA TÉCNICA:
Concepção: Pablo Bernardo, Ricardo Aleixo e Rui Moreira (RS)
Câmeras e atuação: Rui Moreira e Ricardo Aleixo
Concepção de design sonoro: Ricardo Aleixo
Montagem de vídeo e áudio: Pablo Bernardo
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
30 de agosto (domingo)
20h
Show
Ciel Santos (PE)
Rico Dalasam (SP)
Duração aproximada: 30 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos por conter diálogos sexuais e nudez velada.
Interpretação em Libras