Por tOn Miranda
Quando você é apresentado para o ator, diretor e produtor Davi Guimarães, basta você ter um pouquinho de sensibilidade que você já consegue ler o seu livro da vida e entender o olhar apaixonado que ele lança por conta da arte que ele produz e que ele transmite. Nosso primeiro encontro na Arte foi marcado por esse sentimento que pulsa tão forte dele. Não é à toa que sua entrega no palco é sempre uma entrega visceral e te convida a mergulhar para a ambiência da história que ele coletivamente está contando com seus parceiros, afetos e atores da Cia. de Teatro Heliópolis.
Atualmente, esse curioso ator está em cartaz com o espetáculo CÁRCERE OU PORQUE AS MULHERES VIRAM BÚFALOS, vencedora de dois prêmios Shell e um APCA, que a incrível dramaturga Dione Carlos escreveu especialmente para a Cia de Teatro Heliópolis para celebrar os 20 anos de trabalhos ininterruptos, com a direção magistral de Miguel Rocha. A jornada que Davi Guimarães vem traçando nas artes cênicas ela passeia pela produção publicitária, sua primeira formação, e também pelo ato coletivo de construir essa arte em grupo, como foi sua presença em 2011 na Cia Teatro do Incêndio, em 2013 na Cia. Pessoal do Faroeste e em tantos outros trabalhos do universo teatral e teatro musical.
Dono de uma garra artística que ajuda a inspirar os colegas que trabalham com ele e também o público que tem a oportunidade de entrar em contato com sua arte, ele tem feito dos palcos não só a sua casa, como seu lugar de expressar os temas que lhe são preciosos perante a sociedade e que ele quer discutir e tocar as pessoas.
Davi entre uma cerimônia e outra de merecidas premiações e ainda em meio a apresentações do espetáculo acima citado em um dos mais importantes festivais de teatro do Brasil, o Festival de Teatro de Curitiba 2023, ele encontrou um tempinho para conversar conosco e responder nossa coluna PERFIL. Que vocês possam se deliciar com esse premiado ator, diretor e produtor DAVI GUIMARÃES:
tOn Miranda: Qual a lembrança marcante você tem da sua infância?
Davi Guimarães: Na infância tenho lembranças sempre relacionadas a família. Uma das que mais tenho afeto é a primeira vez que eu e meu irmão, que tem síndrome de down, fomos a praia com meu pai. Ele segurou um montinho de areia molhada na mão… nunca tinha visto e foi mágico para ele e para mim ver aquela cena. A imensidão do mar me chamou muito a atenção.
tOn: O que te levou a se envolver com a área artística?
DG: Eu comecei fazendo teatro na escola (EE Visconde de Itaúna) com pouco mais de 14 anos. Eu tinha poucas referências sobre teatro e interpretação fora das novelas e filmes, mas sempre gostei muito de ler e ouvir música. Meu pai ouvia Chico Buarque, Ivan Lins, samba bom… eu sempre gostei muito de falar também (risos). E a minha professora de português na época me incentivava a ler poesias e inclusive para a sala. Quando entrei no projeto de teatro que a diretora da época articulou, eu não parei mais. Depois de lá cursei o Teatro Vocacional, cursos livres e fui fazendo parte de companhias de teatro na cidade de São Paulo.
tOn: Quem é uma inspiração para você?
DG: Minha mãe, pela coragem e integridade de cuidar de três filhos sem a presença dos pais em casa. E também meus parceiros e parceiras de trabalho que estamos juntos há anos e isso inclui um especial que é Alexandre Mate pelo seu caráter e afeto únicos!
tOn: Qual o hábito mais chato das pessoas?
DG: Querer ser melhores que as outras em tudo! Me dá preguiça gente que insiste em querer se achar melhor em qualquer situação.
tOn: O que você vê como seus pontos fortes?
DG: Lealdade, persistência e atenção.
tOn: Qual o mais distante você já esteve de casa?
DG: O mais distante foi na costa do Uruguai. Vi o céu estrelado me cobrindo por inteiro na areia da praia de Cabo Polônio a noite.
tOn: Cite dois ou três pratos que remetem a sua infância e que eram especialmente memoráveis?
DG: Cuscuz (do Nordeste mesmo, cresci comendo) e Pavê da minha mãe! Era o acontecimento do fim do ano!
tOn: Em que momento decidiu fazer do seu talento uma profissão?
DG: Quando eu percebi que não conseguia mais fazer outra coisa além de estar em cena. Quando terminei a faculdade de produção publicitária estava muito dividido em oportunidades na área, mas que batiam com os horários de ensaios que tinha na época. Optei por não seguir por ali e dedicar meu tempo e energia ao que realmente importava. Com o passar dos anos tomei a responsabilidade para mim de construir possibilidades ao invés de esperar por elas. Foi uma questão de sobrevivência mesmo pois as contas e a barriga não esperam a hora certa.
tOn: Qual artista faz a trilha sonora da sua vida?
DG: Tenho alguns artistas na verdade… Racionais, Charlie Brown, Legião Urbana, Ney Matogrosso, Maria Bethânia e Chico Buarque são os que mais me carregaram durante esses anos.
tOn: Quem são os seus melhores amigos?
DG: Meus melhores amigos são os que permaneceram de escola: Bruno César de Marchi e Amaury Leal. E meus primos Bruno e Rafael Carvalho que foram a vida toda mais irmãos que primos. Hoje tenho Juliana (minha noiva) que me faz entender a vida de uma forma única! Minha amiga de todos os dias…
tOn: Qual canal de TV não existe, mas deveria?
DG: Manchete! Eu assistia todos os desenhos!
tOn: Quem são os seus heróis?
DG: Hoje minha heroína é minha mãe! Pela força absurda em seguir em frente em meio a todas as adversidades. Tenho também máximo respeito e admiração aos que lutaram para que as gerações seguintes pudessem viver num país democrático.
tOn: Onde você gostaria ir de férias e nunca foi?
DG: Gostaria de ir para Itália, Tailândia ou Cuba… qualquer um desses ficaria feliz!
tOn: Qual foi a última coisa que você conseguiu de graça?
DG: Comida! Tudo delicioso no festival que fomos (risos). Divino!
tOn: Qual filme merece uma sequência?
DG: Todos os meus filmes preferidos eu não gostaria que tivessem sequência porque são preciosidades que não gostaria de me decepcionar com uma sequência ruim. Perfume de mulher 2 seria um erro! Assim como O Iluminado.
tOn: Se você pudesse se encontrar com qualquer pessoa no mundo, quem seria e por que?
DG: Queria encontrar com Dimitris Papaioannou para aprender com o processo criativo dele. Acho o trabalho de criação de imagens no palco dele incrível! Queria conhecer o Matheus Nachtergaele também pelo ator incrível que ele é.
tOn: O que você ensinaria a você mesmo quando criança?
DG: Ensinaria a ser mais corajoso em tomar decisões. Que o mundo vai além do que os olhos podem ver e que nada é impossível de se realizar.
tOn: Se você fosse um herói, qual seria o seu super poder e por que?
DG: Poder da cura para poder ajudar o máximo de pessoas possível.
tOn: Pelo o que você gostaria de ser lembrado?
DG: Pelo meu trabalho e pelas experiências que ofereci dentro e fora da cena.
tOn: Qual a pergunta mais chata que fazem a você?
DG: Você é ator mas trabalha no que?
tOn: Uma cor…
DG: Azul marinho
tOn: Uma música…
DG: Primeiros Erros
tOn: Um lugar…
DG: Praia
tOn: Um livro..
DG: O próximo que irei ler
tOn: Dia ou Noite?
DG: Noite
tOn: Doce ou Salgado?
DG: Salgado
tOn: Um prazer…
DG: Estar em cena
tOn: Uma saudade…
DG: Tempo de escola