Com trinta atores em cena “TERREMOTOS” estreia dia 5 de março em um dos palcos mais tradicionais da cidade, o Teatro SESI-SP. Com Bruna Guerin, Paloma Bernardi e Virgínia Cavendish à frente do elenco.
O Sesi-SP estreia sua temporada de produções inéditas 2022, com Terremotos (“Earthquakes in London”, no original), épico contemporâneo de um dos dramaturgos mais cultuados do momento, o inglês Mike Bartlett, cujos textosinvestigam o caos da modernidade e as relações humanas, com diálogos repletos de ironia, crítica social e humor ácido. A encenação é de Marco Antônio Pâmio, diretor com atuação expressiva no cenário teatral brasileiro. Estreia dia 5 de março, sábado, para público e tem pré-estreia para convidados no dia 3, quinta.
Para realizar a reserva gratuita de ingressos, é só acessar o Meu Sesi (www.sesisp.org.br/eventos). Os protocolos de segurança contra a covid-19 estão sendo respeitados. Além de medição de temperatura, há dispensers para álcool em gel e é obrigatório o uso de máscara. O certificado de vacinação contra a covid-19 é obrigatório para a entrada no Centro Cultural Fiesp (CCF). Todas as pessoas a partir de 12 anos devem mostrar o comprovante com as doses atualizadas e um documento oficial de identidade com foto.
Com uma estrutura que lembra óperas e musicais, 30 atores estão no palco, entre eles as protagonistas Bruna Guerin (Yasmin), Paloma Bernardi (Maya) e Virgínia Cavendish (Sara), irmãs na saga familiar construída por Bartlett. Luiz Guilherme, Fernando Pavão e Giovani Tozi interpretam, respectivamente, Rubens Kramer (o pai), Claudio (marido de Sara) e Estevão (marido de Maya). O elenco conta também com nomes expoentes do cenário teatral paulista, como Regina Maria Remencius, Felipe Ramos, Lara Hassum, e os recém-premiados Martha Meola e Iuri Saraiva, em uma trama cheia de cenas em planos simultâneos, que se entrelaçam e se sobrepõem em ritmo ágil e intenso.
O espetáculo tem coreografia e direção de movimento de Marco Aurélio Nunes (que assina a tradução e a adaptação com Pâmio), cenografia de Duda Arruk, figurino de Fábio Namatame, design de som de Gregory Slivar, design de luz de Wagner Antônio e videografismo e mapping de André Grynwask e Pri Argoud.
Na adaptação, optou-se apenas pelo título Terremotos, não localizando as ações em um local especifico, mas tornando possível que elas aconteçam em qualquer metrópole no mundo. Idealizado por Pâmio em parceria com o ator e produtor Giovani Tozi, que apresentou o projeto ao Sesi e assumiu a frente da produção, o espetáculo estrearia em 2020, mas como todas as demais produções teatrais, sofreu os impactos da pandemia. A dramaturgia – genial – de Bartlett conta a história de três irmãs, costuradas como retalhos de uma grande colcha que alerta para um assunto urgente: o colapso ambiental. Terremotos apresenta quatro histórias simultâneas: as de três irmãs e a de seu pai, um cientista brilhante que despontou no meio acadêmico no final dos anos 60 por causa de uma descoberta importantíssima, que iria afetar a vida de todo o planeta num futuro próximo. A peça destaca a saga individual de uma mulher grávida em crise sobre o destino de seu bebê neste mundo caótico e hostil. Um grandioso espetáculo poético e apocalíptico sobre a forma inescrupulosa que o ser humano vem agindo com o planeta. Entre os temas abordados estão, ainda, emissão desenfreada de carbono na atmosfera e corrupção.
Estreia em Londres e encontro com autor em São Paulo
A relação de Marco Antônio Pâmio com o texto é banhada em uma série de coincidências, “ou não”, como deixa em aberto o diretor, que não imaginava o tamanho do desafio que enfrentaria 12 anos depois de ter assistido à estreia de “Earthquakes in London” em 4 de agosto de 2010, no National Theatre, em Londres, quando representava o Brasil num simpósio internacional sobre Shakespeare no Globe Theatre. Pâmio deixou-se arrebatar pela saga épica contemporânea encenada de forma absolutamente não convencional. “Fiquei maravilhado com o que vi. Tanto no que dizia respeito à temática principal, que girava em torno das mudanças climáticas e suas implicações nas relações humanas, quanto à linguagem do espetáculo, que trazia planos narrativos simultâneos através de cenas curtas, ágeis, em ritmo quase cinematográfico.”
Como é de praxe no teatro londrino, o texto da peça já estava à venda e o diretor trouxe uma cópia na bagagem de volta. “Sem ainda nenhuma intenção de montá-la por aqui, principalmente por conta do elenco numeroso e questões técnicas complicadíssimas que a produção exigiria.” Pâmio também não tinha ideia de que conheceria pessoalmente o autor, um ano depois, no próprio Teatro Sesi-SP, quando fazia um espetáculo como ator e Bartlett estava numa sala anexa ao teatro principal num encontro com dramaturgos. Pâmio não hesitou em ir cumprimentá-lo, dizendo o quanto ficara apaixonado pelo seu texto.
Tudo ficaria por isso mesmo para o diretor, que não acredita em coincidências. “Como era nítida a inviabilidade de se montar uma obra daquele porte por aqui, a peça ficou engavetada até 2019, quando as questões climáticas globais começaram a ganhar cada vez mais o foco das atenções do mundo todo, em várias vertentes.” Até que o SESI abriu um edital para projetos inéditos de montagem e Pâmio pensou que aquele palco poderia abrigar uma possível encenação da peça. Na época apresentou o texto ao ator Giovani Tozi, com quem trabalhara em duas montagens anteriores, dirigidas por Jô Soares (uma delas no próprio SESI).
“Já conhecia a dramaturgia de Bartlett através dos espetáculos ‘Love Love Love’ e ‘Contrações’, montados com maestria pelo Grupo 3 de teatro. Me surpreendi com Terremotos, pois, apesar de ser muito diferente na grandiosidade que ele exige, ainda assim carrega em si a estrutura, os diálogos e os conflitos familiares, tão presentes no teatro do dramaturgo”, comenta Tozi.
O palco do SESI
O ator e produtor Giovani Tozi tem uma ligação forte com o SESI, e lembra: “Quando cheguei do interior para iniciar minha trajetória no teatro em São Paulo, soube do processo de seleção para o Núcleo Experimental de Artes Cênicas SESI-SP, participei e passei, numa experiência que foi definitiva na minha formação. Tive o privilégio de integrar o elenco de quatro montagens nesse espaço cultural que é único no Brasil. Neste quinto trabalho, atuando e produzindo este espetáculo com 30 atores (além de uma equipe criativa formidável) me sinto absolutamente realizado.” Tozi conta da realização de um workshop para compor o elenco da encenação. “O nível técnico dos atores que estiveram conosco, de estudantes a veteranos, foi impressionante. Isso acabou impactando a formação deste grupo de 30 profissionais, que se movimentam e contam essa história tão atual. Um desafio e tanto.”
Ritmo frenético na encenação e desafio
Marco Antônio Pâmio monta a história num ritmo frenético. No espetáculo, as características estruturais da obra de Bartlett são percebidas imediatamente: a atualidade do discurso, os conflitos humanos e o inconfundível humor diante do caos. O diretor diz que sua encenação passa longe da montagem londrina, que acontecia num palco não convencional e colocava espectadores e atores amalgamados num mesmo espaço. “Como aqui estamos num palco italiano, as várias narrativas paralelas da peça precisaram dividir o espaço através de convenções cenográficas bastante simples, para que o espectador não se perca diante de tanta informação ao mesmo tempo.”
Na rubrica inicial do texto, o autor pede excesso, em todos os sentidos. “Preferi abusar do número de atores em cena (30 no total) e de muitas cenas coreografadas ao longo da narrativa, já que uma das personagens tem momentos de delírio e alucinação em sua jornada na peça. E muitos desses momentos são representados justamente por esses números dançados”, comenta. O encenador observa que Mike Bartlett não se poupa de lançar um desafio atrás de outro nas rubricas. “Sugere cortes abruptos de um espaço a outro, além de idas e vindas no tempo, já que a peça se passa principalmente no tempo presente, mas ‘viaja’ ao passado através de flashbacks e dá um grande salto para o futuro a caminho de sua conclusão. Dá para se ter noção do tamanho do desafio.”
Linguagem corporal orgânica
Para Pâmio, a criação que ganhou um protagonismo absoluto na montagem, talvez idêntico ao da própria direção, é a coreografia e direção de movimento do experiente Marco Aurélio Nunes, em um trabalho imprescindível ao lado do diretor. “Já trabalhamos juntos há muito tempo, mas desta vez a coreografia é dramaturgia. As criações dele são de uma beleza e poesia ímpares, que respeitam e ao mesmo tempo reinventam as rubricas do autor. Na prática, ele divide a direção comigo”, revela Pâmio.
Na condução do numeroso elenco, formado em sua grande maioria por não-bailarinos, Nunes se inspirou no método desenvolvido pelo coreógrafo israelense Ohad Naharin para pessoas sem – ou com pouco – contato com a dança. Admirador de Naharin, Marco Aurélio explorou um caminho semelhante, baseado em sua própria experiência, criando assim as coreografias e as transições de cena do espetáculo. Outra referência, em determinadas imagens e dinâmicas, foi o curta-metragem Anima, dirigido por Paul Thomas Anderson. “Optei por uma linguagem corporal extremamente simples e orgânica, movimentos que, supostamente, qualquer um pode fazer. Assim, a ambientação das cenas, os cortes cinematográficos, a simultaneidade das ações dramáticas do nosso espetáculo são permeados por esse grupo, esse ‘organismo’ que se faz e se desfaz, que flui e se interrompe, e que, com muita energia, encarna a alma desta história tão relevante que queremos contar.”
A tradução situou o enredo da peça em uma metrópole qualquer do planeta na tentativa de aproximar mais os conteúdos à nossa realidade e criar empatia com o público. “Demos o melhor que cada um tinha a oferecer e fiquei bastante satisfeito com o resultado, mesmo sabendo que toda tradução é de certa forma uma ‘traição’. Tentamos trair o autor o menos possível, especialmente na formatação do texto, que no caso de Mike Bartlett é uma partitura, quase uma direção de cena”, afirma Nunes.
Figurino, cenário, luz, vídeo mapping
Os figurinos de Fábio Namatame, em processo de criação e desenvolvimento, seguem uma linha mais realista e contemporânea. O cenário de Duda Arruk é formado por quatro grandes cubos metálicos vazados, que também “dançarão” com a coreografia e assumirão vários dos inúmeros ambientes presentes na peça. A luz de Wagner Antônio ainda está em processo de maturação, já que é o último elemento a ser integrado na montagem.
As projeções em video mapping, idealizadas e desenvolvidas por André Grynwask, também criam espaços oníricos, não realistas e metafísicos. O diretor destaca o papel importante da área “nessa extravaganza dramatúrgica”, e garante que nada é aleatório ou enfeite. “São elementos solicitados pelo próprio Bartlett nas rubricas do texto, fundamentais para que o caráter épico da montagem se estabeleça.”
A trilha sonora original de Gregory Slivar é norteada por sugestões de canções do próprio Bartlett nas rubricas do texto, mas seguem um caminho totalmente autoral, que alinha composições musicais originais a efeitos sonoros imprescindíveis para que a atmosfera da peça ganhe força e intensidade.
Um musical, só que não
Terremotos segue exatamente o estilo de “Love Love Love” e “Contrações”nos diálogos rápidos, no ritmo bem marcado. Em Terremotos, Mike diz: “A peça é apresentada fazendo o máximo uso possível de cenários, objetos de cena e figurinos. (…) Tudo é demais. A obra é sobre o excesso, e nós devemos sentir isso.” O curioso é que ele escreveu Terremotos imediatamente depois de “Cock”, que Pâmio fez recentemente como ator e onde ele pedia que não houvesse absolutamente nenhum objeto cenográfico em cena. “Não é à toa que Mike Bartlett é um dos grandes expoentes da dramaturgia contemporânea, não só britânica mas mundial”, conclui Pâmio.
Na definição do encenador, a peça é um grande épico em cinco atos, seguindo praticamente a estrutura de uma obra shakespeareana, só que com linguagem e temáticas absolutamente contemporâneas. “O espetáculo acabou se tornando um ‘musical, só que não’, já que a música e a dança permeiam o espetáculo, mas não há nenhum número cantado nele. Difícil vai ser classificar o gênero desta peça.”
É através da teatralidade, inspirada na tragédia e na comédia dos dias atuais, que Terremotos lança seu alerta. Como o meteoro desacreditado na ficção, ou como a pandemia desprezada com base na negação, o teatro segue resiliente na sua natureza de comunicar. Se algo vai mudar, só o tempo vai dizer, ou a natureza vai tratar de nos lembrar.
Sobre o diretor
MARCO ANTÔNIO PÂMIO é ator, professor e diretor teatral. Estudou no Centro de Pesquisa Teatral (CPT) e no Drama Studio London, Inglaterra. Estreou profissionalmente no papel de Romeu na montagem de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, dirigida por Antunes Filho, trabalho que lhe rendeu o Prêmio APCA 1984 de ator revelação. Sob a direção de Antunes, também atuou em “Macunaíma” e “Nelson 2 Rodrigues”, em temporada de repertório no Teatro Sesc Anchieta e turnês na Europa, Austrália, Estados Unidos e Israel. Destaca-se por sua atuação na cena teatral paulistana, em montagens dirigidas por Jô Soares, Naum Alves de Souza, Elias Andreato, Ron Daniels, Gabriel Villela, Bete Coelho, Zé Henrique de Paula, Sérgio Ferrara, Aderbal Freire-Filho e Nelson Baskerville, entre outros. Recebeu dois outros Prêmios APCA de Teatro: como melhor ator em “Edmond” (2006) e melhor diretor por “Assim É (Se lhe Parece)” (2014). Foi indicado três vezes ao Prêmio Shell: melhor ator em “Um Número” e melhor diretor em “Assim É (Se lhe Parece)” e “Playground”. Outras direções suas incluem “A Profissão da Sra. Warren” (com Clara Carvalho), “Jardim de Inverno” (com Andreia Horta) e “Baixa Terapia” (com Antonio Fagundes e Ilana Kaplan, vencedora do Prêmio Shell de melhor atriz na peça), que completou três anos em cartaz, incluindo turnês nos EUA e Portugal. É professor de teatro na Faculdade de Direito da FAAP e de interpretação e montagem teatral na Escola de Atores Wolf Maya.
Produção original inédita
Importante e expressivo equipamento cultural da Cidade de São Paulo, o Centro Cultural Fiesp é administrado pelo Serviço Social da Indústria e conta com o Teatro do Sesi-SP que estimula a cena teatral há mais de 50 anos, fazendo história como Teatro Popular do Sesi. O espaço iconico da Avenida Paulista, promove uma programação gratuita diversa de artes cênicas e visuais, audiovisual, música, literatura e tecnologia.
O Sesi-SP é um grande fomentador de produções originais, apostando em novas visões artísticas por meio de projetos selecionados anualmente via Edital de Chamamento, assim como com a montagem inédita Terremotos. Já estrearam pela entidade as peças: Cangaceiras – As guerreiras do sertão, de Newton Moreno; Lampião e Lancelote, de Deborah Dubois; Cinema, de Felipe Hirsch; entre outras.
Ficha Técnica
Texto: Mike Bartlett. Tradução e Adaptação: Marco Antônio Pâmio e Marco Aurélio Nunes. Direção: Marco Antônio Pâmio. Elenco (ordem alfabética): Alef Barros, Alexia Lorrana, Angélica Prieto, Beatriz Torres, Bruna Guerin, Davi Tostes, Dimitri Biá, Fábio Brasile, Felipe Calixto, Felipe Ramos, Fernando Pavão, Fernando Vitor, Giovani Tozi, Iuri Saraiva, Lara Hassum, Letícia Calvosa, Luiz Guilherme, Luiz Rodrigues, Luma Gouveia, Martha Meola, Mateus Pigari, Natalia Burger, Nathalia Kwast, Regina Maria Remencius, Sofia Maruci, Paloma Bernardi, Pedro Scalice, Vinícius Oliveira, Virginia Cavendish e William Alves. Coreografia e Direção de Movimento: Marco Aurélio Nunes. Assistente de Direção: Rodrigo Chueri. Assistente de Coreografia: Olívia Branco. Videografismo e Mapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo). Cenografia: Duda Arruk. Figurino: Fábio Namatame. Design de Som: Gregory Slivar. Design de Luz: Wagner Antônio. Direção de Produção: Selene Marinho. Administração Financeira: Carlos Gustavo Poggio . Assessoria Jurídica: Martha Macruz. Assessoria de Imprensa: M. Fernanda Teixeira/Arteplural. Assistente de Produção: Marcela Horta. Idealização: Marco Antônio Pâmio e Giovani Tozi. Produção: Tozi Produções. Realização: SESI SP.
Temas: Colapso ambiental, emissão desenfreada de carbono na atmosfera, corrupção, relações familiares.
SERVIÇO:
Terremotos – Teatro do SESI-SP. Avenida Paulista, 1313. Temporada: de 05 de março de 2022 até 12 de junho de 2022. Quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 19h. Classificação: para maiores de 12 anos. Reservas gratuitas pelo Meu Sesi (www.sesisp.org.br/eventos)