Tesouros do Sertão: ‘A Botija’ encanta e resgata o imaginário popular nordestino | MEU OLHAR

Espetáculo da Cia Fabulinhando transforma a Sala Vermelha do Itaú Cultural em um quintal de memórias, lendas e encantarias

A Cia Fabulinhando com Jhoao Junnior, Elaine Silva e Maria Rosa no espetáculo A Botija – Um Pequeno Inventário de Histórias Fantásticas do Nordeste Brasileiro em cartaz no Itaú Cultural | FOTO: Leonardo Souzza / divulgação

Por tOn Miranda

“Isso aqui ô-ô… é um pouquinho de Brasil ia-ia… desse Brasil que canta e é feliz” versa o poeta Ary Barroso gravado por tantos medalhões do nosso cancioneiro brasileiro como Caetano Veloso, Novos Baianos e tantos e tantas outros tesouros artísticos-culturais que nosso Brasil produz. Uma das preciosidades que nosso país produz são as histórias narradas de diversas formas e linguagens criativas e expressões artísticas.

Agora, por que contar histórias?

No coração de cada cultura, relatam histórias que atravessam gerações, embaladas por vozes que narram o passado, transformam o presente e inspiram o futuro. Em A Botija, Um Pequeno Inventário de Histórias Fantásticas do Nordeste Brasileiro, da Cia Fabulinhando, o palco se torna um portal para esse rico universo de encantarias e sabedoria popular. Com um enredo que mistura aventura, memória e imaginação, o espetáculo transforma a Sala Vermelha do Itaú Cultural em um grande quintal de possibilidades, onde o passado dialoga com o presente, e os mitos sertanejos ganham vida diante dos olhos atentos do público.

Um espetáculo que é um abraço na cultura nordestina

Com direção e atuação de Jhoao Junior e Maria Rosa, ao lado da musicista Elaine Silva, A Botija conduz crianças e adultos por um mergulho afetivo na oralidade e na ancestralidade nordestina. A peça narra o reencontro de três irmãos com o quintal da avó, onde cresceram ouvindo histórias mágicas sobre uma botija de ouro – um dos mais conhecidos mitos do sertão. Mas essa busca vai muito além do tesouro enterrado: à medida que avançam na jornada, as lendas se desenrolam como fios invisíveis, tecendo um painel vibrante de narrativas populares.

A Caipora, a Mulher do Sonho , a Princesa da Serra e tantas outras figuras do imaginário popular emergem no palco, mostrando que o verdadeiro ouro da história está na preservação e transmissão dessas tradições. O público, por sua vez, não apenas assiste, mas se deixa levar pelo ritmo envolvente da dramaturgia, se tornando parte da viagem.

Os diretores e atores Maria Rosa e Jhoao Junnior da Cia Fabulinhando do espetáculo infantil A Botija | FOTO: Leonardo Souzza / divulgação

A música e a estética como elementos vivos

O espetáculo não apenas conta histórias: ele as canta, dança e borda. A trilha sonora, executada ao vivo por Elaine Silva, preenche a cena com as sonoridades do sertão, por meio da viola caipira, flauta, xilofone e percussões, criando um ambiente imersivo. A cenografia, assinada por Irapuan Júnior, é um espetáculo à parte, com tapeçarias que evocam o artesanato nordestino e figurinos bordados por Maria Rosa, inspirados na tradição da xilogravura.

O poder de resgatar o passado para fortalecer o futuro

Mais do que uma peça infantil, A Botija é um manifesto poético sobre pertencimento e identidade. O trabalho da Cia Fabulinhando carrega a força de quem migrou e traz na fala e no corpo as marcas de sua terra. Como diz Jhoao Junior, a peça é um resgate emocional e artístico de sua própria infância no Rio Grande do Norte, ao lado das memórias de Maria Rosa, do Ceará, e Elaine Silva, de Alagoas.

A história de A Botija se costura como uma colcha de fuxicos, cada pedacinho representando uma memória, um conto, uma lenda que, juntos, formam um grande mosaico de identidade nordestina. Assim como o bordado nordestino, que entrelaça símbolos e narrativas no tecido, o espetáculo borda no imaginário infantil a riqueza das tradições passadas de geração em geração. E, tal qual a botija nordestina, um pote que guarda mistérios e tesouros escondidos no sertão, uma peça reveladora de que as verdadeiras riquezas estão nas histórias compartilhadas – um ouro imaterial que se multiplica à medida que é transmitido.

Em tempos de transformação digital e bombardeio de estímulos tecnológicos, espetáculos como A Botija reafirmam a importância de se reunir para contar e ouvir histórias. Histórias que fazem parte de quem somos. Histórias que, como a botija de ouro da avó, esperam ser descobertas – não para serem guardadas, mas para serem compartilhadas.

Se ainda não mergulhou nesse tesouro do teatro infantil brasileiro, corra: a temporada segue até julho de 2025, sempre aos domingos, no Itaú Cultural. Não é apenas um espetáculo: é uma viagem mágica ao coração do Nordeste!

A Botija em cartaz na Sala Vermelha do Itaú Cultural | FOTO: Leonardo Souzza / divulgação

📍 SERVIÇO

🎭 Espetáculo: A Botija – Um Pequeno Inventário de Histórias Fantásticas do Nordeste Brasileiro
📅 Temporada: Até 27 de julho de 2025 , aos domingos , às 16h
📍 Local: Sala Vermelha – Itaú Cultural (Av. Paulista, 149 – São Paulo/SP)
🎟 Entradas gratuitas – Disponíveis a partir das terças-feiras da semana da apresentação, às 12h, na plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br )
👧 Classificação indicativa: Livre para todas as idades
Duração: Aproximadamente 60 minutos
🚇 Acesso: Próximo à estação Brigadeiro do metrô, com estacionamento gratuito para bicicletas e acessibilidade para pessoas com deficiência

🎭 FICHA TÉCNICA

💡 Concepção, dramaturgia e direção: Jhoao Junnior
🎭 Atuação e direção: Jhoao Junnior e Maria Rosa
🎶 Musicista e trilha sonora: Elaine Silva
🎨 Cenografia: Jhoao Junnior
🖌 Painel de tapeçaria: Irapuan Júnior
👕 Figurinos e bordados: Maria Rosa
🎼 Canções e arranjos originais: Jhoao Junnior e Elaine Silva
💃 Direção de movimento: Ronaldo Aguiar
🎤 Coco de chegada e despedida: Nildo Verdelinho
🎭 Iluminação: Júnior Doccini
🎭 Produção: Potyguar Produções
🎭 Realização: Cia Fabulinhando

A Botija, Um Pequeno Inventário de Histórias Fantásticas do Nordeste Brasileiro, da Cia Fabulinhando | FOTO: Leonardo Souzza / divulgação

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