Com os Bolsos Cheios de Pão, do dramaturgo e jornalista romeno Matei Visniec, estreia no Sesc Pompeia

Com direção de Vinicius Torres Machado e atuações de Edgar Castro e Donizeti Mazonas, o texto do romeno naturalizado francês Matei Visniec retrata dois personagens indignados com um cachorro jogado em um poço, mas sem conseguir tomar nenhuma atitude.

Com os Bolsos Cheios de Pão

Texto do romeno naturalizado francês Matei Visniec, escrito no início dos anos 1980, quando o país ainda vivia sob o governo autoritário, trata da história de dois homens – o Homem de Bengala e o Homem de Chapéu – diante de um poço, onde um cachorro foi jogado por desconhecidos. Eles argumentam, pensam, discordam, mas não tomam nenhuma atitude efetiva. A peça, com direção de Vinicius Torres Machado e atuação de Edgar Castro e Donizeti Mazonas, estreia dia 14 de janeiro, às 20h, no Espaço Cênico do Sesc Pompeia. A temporada segue até o dia 06 de fevereiro.

“O diálogo em torno do poço eternamente amistoso, absurdo, argumentativo, tranquilizador transforma-se em fábula política, social, humana. As falas circundam a ação da mesma forma como os dois personagens circundam o poço. Estes criam diversas possibilidades de ação que constantemente se desfazem sob a pressão da argumentação”, revela o diretor sobre a ação dos personagens.  Em cena, em cima do poço, os dois homens, apesar da indignação que manifestam, não socorrem o animal, emaranhados que estão em embates verbais e disputas personalistas.

Para o diretor, essa situação ficcional de Visniec nos remete ao atual cenário político e social brasileiro. “Confrontados com a miséria, a todo momento nos deparamos com a urgência da ação. É assim que os argumentos absurdos e o mundo às avessas que a peça nos apresenta podem nos ajudar a observar o nosso próprio poço sob a luz do meio-dia. A luz a pino que deixa ver seu fundo, com todos os desafios que a necessária ação exigirá. Precisaremos de uma corda? De uma escada?”, completa o diretor.

Cenário e luz

A montagem também carrega a simplicidade e crueza do texto. Um monolito circular, metálico e de aproximadamente um metro e meio de altura é o poço e o cenário de todo espetáculo, criado por Eliseu Weide. É nesse diminuto espaço que toda a ação se passa. 

A iluminação, criada por Wagner Antonio para a encenação, sugere alguns deslocamentos para o público: no início, vemos apenas os dois personagens em pequenos movimentos; no desenrolar da peça, a iluminação revela uma surpresa e a situação limite dos personagens.

Sobre a peça e o autor

A peça nasceu de uma história real. No começo dos anos 1980, o autor era professor de história em uma pequena vila rural, a 25 quilômetros de Bucareste. Para ir à escola, costumava pegar ônibus, metrô e trem. Nos últimos cinco quilômetros, ainda fazia o percurso de bicicleta. 

Um dia, passando pelo poço abandonado da vila, ficou chocado ao descobrir um cachorro vivo. Ele latiu pedindo ajuda, mas, com pressa, só teve tempo de ver que era branco. “Continuei no caminho para a escola, mas senti uma culpa terrível o dia inteiro”, escreveu o autor. À noite, soube que o cachorro havia sido salvo. “De repente, tive a revelação do escopo metafórico dessa peça: esse cachorro, era eu, esse cachorro, era todo o povo romeno trancado na ditadura a pedir inutilmente ajuda.” A peça foi escrita de uma só vez, a partir desse episódio e esse sentimento. 

Matei Visniec nasceu na Romênia em 1956. Formou-se em história e filosofia e publicou seus primeiros textos de poesia em 1972. Em 1987, pediu asilo político na Franca, onde vive desde então. Entre sua produção, podemos citar: O último Godot, A segunda tília à esquerda, A aranha na praia, Cuidado com as velhas senhoras corroídas pela solidão, Como eu poderia ser pássaro?, Paparazzi ou a crônica de um nascer-do-sol abortado, A mulher como campo de batalha, entre outros. 

Vinícius Torres Machado 

Diretor e professor no Instituto de Artes da UNESP. Autor do livro A máscara no teatro moderno: do avesso da tradição à contemporaneidade, Editora Unesp. É Doutor em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com estágio supervisionado na Gent University – Bélgica. Iniciou seus trabalhos  como ator em 1996 e em 2001 também passou a assinar como diretor e dramaturgo dos seus projetos. Entre seus principais trabalhos dirigiu Revoltar: memórias de ilhas e revoluções com a Cia Livre. Dirigiu e escreveu Aporia, na Escola Livre de Teatro de Santo André; dirigiu Saudade, com o grupo belga “Das Marionette”; dirigiu e escreveu Anônimo, com o grupo Peleja – BA; dirigiu a ópera Romeo et Juliette, de Charles Gounod, no Theatro São Pedro de São Paulo; dirigiu e escreveu o espetáculo A Porta, com a Cia. Troada.

Donizete Mazonas 

Ator, dançarino e diretor. Formado em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), atua na cidade de São Paulo desde 1995. Integrou o Centro de Pesquisa Teatral – CPT – coordenado por Antunes Filho de 1998 a 2002. Em 2003 fundou a Companhia da Mentira, onde atua como ator e diretor. Participou do Núcleo de Improvisação, dirigido por Zélia Monteiro, de 2006 a 2013. Juntamente com Wellington Duarte criou o Núcleo Entretanto, em 2007, onde desenvolvem uma pesquisa voltada para dança-teatro-performance. Entre os principais trabalhos estão: Revoltar, Memórias de Ilhas e Revoluções (2017), Floema (2016), Uma Noite sem o Aspirador de Pó (2015), Um Bonde Chamado Desejo (2015), Pais e Filhos (2012), Music-Hall (2009).

Edgar Castro 

Ator, Diretor e Formador Teatral, cursou História na Universidade Federal do Pará (1983). Desde 1995 radicado em São Paulo, trabalhou com diretores como Antunes Filho, Roberto Lage e Samir Yazbeck. Integrante de importantes coletivos como Cia do Latão, Cia Livre, Cia São Jorge de Variedades, Cia dos Inventivos entre outros. Orientou (2000-2003) a turma de Iniciação da Oficina de Teatro do TUSP. Lecionou na ELT/Escola Livre de Teatro de Santo André de 1999 a 2011 e foi coordenador da mesma instituição de 2007 a 2009.  Coordenou o Núcleo de Pedagogia Teatral da ELT nos anos 2010 e 2011. Coordenou a Área de Teatro do CLAC/Centro Livre de Artes Cênicas, em São Bernardo do Campo (2012/2013). Foi Coordenador Geral da X Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo. Membro do Conselho Administrativo da Cooperativa Paulista de Teatro.

FICHA TÉCNICA 

Texto: Matei Visniec 

Tradução: Fábio Fonseca de Melo 

Direção: Vinicius Torres Machado 

Elenco: Edgar Castro e Donizeti Mazonas 

Trilha Sonora: Pedro Canales 

Cenário e Figurinos: Eliseu Weide 

Iluminação: Wagner Antonio 

Assistente de Direção: Rafael Costa e Jessica Mancini

Produção Executiva: Jota Rafaelli MoviCena Produções 

Serviço

Com os Bolsos Cheios de Pão

De 14 de janeiro a 06 de fevereiro de 2022*

Sexta e sábado, às 20h; domingo, às 18h30

*Sessão com tradução em Libras no dia 29/01, sábado.

Local: Espaço Cênico Sesc Pompeia
Ingressos: R$ 30,00 (inteira); R$ 15,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes; meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência).  
Classificação indicativa: 14 anos.

Capacidade: 30 lugares
Duração: 70 minutos
Ingressos limitados

Bilheteria*: 

Terça a sexta, das 10h às 21h30. 

Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30. 

Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30. 

*Venda online a partir de 11 de janeiro, terça-feira, às 14h.

Venda presencial nas unidades do Sesc SP a partir de 12 de janeiro, quarta-feira, às 17h.

É necessário apresentar comprovante de vacinação contra COVID-19 das duas doses, a partir de 12 anos, e documento com foto para ingressar nas unidades do Sesc no Estado de São Paulo. 

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