Pequeno Monstro: Silvero Pereira encerra temporada com solo impactante sobre infâncias LGBTQIA+

Última semana para assistir ao espetáculo que marca o retorno do ator aos palcos, abordando temas como homofobia e superação

Por tOn Miranda

“Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída, mas saí ferido, sufocando meu gemido, fui o alvo perfeito muitas vezes no peito atingido..” é com estes versos de Erasmo e Roberto Carlos eternizado na voz de Maria Bethânia que convoco você para que se presenteie indo até ao Itaú Cultural na última semana de temporada de Pequeno Monstro, que se despede dos palcos paulistanos com a força transformadora que só Silvero Pereira poderia proporcionar. Em uma atuação visceral, o ator nos conduz por uma dramaturgia que mergulha nas profundezas das violências reais e simbólicas enfrentadas por pessoas LGBTQIA+. Em um ato absoluto de coragem e catarse, este solo, inspirado em memórias pessoais e histórias coletivas, nos oferece uma reflexão urgente sobre a infância, o amor e a superação em uma sociedade marcada por preconceitos.

Crescer como uma criança LGBTQIA+ em uma sociedade machista e patriarcal, como a brasileira, é enfrentar uma série de desafios que vão além das dificuldades normais da infância. Desde cedo, essas crianças são frequentemente alvo de bullying e violência, tanto física quanto simbólica, por não se encaixarem nas normas rígidas de gênero e sexualidade impostas pela cultura dominante. Essa discriminação se manifesta nas escolas, nas comunidades e até mesmo dentro das próprias famílias, onde muitas vezes falta acolhimento e compreensão, resultando em um ambiente hostil e opressor.

Essas experiências de exclusão e violência têm um impacto profundo no desenvolvimento emocional e psicológico dessas crianças. A falta de apoio e aceitação pode gerar traumas duradouros, como baixa autoestima, depressão e ansiedade, além de sentimentos de vergonha e medo constantes. Em um cenário onde o machismo estrutural e a homofobia são práticas normalizadas, as crianças LGBTQIA+ se veem obrigadas a esconder suas verdadeiras identidades ou a viver em constante vigilância para evitar de serem vítimas de agressões e preconceitos.

Além disso, o ambiente familiar e social, muitas vezes impregnado por valores patriarcais, reforça estereótipos de masculinidade e feminilidade que excluem qualquer forma de expressão de gênero que fuja ao padrão heteronormativo. A imposição dessas expectativas rígidas não só limita as possibilidades de crescimento pessoal e autoconhecimento dessas crianças, como também perpetua um ciclo de violência e marginalização. A infância, que deveria ser um período de descoberta e liberdade, se transforma em um campo minado, onde o medo de ser quem se é resulta em uma batalha diária pela sobrevivência emocional e física.

A genialidade artística de Pereira é manifesta na sua utilização do teatro como uma forma de denúncia e reflexão, expondo as realidades cruéis de uma infância onde a exclusão, o medo e a violência são companheiros constantes. Pequeno Monstro não só coloca essas questões em evidência, como também busca caminhos de superação e resiliência, transformando a dor em uma potente ferramenta de resistência e arte.

É necessário o Brasil celebrar a existência e coexistência de Silvero Pereira que retorna triunfalmente ao teatro após 12 anos dedicados a outros projetos, provando mais uma vez sua maestria como artista múltiplo. Sob a direção sensível de Andreia Pires, Pequeno Monstro se torna mais do que uma peça; é uma experiência estética e emocional única que já se consolidou como um marco na cena teatral brasileira. Para aqueles que ainda não vivenciaram esta obra potente e necessária, esta é a última chance de se deixar tocar por um espetáculo que é, ao mesmo tempo, denúncia e celebração.

Não perca a oportunidade de assistir a Pequeno Monstro, uma jornada de reflexão e empatia, que nos lembra da importância da resistência e da transformação social.

“Animal ferido, por instinto decidido os meus rastros desfiz tentativa infeliz de esquecer. Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram a vendavais constantes. Eu sei que as cicatrizes falam, mas as palavras calam o que eu não me esqueci. Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo, na alma e no coração”.

Serviço

Espetáculo Pequeno Monstro

Com Silvero Pereira.

Direção: Andreia Pires 

Últimas sessões: de 15 a 18 de agosto (quinta-feira a sábado às 20h, e domingo às 19h)

Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149 – Bela Vista

Na Sala Itaú Cultural (Piso Térreo) 

Capacidade: 224 lugares 

Duração: 80 minutos aproximadamente 

Classificação Indicativa: 14 anos 

Entrada gratuita.

Reservas de ingressos na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br 

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