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“QUE OS MORTOS ENTERREM OS SEUS MORTOS” COM HELENA RANALDI E MARIA FERNANDA CANDIDO

Texto de Samir Yazbek é pauta para o ciclo de leituras do projeto Palco Virtual do Itaú Cultural, com estreia em 7 de setembro, próxima segunda-feira, às 20h

O projeto Palco Virtual traz uma programação de teatro toda ao vivo para você. Não é de hoje que o Instituto Itaú Cultural vem adaptando a sua programação para o ambiente on-line. O próprio Palco Virtual iniciou a sua programação especial em junho, em meio ao acirramento da pandemia no Brasil e no mundo.

Abrindo uma nova janela para a produção cultural e fortalecendo o meio teatral com apoio à produção de espetáculos e projetos de artes cênicas, o Palco Virtual chega a mais uma edição com estreia prevista para 7 de setembro, próxima segunda-feira, com uma programação recheada de talentos.

QUE OS MORTOS ENTERREM OS SEUS MORTOS

O projeto estreia em grande estilo com a leitura dramática de Helena Ranaldi e Maria Fernanda Candido para o texto “Que os mortos enterrem os seus mortos”, de Samir Yazbek e com direção de Marcelo Lazzaratto.

Trata-se de uma história que se desenvolve entre o Líbano e o Brasil. Uma mulher tenta recomeçar sua vida no Líbano quando é surpreendida com a visita de sua falecida mãe pedindo que ela volte ao Brasil.

Mãe e filha, interpretadas por Maria Fernanda Cândido e Helena Ranaldi, duas atrizes de gerações próximas, colocam em cena uma proposta de horizontalidade apresentando estas personagens com dilemas tão parecidos e quebrando a hierarquia que comumente cristalizamos no imaginário da relação entre mãe e filha. A mãe aqui é apresentada na idade em que morreu. A filha, que viveu sem a mãe, agora tem idade parecida. Os conflitos não são os mesmos, mas se parecem. Está apresentado o núcleo dramático da excepcional direção de Lazzaratto frente ao texto de Yazbek. “Trata-se de uma jornada da filha para entender o seu pertencimento. Onde será que ela se adequa? Qual o seu lugar?”, diz o diretor.

Yazbek conquistou o prêmio APCA de Melhor Autor em 2010 com a peça “As folhas do cedro”, seu primeiro mergulho pela construção do texto dramático em sua origem libanesa. Agora, em “Que os mortos enterrem os seus mortos” o foco está no embate entre tradição e modernidade, marca de sua obra.

SAMIR YAZBEK FALA SOBRE QUE OS MORTOS ENTERREM OS SEUS MORTOS

Perguntado sobre como a peça dialoga com o momento em que vivemos e o que ela nos entrega como mensagem, Samir Yazbek responde com exclusividade para o Canal Diversão & Arte, numa profunda reflexão sobre o presente e o futuro do Brasil e do Líbano e, consequentemente, de nossos sonhos e potenciais enquanto nação:

Que os mortos enterrem os seus mortos é uma peça que, de certa forma, pode ajudar a pensar o Brasil de hoje, porque é uma peça que faz uma espécie de deslocamento espaço-temporal, lida com diversos tempos e diversos locais e, sobretudo, nos faz pensar um pouco no Brasil de ontem, no Brasil de hoje, no Líbano de ontem, no Líbano de hoje. Quando me refiro ao Brasil de ontem, falo de um Brasil muito mais aberto do que hoje, otimista, voltado à realização de uma utopia de nação. Já o Líbano de ontem, diz respeito a uma espécie de paraíso no Oriente Médio. Beirute era considerada a Paris do Oriente Médio e depois da guerra civil foi praticamente destruída. Hoje em dia, há uma dificuldade enorme para se pensar o futuro do país. A peça trabalha com duas figuras relacionadas, cujas histórias estão intrincadas com estes dois países. É uma mulher libanesa que migra para o Brasil, tem uma família, uma filha. Essa mulher falece e anos depois essa filha vai para o Líbano tentar reconstruir a sua via, insatisfeita com o Brasil. Uma vez lá, tentando se radicar, ela recebe a visita da mãe falecida pedindo para que ela volte ao Brasil, para que ela retorne as suas raízes e não as raízes dela, mãe. A peça trabalha um pouco com essa contradição, nessa contramão de abandonar o Brasil e ser instigada a voltar a ele para tentar colaborar com o seu crescimento, com o seu desenvolvimento, por uma sociedade mais justa e menos desigual. É um pouco esse o eixo temático que o texto tenta aprofundar. Acho que nesse cenário da pandemia, essas questões relacionadas a explosões de ódio no Brasil ficaram muito mais evidentes, muito mais pungentes, o que reforça um pouco esse cenário de incômodo para que essa filha queira deixar o Brasil. Mas deixar o país pode significar abandonar suas raízes e até mesmo o sonho de um futuro melhor. A peça investiga um pouco esse impasse.”

HELENA RANALDI FALA SOBRE QUE OS MORTOS ENTERREM OS SEUS MORTOS

Já Helena Ranaldi nos conta de sua experiência dizendo que recebeu com profunda alegria o convite para participar desta leitura do projeto Palco Virtual. Ranaldi destaca a importância do texto dizendo que: “nesse cenário pandêmico em que há uma mistura de vários sentimentos, dentre eles eu destaco o medo como aquele que pode nos paralisar, o trabalho vem para nos salvar física e emocionalmente falando, principalmente quando se trabalha com arte que é um alimento para a nossa alma. Acredito que o texto Que os mortos enterrem os seus mortos é de extrema importância nos tempos de hoje, porque entre tantas coisas, ele retrata a fraqueza humana, essa inevitável necessidade de nos apropriarmos de nós mesmos diante das adversidades. Ao mesmo tempo fala de um caos global e de como o nosso Brasil encontra-se nesse momento, das dificuldades, e das necessidades de fuga de muitos povos muitas vezes buscando uma nova alternativa de vida em outros países. Enfim, é um texto que fala sobre o humano e é um assunto extremamente necessário de ser retratado”.

Sobre a experiência da arte em ambiente virtual, Helena Ranaldi completa dizendo “acho importantíssimo termos essa ferramenta virtual para darmos continuidade às produções artísticas. Claro que exige uma adaptação e um aprendizado, mas sem dúvida é uma das saídas que temos para continuarmos produzindo arte. Eu, nesse momento, além desse trabalho, estou também ensaiando uma peça virtualmente. Estou passando por um processo de aprendizado e descobertas e muito feliz por ter essa possibilidade”.

PARA ACOMPANHAR A PROGRAMAÇÃO DO ITAÚ CULTURAL

A apresentação da leitura dramática de “Que os mortos enterrem os seus mortos”, com Helena Ranaldi e Maria Fernanda Cândido, acontece via plataforma Zoom e os ingressos podem ser adquiridos gratuitamente pelo Sympla. Fique atento também às outras programações do Palco Virtual. 

Ciclos de Leituras – Palco Virtual

7 de setembro (segunda-feira), às 20h

Que os Mortos Enterrem os Seus Mortos

Duração: 60 minutos (leitura seguida de bate-papo)

Classificação indicativa: 14 anos

Local: via plataforma Sympla/Zoom

Capacidade 270 lugares

Evento acessível em libras

Gratuito

Ficha Técnica:

Texto: Samir Yazbek

Direção: Marcelo Lazzaratto

Elenco: Helena Ranaldi e Maria Fernanda Cândido

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