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O inspirador legado de CHADWICK BOSEMAN | CINEMA

Por Thiago Nunes

Na noite do dia 28 de agosto fui pego de surpresa por uma notícia que não esperava receber.

Chadwick Boseman, ator, diretor e produtor estadunidense veio a falecer por consequência de um câncer de cólon contra o qual vinha lutando há pouco mais de quatro anos.

COMO TUDO COMEÇOU

O sagitariano que tinha apenas quarenta e três anos de idade nasceu no estado da Carolina do Sul se formou em Belas Artes e Direção pela Howard University no ano 2000. Mas ele não parou por aí. Boseman desembarcou na Inglaterra e estudou na British American Drama Academy, em Oxford. Te mete!

O filho da enfermeira Carolyn e de Leroy que além de trabalhar em uma fábrica de têxteis mantinha um negócio de estofados não pretendia ser ator. Ele na verdade queria era ser diretor e só foi estudar atuação para entender o ofício e facilitar seu trabalho de direção de atores. Mas quando é pra ser, não tem jeito não.

No seu retorno aos Estados Unidos, Chadwick começou a dar aulas de teatro  no Schomburg Junior Scholars Program, dentro do Centro Schomburg de Pesquisa em Cultura Negra, no bairro do Harlem, na cidade de Nova York. Foi então que ele começou a fazer pequenas participações em séries como Third Watch, All My Children e Law & Order.

Toda essa experiência ajudou a trazer visibilidade para o ator que passou a ganhar também mais espaço no cinema. Chadwick deu vida a personagens reais em filmes biográficos.

Seu primeiro grande trabalho foi no filme 42 – A história de uma lenda interpretando Jackie Robinson, primeiro atleta negro a jogar na liga principal de um time de Baseball, nos anos 40. Em seguida, veio James Brown no filme Get on Up – A história de James Brown, uma lenda da indústria musical que influenciou diversos cantores ao longo da história.

E não acabou não.

Em 2017, coube a Chadwick dar vida a Thurgood Marshall o primeiro juíz negro a ser um Associado da Justiça da Suprema Corte dos Estados Unidos. Quando o filme foi lançado, Boseman já havia aparecido para o público com aquele que foi seu trabalho de maior sucesso diante o público. O herói Pantera Negra teve sua primeira aparição no filme Capitão América: Guerra Civil, em 2016.

Chadwick foi além. Mais do que interpretar os primeiros negros a fazerem história em algum setor, ele mesmo fez com que a sua ficasse gravada para sempre.

O PRIMEIRO

No ano de 2018, Pantera Negra ganhou um filme para chamar de seu. Era a primeira vez que um super-herói negro estava em destaque, dono de seu próprio filme e dono de sua própria história.

O personagem, assim como os demais saiu das histórias em quadrinhos direto para à telona. Pantera Negra é na verdade T’Challa, rei de Wakanda, um reino fictício na África. O personagem foi criado por Stan Lee e Jack Kirby e apareceu pela primeira vez em julho de 1966, na revista Fantastic Four #52.

T´Challa está de vola ao seu país, Wakanda, para uma cerimônia de coroação após a morte do rei. Mas disputas políticas movimentam e o coloca em embates que resultam em excelentes cenas de ação, das melhores que já se viu em um filme de super-heróis.

Talvez porquê Pantera Negra é muito mais que só um filme de super-heróis.

QUANTO VALE A REPRESENTATIVIDADE?

Quando eu era criança, lá pelos meus nove/dez anos as crianças gostavam de brincar durante os intervalos de aula. Eu não era muito bom em esportes, mas em outro tipo de brincadeira, onde éramos personagens de desenhos ou filmes, eu gostava de participar.

Meus coleguinhas escolhiam: Podiam ser o Batman, o Superman, o Capitão América, o Flash. Eu podia ser o Lanterna Verde do desenho Liga da Justiça sem Limites ou o Super Choque que era um herói muito maneiro também. Mas essas eram as referências que eu tinha de heróis que se pareciam comigo, fisicamente.

Não que eu visse problemas em ser um dos brancos, mas esse tipo de comentário acontecia com certa frequência: “Nossa, não tem nada a ver com você”

E assim eu cresci. E assim, outros como eu também cresceram.

Nos acostumamos a ter poucos. Nem só poucos heróis, mas poucos mocinhos de filmes, poucos personagens em desenhos, poucos protagonistas em novelas. Em alguns momentos eu até queria ser branco, clarear minha pele para me parecer com aqueles modelos que eram o tempo todo pregados.

Quando era mais novo, não entendia o motivo disso. Hoje em dia, eu tenho absoluta certeza que se tivesse tido outras referências, eu não teria pensado em trocar minha cor de pele.

Já adolescente, ainda amando super-heróis, entrei em grupos sobre o assunto nas redes sociais. Foi antes do Pantera Negra fazer sua primeira aparição no Guerra Civil. Sempre tiveram muitos e muitos debates acerca da mudança de etnia de um personagem.

“Não precisa mudar a etnia. Que façam um filme do Super Choque! Que façam um filme com o John Stewart! Que façam um filme da Tempestade!”

Em outras palavras:

Que façam um filme com as poucas referências que vocês já tem. Não mexam nas nossas! Não mexam nas minhas.

Que diferença faz a cor de pele de um personagem fictício se o fato não estiver ligado diretamente ao seu estilo de vida ou tenha alguma importância significativa em sua história? 

Talvez essa reação seja um medo.

Medo de não se ver. De não se sentir representado. De não fazer parte daquela história.

É esse o sentimento que milhões de crianças ao redor do mundo inteiro sentiram durante anos, décadas, gerações…

Não culpo inteiramente as pessoas com esse discurso. Talvez seja algo inconsciente, sem a real intenção de ferir… Mas fere! Dói não se sentir parte de algo…

NASCE UM FENÔMENO

Quando o Pantera Negra teve sua primeira aparição, mostrou-se um personagem interessante. Logo veio o anúncio de seu filme solo, que gerou expectativa, comoção, debates e fez história.

Nas bilheterias o filme passou a marca de 1 bilhão e 300 milhões de dólares. Ocupa a décima-terceira colocação nas maiores arrecadações de todos os tempos. O sucesso de público casou com o sucesso de crítica.

O SAG Awards, prêmio do sindicato de atores, premiou o elenco como o melhor do ano de 2018.

O Óscar, por sua vez deu ao filme sete indicações – incluindo a de Melhor Filme, a principal categoria da premiação. Naquela noite, faturou três estatuetas: Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora.

Sem sombras de dúvida uma bilheteria alta, reconhecimento da crítica que vão desde elogios em resenhas à estátua mais cobiçada do mundo, servem para medir o sucesso de uma obra. Mas existe um legado por trás de Pantera Negra.

Um legado que tem rosto. Tem nome e sobrenome: Chadwick Boseman

Não digo que ele não sabia a dimensão que seu trabalho alcançou, pois felizmente em vida ele pôde ver o sucesso de seu personagem: Desde o figurino, a atmosfera, o sotaque criado por ele e a saudação imortalizada pelos braços cruzados: Wakanda Forever!

Todos esses elementos ajudaram na quebra de um ciclo que vinha acontecendo há anos e anos.

Chadwick deu vida não somente ao primeiro super-herói negro que teve um filme pra chamar de seu. Ele deu esperanças, deu alegrias.

Vi inúmeras festas de aniversário e festas à fantasia onde crianças negras se fantasiavam como T’Challa ou personagens daquele universo. Elas agora sabem que existe um lugar para elas, um grande espaço. Que elas podem sim ser donas da própria história.

Em 2018, ano de lançamento do filme eu já era um jovem adulto com mais de vinte anos. Mas isso não me impediu de brilhar os olhos, de sonhar e ter esperanças. De ver que existe lugar sim para a gente. Que também podemos ser um super-herói cheio de força, garra e que é líder de uma nação.

Algumas pessoas podem não entender o motivo de tanta emoção acerca de um filme de super-herói. Mas é como diz um meme que particularmente amo: Só quem viveu (sem ter muitas referências) sabe…

Chadwick, muito obrigado por todo o seu legado! Por tudo o que você representou e vai representar para sempre para uma imensa legião de crianças e de adultos. Mesmo com o diagnóstico em mãos, você não se amendotrou, não baixou a cabeça Descanse em paz!

O ÚLTIMO TRABALHO

O último trabalho de Chadwick Boseman foi o filme Destacamento Bloods, dirigido por Spike Lee. O filme foi lançado esse ano e está disponível na Netflix. Conta a história de quatro veteranos de guerra afro-americanos que voltam ao Vietnã em busca dos restos mortais de seu comandante e de um tesouro que enterraram enquanto serviam na guerra.

É um trabalho muito bom, com a excelência e o poder de Spike Lee que traz Boseman em um desempenho pra lá de emocionante. Se você ainda não viu, veja. Vai ter um sentimento e significado ainda mais forte depois de tudo que aconteceu.

E para quem ainda não assistiu ou quer rever o filme da Marvel que consagrou o legado de Chadwick, o PANTERA NEGRA, a TV Globo, vai exibir em primeira mão o filme na Tela Quente (depois da novela), em sua primeira aparição na TV aberta. IMPERDÍVEL!

Wakanda Forever!

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