Minas Gerais 21/9/2021 –
Pesquisa recente mostrou aumento na busca de alimentos naturais pelos brasileiros. Tendência ainda em evolução pode ser potencializada pela disseminação de informações de qualidade sobre o tema. É a opinião da Gastróloga Débora Campos
Dentre as diversas mudanças nos hábitos dos brasileiros, observadas a partir do advento da pandemia de Covid-19, com as primeiras medidas tomadas ainda em fevereiro do ano passado, como o distanciamento social, pode-se observar uma tendência de busca por melhores hábitos alimentares. Para ilustrar isto, o estudo NutriNet, que será realizado durante 10 anos pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, apresentou dados preliminares sobre a alimentação dos brasileiros durante o último ano.
O estudo verificou aumento no consumo de frutas, hortaliças e leguminosas entre pessoas de maior escolaridade e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, principalmente. Os pesquisadores apontaram o maior tempo de permanência em seus lares, bem como a preocupação com a imunidade como fatores para explicar o aumento no consumo de alimentos saudáveis. Vale ressaltar que brasileiros com maior vulnerabilidade financeira e menor escolaridade ainda mantêm alto índice de consumo de alimentos prejudiciais à saúde, como os ultraprocessados.
A pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública da USP, Kamila Tiemann Gabe, afirmou recentemente em entrevista, com base em dados do IBGE e da Organis (Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável), que o consumo de alimentos orgânicos vem crescendo no país, mas pode esbarrar nos altos preços: “Apesar de existir interesse da população, no Brasil o alimento orgânico é ainda pouco acessível”.
Kamila afirmou, ainda, que doenças como a obesidade estão diretamente relacionadas ao consumo de ultraprocessados e explica que o processo de fabricação desses alimentos pode provocar o consumo desenfreado: “São feitos para serem consumidos em excesso porque são hiperpalatáveis. Eles estimulam o comer compulsivo”, disse. Gabe lembrou que esses alimentos também prejudicam a ingestão de “compostos bioativos”, que são importantes para o funcionamento do organismo.
Informação para alimentação consciente
Corroborando a tendência de mais pessoas cozinharem e mesmo aprenderem receitas em casa, ano passado o fenômeno “pãodemia” foi identificado nas redes sociais. Basicamente, muitas pessoas buscaram técnicas de fabricação da milenar receita como alternativa saudável e, por que não, divertida em meio ao estressante isolamento. Em julho de 2020, o Instagram registrava mais de 4 mil publicações com a hashtag “#pãodemia”.
No YouTube, maior site de vídeos do mundo, com cerca de 105 milhões de usuários mensais, segundo números publicados pela própria plataforma, há conteúdos dos mais diversos e pode-se encontrar vídeos de entretenimento, análise de produtos, curiosidades, vlogs pessoais e, é claro, canais de culinária. Gastrólogos, cozinheiros amadores e chefs, como Paola Carosella, Rita Lobo, entre muitos outros, ensinam receitas e dicas para elaborar pratos refinados ou mesmo do dia a dia. A plataforma faz tanto sucesso que até realities da TV aberta, como o Masterchef, têm edições publicadas na íntegra em canal no site.
Dentro desta gama de conteúdos gastronômicos, há quem se dedique especificamente à propagação de informação e receitas saudáveis, baseadas em alimentos naturais e orgânicos. É o caso de Débora Campos, publicitária e gastróloga, que comanda o projeto Viverdequê. Ela fala sobre o tema: “A alimentação saudável pode contribuir com uma rotina mais equilibrada, principalmente nesses tempos pandêmicos. Cozinhar seus alimentos, além de terapêutico, traz uma consciência maior em relação à forma e ao que se consome”, afirma.
Débora Campos comenta, ainda, um dos fatores que considera mais importantes na divulgação de cardápios, receitas e alimentação saudável: “Vemos na pesquisa da NutriNet, por exemplo, que pessoas com maior escolaridade são as que mais buscam a alimentação mais equilibrada. É importante democratizar conteúdos que agreguem à dieta das pessoas de maior vulnerabilidade, pois o consumo de alimentos de baixa qualidade nutritiva afetará, além do bolso, a saúde dessas pessoas a longo prazo”, finaliza.
O curso ministrado pela gastróloga já formou mais de 420 pessoas gratuitamente através de bolsa, visando à democratização dessas informações. No site do projeto Viverdequê é possível encontrar mais informações sobre o curso, que, entre outros temas, oferece preparação de cardápios saudáveis, frescos ou congelados, com técnicas para higienização, armazenamento de alimentos, além de recursos para o aproveitamento integral dos alimentos.
Mais informações podem ser encontradas no Instagram do projeto Viverdequê.