O filme da Amazon Prime narra a jornada de dois homens improváveis que, através do sarcasmo e da vulnerabilidade compartilhada, constroem uma conexão autêntica e emocionante, desafiando estereótipos da cultura queer
Por tOn Miranda
O ano da produção é de 2022 e o filme é o “Mais Que Amigos” que se destaca como uma das mais inteligentes e tocantes comédias românticas LGBTQIAP+ dos últimos tempos. O filme, estrelado por Billy Eichner e Luke Macfarlane, narra a improvável amizade e subsequente romance entre Bobby Leiber (Eichner) e Aaron (Macfarlane), dois homens que, à primeira vista, parecem ter pouco em comum além de um senso de humor sarcástico e um desconforto compartilhado com a vulnerabilidade. A produção oferece uma narrativa sofisticada, onde a construção lenta do relacionamento é embalada pela ironia e por diálogos afiados, sempre equilibrando momentos cômicos e reflexivos.
A história começa em uma noite qualquer em um clube gay, quando Bobby, um podcaster e ativista LGBTQIAP+, esbarra em Aaron, um advogado corporativo aparentemente desinteressado na cultura queer. O encontro casual entre os dois, onde Aaron surge sem camisa, inicialmente não provoca faíscas óbvias de química romântica, mas é justamente nessa falta de uma conexão imediata que o filme encontra sua força. Ao invés do clichê do “amor à primeira vista”, o longa nos guia por um caminho mais realista, onde a conexão se desenvolve gradualmente, à medida que os dois personagens começam a se abrir um para o outro.
Billy Eichner entrega uma atuação sólida como Bobby, um homem cheio de camadas e inseguranças. Seu sarcasmo é, na verdade, uma defesa contra as pressões de ser um ativista queer em um mundo que ainda luta para aceitar completamente a diversidade. Eichner explora as nuances de seu personagem com maestria, equilibrando momentos de autodepreciação e vulnerabilidade emocional. Bobby questiona constantemente a autenticidade de Aaron, duvidando até mesmo de sua identidade sexual, o que adiciona uma tensão inicial ao relacionamento, mas também revela a complexidade de um homem que usa a crítica como escudo.
Por outro lado, Luke Macfarlane traz ao filme uma interpretação de Aaron que é cheia de contrastes. Ele é um advogado corporativo aparentemente desconectado da cultura e das lutas da comunidade queer, e essa distância gera as dúvidas de Bobby. No entanto, ao longo do filme, Macfarlane nos mostra que Aaron é muito mais do que sua aparência inicial sugere. Embora no começo pareça não haver muita química entre os dois, é a forma como Aaron lentamente se abre – revelando suas inseguranças e aspirações – que torna sua relação com Bobby mais rica e palpável. Ele é um homem em busca de algo mais significativo, e o que começa como uma relação de superioridade sarcástica se transforma em uma conexão emocional genuína.
“Mais Que Amigos” também acerta ao retratar não apenas o romance, mas a vida familiar de ambos os personagens, abordando a dinâmica de uma “família queer bagunçada”. O filme explora questões como identidade, política e o papel da comunidade LGBTQIAP+ na sociedade, sem deixar que o discurso se torne excessivamente pesado. Pelo contrário, é a leveza com que essas discussões aparecem – frequentemente através de diálogos rápidos e espirituosos – que faz com que o filme seja tão eficiente em tratar de temas profundos sem perder a suavidade.
A jornada dos personagens é marcada por sua resistência inicial à vulnerabilidade e pela descoberta de que o amor pode ser um caminho de abertura e cura. O desconforto inicial de ambos, tanto em relação a si mesmos quanto ao outro, torna o processo de aproximação ainda mais significativo. Ao final, o que parece começar como uma brincadeira de superioridade se transforma em um relacionamento sincero e complexo, onde ambos os personagens precisam lidar com seus próprios medos para encontrar espaço para o amor.
“Mais Que Amigos” é, acima de tudo, um filme sobre permitir-se ser visto – algo que ressoa profundamente com todos que já se sentiram vulneráveis ao se expor a um novo relacionamento. Com diálogos afiados, atuações cativantes e uma narrativa que foge dos clichês da comédia romântica tradicional, o filme se estabelece como um marco importante na representação LGBTQIAP+ no cinema contemporâneo.
SERVIÇO
Mais que Amigos (Bros)
Ano: 2022
Direção: Nicholas Stoller
Distribuição: Amazon Prime Vídeo
Sinopse: Bobby e Aaron, dois homens com personalidades e vivências contrastantes, se conhecem em um clube gay e, apesar de suas diferenças, constroem um relacionamento baseado em sarcasmo, vulnerabilidade e descoberta mútua.
Gênero: Comédia Romântica