O novo álbum PORTAS reúne novamente o produtor Arto Lindsay com a cantora e compositora carioca
Por tOn Miranda
“Calma, que eu já tô pensando no futuro…” proclama Marisa Monte no primeiro verso da música que gira a maçaneta do álbum PORTAS que inaugura a nova era musical de Marisa, cujo o último álbum solo de inéditas foi há 10 anos atrás com o álbum “O Que Você Quer Saber De Verdade”. Ao falar do futuro, Marisa recorre ao seu passado de glória ao se reencontrar com o cantor, guitarrista, compositor e produtor musical, o americano Arto Lindsay, que assina a coprodução do disco com Marisa e que está presente em toda era Cor de Rosa da Dona da Voz retratada em sua discografia: Mais (1991), Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (1994), Barulhinho Bom – Uma Viagem Musical (1996), Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000) e Memórias Ao Vivo (2001).
A parceria entre Marisa e Arto sempre rendeu frutos suculentos, saborosos e ainda um olhar moderno cheio de ressignificação ao nosso passado perolado. Confesso que a notícia desse ajuntamento dessa dupla, encheu de esperança para a sonoridade que trará o novo álbum.
Aliás, esperança é o tema central que a música composta em parceria com Chico Brown (filho do seu amigo, compadre e parceiro Carlinhos Brown e neto do grande Chico Buarque e Marieta Severo) versa e como diria o filósofo, escritor e professor Mário Sérgio Cortella, que toda vez que fala de esperança cita o mestre Paulo Freire que dizia, não se trata daquela esperança do verbo esperar, mas a esperança do verbo esperançar, que significa não se conformar, que Marisa canta, diante de um Brasil com cenário e rastro catastróficos que a pandemia vem deixando no país desde março de 2020, quando tudo parou e constatamos o quão penoso seria para nós sermos brasileiros, vivendo no Brasil em 2021.
Marisa e Chico Brown jogam luz e apontam essa esperança quando versam que “Eu não tenho medo do escuro, sei que logo vem a alvorada. Deixa a luz do sol bater na estrada, ilumina o asfalto negro” evocando o mais puro soul brasileiro metalizado dos mestres Tim Maia, Cassiano mesclados a Jorge Benjor, reverenciados desde sempre por Marisa ao longo da sua carreira e formação do seu repertório poético-político musical.
Não se alienar diante de tudo isso que estamos vivendo é imprescindível para a nossa resistência diante desse caos, mas encher-se de esperança (essa do verbo esperançar), é fundamental para a nossa existência, por isso seguir o conselho de Caetano Veloso em “deixa eu cantar, que é pro mundo ficar odara, pra ficar tudo joia rara”, se faz tão necessário e a canção Calma entrega esse equilíbrio.
A canção ainda ganhou um lindo videoclipe com direção de arte de Batman Zavareze (junto com Marisa desde a turnê de Verdade Uma Ilusão – 2012/2013) e de vídeo de Márcio Zavareze, Fred Alves, Elisa Mendes e Vic Oliveira com uma fusão de imagens arborizadas das ruas do Rio de Janeiro e as imagens internas dos estúdios onde o disco foi gravado.
A plena forma da voz sereiada de Marisa Monte conduz com maestria a balada pop que ainda pede “ Não faz assim, não diga que não gosta de mim, não diga que não vai me notar, no pé do bar em qualquer lugar. Não venha me dizer que não dá, não quero ver você se perder, não diga que não vai me mudar, não diga que é difícil demais. ”
O álbum PORTAS, que chega às plataformas digitais no próximo dia 1º de julho, no dia do aniversário de Marisa Monte, ainda traz a clássica curadoria de artes visuais que Marisa adora expor em suas obras, mesclando a música com outras áreas de expressões artísticas que ajudam a contar e conceituar a mensagem que a artista quer comunicar ao público. A artista escolhida dessa vez foi a carioca Marcela Cantuária cuja a obra vem chamando atenção por abordar temas espinhosos e cores vibrantes, colocando suas convicções políticas em primeiro plano. Suas pinturas mesclam imagens históricas oriundas do universo da política com símbolos da cultura visual contemporânea. Parte das suas criações pictóricas surgem da sua pesquisa sobre as lutas travadas por mulheres ao redor do mundo. Cantuária desenvolveu uma série PORTAS que é o porto de partida do álbum visual de Marisa e que nesse início de divulgação, alguns fragmentos dessa obra já podem ser contemplados no material de divulgação do single, como sua capa e também na comunicação visual presente nas redes sociais oficiais de Marisa Monte com a direção de arte do Batman Zavareze.
Na ficha técnica da arte visual do álbum, ainda há a curiosa presença de Mano Bernardes, o filho primogênito de Marisa, que assina a chancela dos “manuscritos”. Ele é um exímio jovem artista que nas suas redes se auto intitula “artista digital/tradicional” onde ele apresenta desenhos, donos de um traço firme de um olhar minucioso.
Calma já está disponível em todas as plataformas digitais de áudio streaming e o videoclipe também já pode ser conferido no canal oficial do YouTube de Marisa Monte.