Milton Bituca Nascimento – O Filme que Traduz a Alma do Brasil Profundo |MEU OLHAR

Documentário de Flávia Moraes estreia dia 20 de março nos cinemas de todos o país tentando mensurar este sentimento universal chamado Milton Nascimento

Milton Bituca Nascimento de Flávia Moraes | FOTO: divulgação

Por tOn Miranda

“Por tanto amor, por tanta emoção a vida me fez assim, doce ou atroz, manso ou feroz, eu, caçador de mim. Preso a canções, entregue a paixões que nunca tiveram fim, vou me encontrar longe do meu lugar, eu, caçador de mim” versa a canção de Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá, imortalizada na voz de Milton Nascimento. Essas palavras, além de descreverem a jornada pessoal do artista, traduzem a essência de sua obra – um mergulho profundo na alma do Brasil, suas dores e encantos, sua resistência e sua poesia.

A arte, quando genuína, se torna um farol, iluminando verdades, sentimentos e histórias que atravessam gerações. Poucos artistas no Brasil representam essa potência como Milton Nascimento. Seu canto não é apenas música; é um mapa afetivo, um rio que deságua na identidade do Brasil profundo, aquele que pulsa nos rincões do país e reverbera em todo o mundo. É com essa proposta que Milton Bituca Nascimento, documentário dirigido por Flávia Moraes, chega aos cinemas em 20 de março, distribuído pela Gullane+, para celebrar a grandiosidade do artista e sua obra.

A Voz que Traduz um País

Desde os primeiros acordes de sua carreira, Milton Nascimento conquistou o mundo com uma musicalidade única, capaz de atravessar barreiras geográficas e culturais. Sua voz, etérea e ao mesmo tempo visceral, tornou-se um símbolo de brasilidade e universalidade. No documentário, essa presença é amplificada por depoimentos de gigantes da música e da cultura, como Gilberto Gil, Mano Brown, Quincy Jones, Spike Lee, Djamila Ribeiro e Paul Simon, que tentam decifrar o encanto inexplicável do Bituca.

O filme não busca apenas responder o porquê de sua grandiosidade, mas apresentar ao público sua essência. Como bem pontua a diretora Flávia Moraes, “Milton não é só um artista gigante, ele é o Brasil profundo. Ele é a síntese de um país que pulsa arte, resistência e beleza.”

Bastidores do filme documentário Milton Bituca Nascimento de Flávia Moraes | FOTO: divulgação

A Jornada de um Artista Incompreensível pelo Óbvio

O documentário nasce da turnê de despedida do cantor, levando a plateia a uma viagem íntima e sensível, um verdadeiro road movie conduzido pela trilha sonora que há décadas embala a alma dos brasileiros. Com acesso irrestrito ao artista, Flávia Moraes conseguiu registrar não apenas Milton no palco, mas a forma como sua presença transforma os espaços, os momentos e as pessoas ao seu redor.

Narrado pela imortal Fernanda Montenegro, o longa tem a delicadeza de um álbum clássico: a cada cena, uma nova faixa se desdobra, revelando camadas de sua personalidade e obra. É um filme que nos envolve, nos transporta e, ao final, nos faz sair do cinema com a sensação de ter tido uma aula de humanidade, uma aula de Milton Nascimento.

A Celebração e a Reflexão

Além de exaltar sua genialidade, Milton Bituca Nascimento também mergulha em temas fundamentais para compreender sua trajetória. Adoção, racismo, representatividade, genialidade artística, brasilidade e democracia são assuntos que permeiam sua história e encontram eco no filme. Milton, que foi adotado e cresceu em uma família branca em Três Pontas (MG), sempre foi consciente das barreiras que enfrentou e de seu papel na luta por um país mais justo e igualitário.

Sua obra, que une raízes mineiras à sofisticação harmônica do jazz e da música erudita, é um manifesto artístico de resistência e liberdade. O documentário faz jus a esse legado, costurando passado e presente para que novas gerações possam se conectar com a profundidade de seu trabalho.

Flávia Moraes e Milton Nascimento nos bastidores do documentário Milton Bituca Nascimento | FOTO: Marcos Hermes / divulgação

Um Astro Rei Iluminado por uma Constelação

Milton é uma estrela única, mas sua luz reflete em uma constelação de artistas que o reverenciam. O documentário nos lembra que sua música já foi interpretada por nomes como Elis Regina, Wayne Shorter, Björk e Esperanza Spalding, provando que sua arte é um idioma universal. Não há lugar no mundo onde Travessia, Maria, Maria ou Canção da América não ressoem como hinos emocionais.

Flávia Moraes, ao reunir essa multiplicidade de vozes para falar sobre Milton, constrói um retrato que não tenta explicar o inexplicável, mas sim permitir que o público sinta a grandeza do artista. Seu olhar curador, somado à liberdade dada por Milton para que sua história fosse contada sem filtros, resulta em um filme genuíno, sem concessões, mas repleto de afeto.

O Legado que continua

Milton sempre soube que Nada Será Como Antes, pois a arte tem o poder de transformar o tempo e as pessoas. E ele fez da música seu Clube da Esquina, reunindo talentos, histórias e melodias que ecoam por gerações. Ao longo de sua carreira, nos ensinou que a vida é uma grande Travessia, onde a emoção e a resistência caminham lado a lado. Seu canto, como em Cais, nos conduz para dentro de nós mesmos, despertando sentimentos profundos e inesquecíveis.

Bituca nos ensinou que Todo Artista Tem de Ir a Onde o Povo Está, e foi assim que sua voz atravessou fronteiras, encantando o mundo. Cantou sobre a força de Maria, Maria, sobre a saudade em Canção da América e nos mostrou que, em tempos difíceis, é preciso lembrar que Bola de Meia, Bola de Gude também fazem parte da caminhada. Sua obra é um legado imortal, uma lição de brasilidade e humanidade que, assim como em Paula e Bebeto, qualquer maneira de amor vale a pena para iluminar nosso caminho.

Milton Bituca Nascimento não é apenas um filme sobre um artista. É um convite para que o Brasil reconheça e valorize um de seus maiores patrimônios culturais em vida. Mais do que nunca, é essencial que novas gerações tenham acesso à história e à obra de Milton, pois ele nos ensina que a arte pode – e deve – ser um instrumento de transformação.

“Porque se chamava moço também se chamava estrada viagem de ventania, nem se lembra se olhou pra trás ao primeiro passo (asso, asso, asso, asso, asso, asso, asso, asso). Porque se chamavam homens também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem, em meio a tantos gases lacrimogênios ficam calmos, calmos, calmos, calmos, calmos… E lá se vai mais um dia” (Clube da Esquina No. 2 – de Lô Borges, Marcio Borges e Milton Nascimento).

A diretora Flávia Moraes e o cartaz do filme documentário Milton Nascimento Bituca que estreia dia 20 de março de 2025 em todos os cinemas brasileiros | FOTO: Fran Parente / divulgação

Serviço

Filme: Milton Bituca Nascimento
Direção: Flávia Moraes
Distribuição: Gullane+
Estreia: 20 de março nos cinemas de todo o Brasil
Produção: Canal Azul, Nascimento Música, Gullane e Claro
Classificação: A definir
Duração: Aproximadamente 120 minutos
Gênero: Documentário

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