Pandemia de Covid-19: método de hipnose é opção para distúrbios de ansiedade

São Paulo – SP 24/9/2021 –

Considerada uma “prática integrativa e complementar” pelo Ministério da Saúde, hipnoterapia é oferecida pelo SUS desde 2018 e regulamentadas pelos Conselhos Federais de Medicina, Odontologia, Fisioterapia e Psicologia

A deterioração da saúde mental e emocional da população em decorrência da pandemia de Covid-19 tem sido diagnosticada por diversos estudos ao longo dos últimos meses, traduzindo em estatística o que muitos brasileiros relatam desde o início da atual crise sanitária. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsus, divulgada em abril, é um exemplo disso: segundo o relatório realizado sob encomenda do Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam ter sentido uma piora no bem-estar mental no último ano.

Para os diversos transtornos mentais que acometem a sociedade, dentro dos quais a ansiedade e a depressão são dois dos distúrbios mais prevalentes, algumas terapias podem ser realizadas pelo SUS (Sistema Público de Saúde), como as PICS (Práticas Integrativas e Complementares) – definidas pelo Ministério da Saúde como “recursos terapêuticos que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade”.

Em março de 2018, foram incluídas dez novas práticas no sistema de saúde público brasileiro, entre elas a hipnoterapia, cuja aplicação é regulamentada pelos Conselhos Federais de Odontologia, Medicina, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Enfermagem, Fonoaudiologia e Psicologia. A maneira como cada Conselho descreve a prática da hipnose pelos profissionais de saúde é parecida, classificando-a como tratamento complementar.

No campo da medicina, a técnica pode ser utilizada tanto no uso terapêutico em si quanto no auxílio ao diagnóstico de enfermidades. Estudos como o realizado por médicos do Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, em 2008, que revelou que pacientes submetidos a sessões de hipnose têm mais chances de vencer a luta contra o tabagismo; ou de pesquisadores Faculdade de Medicina de Harvard, também nos EUA, que constataram que a técnica torna a realização de biópsia de nódulos de mama menos dolorosa; ou, ainda, de profissionais da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), que verificaram seu efeito como terapia auxiliar contra a dor de cabeça persistente, são exemplos bem-sucedidos do uso da hipnoterapia na Medicina.

A hipnose também pode ser utilizada com sucesso em casos neurológicos, como cefaleias; em problemas digestivos, no tratamento de halitoses, gastrite, dispepsias e obstipações; em doenças respiratórias, como asma e rinites; e em problemas sexuais, no tratamento de quadros de impotência psicológica, diminuição da libido e ejaculação precoce.

Tratamento de ansiedade

A aplicação da hipnose no tratamento de transtornos mentais, sobretudo em casos de distúrbios de ansiedade, no entanto, de acordo com especialistas da área, configura-se como a prática mais recorrente por profissionais da saúde. E, levando-se em consideração que, de acordo com pesquisa recente realizada pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), 80% da população brasileira tornou-se mais ansiosa durante a pandemia, a procura pela hipnoterapia pode crescer.

Para o treinador comportamental e hipnólogo Marcos Mazullo, o fato de a hipnose “permitir baixar a frequência cerebral do paciente, proporcionando nele um relaxamento profundo e permitindo ao hipnólogo acessar a causa de sua ansiedade”, faz com que a prática seja “uma das linhas terapêuticas mais indicadas para o controle dos problemas de ansiedades causadas pela pandemia”. O profissional ressalta, ainda, que a atual crise sanitária também potencializou uma demanda por práticas meditativas, “que em sua estrutura, trata-se de uma forma de hipnose”.

“Muitas pessoas, ao ouvir falar em hipnose, imaginam logo aquela imagem icônica do hipnólogo com um pêndulo na frente das pessoas levando o indivíduo a fazer coisas sem a consciência ou pela própria vontade. Isso não é hipnose, trata-se apenas de uma caricatura do imaginário popular alimentado por alguns hipnotistas que usam parte do conceito para criar show de entretenimento”, pontua Mazullo.

Apesar de regulamentada por diversos conselhos federais, a hipnoterapia não é uma profissão regimentada no Brasil, ou seja, não existem cursos de Graduação Superior em Hipnoterapia autorizados ou mesmo reconhecidos pelo MEC (Ministério da Educação). Há, contudo, uma associação de profissionais da área, a SBH (Sociedade Brasileira de Hipnose), que tem por objetivo principal “a garantia do padrão ético na aplicação da hipnose”. É recomendado, ainda, que o profissional de saúde que almeje exercer a prática realize um curso de especialização na área – a própria SBH oferece tal capacitação.

“A hipnose séria e utilizada por nós hipnoterapeuta tem trazido qualidade de vida para muita gente, ajudando a mitigar essas manifestações emocionais inadequadas provenientes de eventos externos, como é o caso da pandemia”, conclui Mazullo.

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