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Os diversos tons de 2024 – Um Olhar Retrospectivo Particular Para O Ano De Travessia Cultural | MEU OLHAR

Cores, Ritmos e Narrativas em uma Retrospectiva Cultural

Retrospectiva 2024 – Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos de Dione Carlos com a Cia Teatro Heliópolis, Thays Heleno e a T-Crochê, Zé Manoel e o álbum Coral, Ainda Estou Aqui de Walter Salles, Conforto com Ana Flávia Cavalcanti e Marisa Monte no Festival Navegantes | FOTOS: divulgação

Por tOn Miranda

O ano está terminando e é impossível não parar um tempo e refletir sobre o que 2024 representou para nós. Este foi um ano marcado por intensas transformações no cenário global e nacional. No aspecto político, vivenciamos mudanças significativas (e muitas preocupantes) em lideranças e políticas públicas que buscaram mitigar desigualdades e promover justiça social, enquanto protestos e movimentos reivindicaram direitos em diversas partes do mundo. Socialmente, o avanço de pautas como diversidade e inclusão foi evidente, com conquistas celebradas em várias esferas, mas também enfrentando resistências que reforçaram a importância do ativismo constante. Economicamente, o ano foi desafiador, com flutuações globais decorrentes de crises climáticas e geopolíticas, mas também com inovações em sustentabilidade e economia criativa abrindo novos caminhos. O campo tecnológico viu a para a Inteligência Artificial tomar todos os espaços possíveis do nosso cotidiano e fincar a sigla IA nas nossas rotinas. O esporte brilhou nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, onde histórias de superação e conquistas emocionaram o mundo, colocando em destaque valores de resiliência e unidade. No campo ecológico, 2024 foi crucial, com avanços em acordos climáticos e iniciativas locais voltadas para a preservação ambiental, enquanto desastres naturais reforçaram a urgência de ações efetivas. Em meio a essa complexidade, a arte permaneceu como um farol, refletindo e reagindo aos desafios do nosso tempo.

E é com este meu olhar particular para o mundo que destaco algumas coisas que vi e vivenciei nos campos da Arte e da Cultura, que principalmente têm em comum a emoção que me atravessaram e me fizeram refletir e reconectar com o nosso sagrado, com o nosso belo e com a potência transformadora que nos define como seres criativos.

Zé Manoel e o álbum Coral, Liniker e o álbum CAJU e Marisa Monte no Festival Navegante | FOTOS: divulgação

Zé Manoel e o álbum “Coral”

Começar com Zé Manoel é começar com aquele artista que eu chamo de INDELÉVEL. Zé Manoel nos presenteou com “Coral”, uma obra que atravessa as águas profundas da ancestralidade e resgata as vozes das comunidades negras do Brasil. O álbum é uma viagem introspectiva e coletiva, repleta de harmonias etéreas que evocam memórias e identidade. Cada faixa é uma experiência sensorial que nos convida a contemplar e celebrar nossa história. E se não bastasse o álbum, que é um biscoito fino, esta estreia ainda veio com um show homônimo digno de celebrar nossas existências.

“CAJU” de Liniker

Que a cantora, compositora e atriz Liniker é um bálsamo contemporâneo, eu acredito que ninguém que conhece minimamente o seu trabalho já saiba. Mas ela não é aquele tipo de artista que se acomoda ou que não tem mais nada a dizer… pelo contrário, Liniker surpreendeu com “CAJU”, um álbum que mistura ritmos e sentimentos em uma ode às complexidades do amor. Entre baladas sensíveis e canções dançantes, Liniker reafirma sua potência como uma das vozes mais singulares da música brasileira. “CAJU” é um álbum que pede para ser ouvido com o coração aberto.

Festival Navegante: Marisa Monte e Carlinhos Brown

Pela primeira vez eu piso num festival em alto mar. E este debute tinha que ser através de Marisa Monte com seu Festival Navegante.

O Festival Navegante foi palco marítimo de vários momentos épicos, mas destaco aqui dois artistas em especial: Carlinhos Brown trouxe energia vibrante em uma apresentação que misturou percussão, canto e ancestralidade. O show que ele fez na primeira noite do festival, logo após do brilhante João Gomes, foi uma verdadeira viagem sonora que evocou nossa velha infância com os diversos hits que ele coleciona com as múltiplas maneiras que sua carreira se manifesta ao longo dos anos através da carreira solo, da carreira como compositor de sucessos, da criação da Timbalada e do famoso técnico do The Voice BR.  Já Marisa Monte, a capitã do festival, nos levou em uma jornada musical através de dois shows que revisitou clássicos e apresentou novidades na sua voz de sereia. O primeiro show foi no píer de Mauá na cidade do Rio de Janeiro com participações especiais de Adriana Calcanhotto, Ney Matogrosso e Arnaldo Antunes. O segundo show, já em alto mar, aconteceu na abertura da última noite de festival com Marisa passeando como uma sereia em diversos sucessos da sua carreira, cantando inclusive o inédito clássico baiano em sua voz “É D’Oxum”.  O evento foi um testemunho da diversidade e da força da música brasileira.

Amaro Freitas, Alaíde Costa e Zé Manoel no projeto do repertório Clube da Esquina, Isadora Melo e o show do álbum Anagrama e os 30 anos do Cor de Rosa e Carvão de Marisa Monte | FOTOS: divulgação

Encontro de Zé Manoel, Amaro Freitas e Alaíde Costa

Este encontro foi uma verdadeira aula de arte e sensibilidade. Interpretar o repertório do Clube da Esquina é uma tarefa monumental, mas Zé Manoel, Amaro Freitas e Alaíde Costa trouxeram uma perspectiva única, cheia de emoção e virtuosismo, criando momentos que permanecerão na memória.

Isadora Melo e “Anagrama”

O show de Isadora Melo, baseado no álbum “Anagrama”, foi um espetáculo íntimo e grandioso. Com uma voz que toca a alma, Isadora navegou por temas como amor, perda e renascimento, deixando o público em um estado de contemplação profunda no SESC 24 de maio.

30 Anos de “Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão”

Celebrar três décadas desse clássico de Marisa Monte foi relembrar a capacidade da música de transcender épocas. Este álbum continua sendo um marco, influenciando artistas e emocionando gerações. Poder falar dele e recriar a atmosfera poética que este álbum traz, foi momento singular.

Ainda Estou Aqui de Walter Salles e DOC Pra Sempre Paquitas | FOTOS: divulgação

“Ainda Estou Aqui” de Walter Salles

Walter Salles nos presenteou com “Ainda Estou Aqui”, um filme que aborda as relações familiares e as nuances do envelhecimento, tocando numa das feridas sociais que este país carrega que é a ditadura militar. O elenco estelar, liderado por Fernanda Torres e Selton Mello, a espetacular Fernanda Montenegro e grande elenco, trouxe camadas profundas a uma narrativa que é ao mesmo tempo universal e profundamente brasileira. Não é atoa que o sucesso retumbante do filme tem ecoado na Academia com aspirações ao Oscar.

Documentário “Pra Sempre Paquitas”

O documentário do Globoplay foi um mergulho nostálgico em um fenômeno cultural que marcou uma geração. As histórias das Paquitas são revisadas com um olhar afetuoso, revelando os bastidores de um legado que ainda ressoa. Logo no primeiro episódio, nasceu o meme do ano: Que Xou da Xuxa é esse?

Heartstopper e Mais Que Amigos diretamente dos streaming | FOTOS: divulgação

“Heartstopper” e “Mais Que Amigos”

No campo do streaming, “Heartstopper” continuou emocionando com sua representação honesta do amor adolescente na Netflix. “Mais Que Amigos”, da Amazon Prime, explorou as complexidades das relações contemporâneas, equilibrando drama e leveza.

Pequeno Monstro com Silvero Pereira, Conforto com Ana Flávia Cavalcanti e Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos com a Cia Teatro Heliópolis | FOTOS: divulgação

Teatro: “Pequeno Monstro” e “Conforto”

O teatro em 2024 trouxe reflexões potentes. “Pequeno Monstro”, com Silvero Pereira, questionou as relações humanas e as infâncias LGBTQIAP+. “Conforto”, com Ana Flávia Cavalcanti, explorou as nuances das mais remotas memórias de uma infância marcada pelo olfato.

“Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos” de Dione Carlos com a Cia. Teatro Heliópolis

Um dos espetáculos mais marcantes do ano, “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”, de Dione Carlos, trouxe uma narrativa arrebatadora sobre opressão e liberdade feminina. Com uma linguagem visceral e poética, a peça encantou e inquietou plateias em todo o país. Foi lindo ver a Cia. de Teatro Heliópolis no palco do Sala Itaú Cultural ocupando aquelas tábuas de talento, força, resistência e poesia.

HairSpray com Vânia Canto e Tiago Abravanel, a marca T-Crochê de Thays Heleno e a Ocupação Naná Vasconcelos | FOTOS: divulgação

“HairSpray” e a Inclusão

A nova montagem do musical “HairSpray” trouxe diversidade e alegria aos palcos, com Vânia Canto e Tiago Abravanel liderando um elenco espetacular. A montagem reafirmou o poder do teatro como ferramenta de inclusão e celebração.

T-Crochê de Thays Heleno

A marca T-Crochê, lançada por Thays Heleno, representou um marco na moda sustentável. Cada peça é um manifesto de criatividade, unindo arte, moda e consciência ambiental. Foi emocionante ver um sonho se concretizar diante dos meus olhos com uma pulsão coletiva e poética formada de tantos e tantos afetos.

Ocupação Naná Vasconcelos no Itaú Cultural

A Ocupação Naná Vasconcelos trouxe um mergulho na obra e no legado deste ícone da música brasileira. A exposição explorou a genialidade de Naná em sua conexão única entre ritmos, espiritualidade e experimentação musical.

Exposição Línguas Africanas Que Fazem O Brasil com curadoria de Tiganá Santana, Ocupação Leda Maria Martins e concerto de Marisa Monte com a Orquestra Sinfônica da USP | FOTOS: divulgação

Exposição “Línguas Africanas Que Fazem o Brasil” no Museu da Língua Portuguesa

Com curadoria de Tiganá Santana, a exposição “Línguas Africanas Que Fazem o Brasil” revelou as raízes linguísticas que moldaram nossa identidade. Uma mostra rica e educativa que nos reconectou com a ancestralidade e a diversidade cultural do país.

Ocupação Leda Maria Martins no Itaú Cultural

A Ocupação Leda Maria Martins destacou a importância do trabalho dessa intelectual e artista em pensar e construir uma narrativa afrocentrada na literatura e nas artes cênicas. Uma experiência transformadora para quem busca entender mais sobre a potência da arte negra e o tempo espiralar.

Show de Marisa Monte com a Orquestra Sinfônica da USP

Em um evento memorável, Marisa Monte apresentou-se ao lado da Orquestra Sinfônica da USP, entregando um espetáculo grandioso e emocionante. A perfeita fusão entre música popular e erudita marcou um dos pontos altos do ano.

Marisa Monte na cerimônia que foi consagrada Doutora Honoris Causa da USP, o Festival Nós Pela Cultura – uma parceria do Itaú Cultural e Fundação Casa e o Rapper, freestyler, speedflower, ator e atleta Victor Massaki que acaba de lançar seu primeiro EP e uma das personas da coluna PERFIL deste ano de 2024 | FOTOS: divulgação

Doutora Honoris Causa da USP para Marisa Monte

Marisa Monte recebeu o título de Doutora Honoris Causa da USP, um reconhecimento merecido por sua contribuição ímpar à cultura brasileira. Eu fui testemunha presencial deste feito que foi um marco e que reafirma a relevância de sua trajetória artística.

Festival Nós Pela Cultura

A terceira edição do Festival Nós Pela Cultura consolidou a parceria entre Itaú Cultural e Fundação Casa, reafirmando o papel transformador da arte na vida de jovens em situação de medida socioeducativa.

Canal Diversão & Arte: Histórias Inspiradoras

No Canal, tivemos o privilégio de apresentar os perfis de Victor Massaki, Felipe Mello e Rafael Desimone. Histórias de superação, criatividade e resiliência que nos conectaram a diferentes realidades e sonhos.

Xênia França e o show Tudo Sobre Amor e os 15 anos da série Glee | FOTOS: divulgação

“Tudo Sobre Amor” de Xênia França

Inspirado na trilogia de Bell Hooks, o show de Xênia França foi um convite a repensar o amor como ferramenta de revolução. Um espetáculo que reverberou emoções e reflexões profundas.

15 Anos de “Glee”

Revisitar “Glee” foi celebrar a inclusão e a importância de se encontrar pertencimento. A série continua sendo uma fonte de inspiração para todas as gerações.

Com Duca Rachid, Bia Ramsthaler, minha cofundadora e cocriadora do Canal Diversão & Arte e com Zé Manoel, homenageado da exposição ATRAVÉS | FOTOS: divulgação

Conexão e Criatividade Através dos 8 anos do Canal Diversão & Arte

Em um ano tão cheio de nuances, a arte foi meu farol e minha ancoragem. Em junho de 2024, eu, Bia Ramsthaler e Dinho Santoz celebramos os 8 anos do Canal Diversão & Arte com o primeiro evento Conexão Criatividade, um marco que reuniu grandes nomes da cultura e das artes. O evento aconteceu no Espaço Cia do Pássaro e contou com uma programação vibrante, destacando-se a abertura da exposição ATRAVÉS, que teve curadoria minha, e projeto expográfico assinado por Iago Germano. A exposição homenageou 19 personalidades que marcaram a história do Canal, como Fernanda Montenegro, Marisa Monte, Neon Cunha, Zé Manoel, José Mayer, Daniel de Oliveira, Paloma Bernardi, Alessandro Marba, Dawton Abranches, Dudu de Oliveira e muitos outros, proporcionando aos visitantes uma jornada de conexão e reflexão através das suas trajetórias artísticas.

Com o ator Dudu de Oliveira e os atores e diretores Alessandro Marba e Dawton Abranches da Cia do Pássaro – Voo e Teatro | FOTOS: divulgação

Durante o Conexão Criatividade, tivemos momentos de troca e inspiração com a presença marcante do cantor e compositor Zé Manoel, da diretora de arte e ativista Neon Cunha, do ator e cantor Felipe Montanari, da autora e dramaturga Duca Rachid, da assessora de imprensa Adriana Balsanelli e do economista Bruno Truzzi. A programação também incluiu debates sobre comunicação e economia da cultura e uma palestra com dicas preciosas sobre elaboração de projetos culturais.

A exposição ATRAVÉS, ao evocar a ideia de travessia, conectou tempos e experiências, celebrando os 8 anos de histórias compartilhadas. Foi mais que uma comemoração; foi um manifesto artístico sobre a força da diversidade cultural e o impacto transformador da arte. Foi um momento inesquecível que reafirmou a relevância e a potência do Canal Diversão & Arte em sua trajetória. Que 2025 nos traga novas histórias para contar, cantar e viver. Como editor do Canal Diversão & Arte, agradeço por mais uma vez termos caminhado juntos em meio às potências da criação humana. Viva a arte!

Com os produtores culturais Natália Souza, Fabrício Amaral e Felipe Sales e eu e Bia com a assessora de imprensa Adriana Balsanelli e o economista Bruno Truzzi | FOTOS: divulgação

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