A VIDA INVISÍVEL

O aguardado filme A VIDA INVISÍVEL, inspirado no romance de Martha Batalha e dirigido por Karim Aïnouz, chega às salas de cinema no próximo dia 21 de novembro.

Karim, diretor reconhecido por obras como Praia do Futuro (2014), O Céu de Suely (2006) e Madame Satã (2002), define “A Vida Invisível” como um “melodrama” ou um “folhetim de rasgar o coração”. Trata-se, antes de tudo, de uma obra de arte do cinema nacional. Aliás, é ele a aposta brasileira na corrida para o Oscar de 2020.


“A Vida Invisível” é um filme delicado que fala das histórias cotidianas de uma família que vive no Rio de Janeiro entre as décadas de 40 e 60. Duas irmãs, Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler), se veem separadas e é a partir deste fato, que toda a história se desenrola. O filme se propõe a narrar o cotidiano destas irmãs submetidas a uma sociedade conservadora e machista que marca fortemente as relações sociais entre homens e mulheres no decorrer de nossa história.

Sensível em sua direção, Karim conseguiu expor sem didatismo e sem bandeiras, as questões básicas que oprimem as duas personagens sufocando seus sonhos e jogando o espectador nessa vida de angústia e aceitação que aniquila os sonhos e elimina as perspectivas destas duas personagens tão bem representadas por Carol Duarte e Julia Stockler.

Fernanda Montenegro aparece nos minutos finais do filme e faz uma de suas participações mais marcantes dos últimos tempos. Interpretando Eurídice na velhice, Fernanda nos faz ir fundo nos silêncios, nas dores e nas ausências que moram em seu peito e se refletem no olhar. Aliás, o olhar de Carol Duarte (a Eurídice jovem) é facilmente percebido naquela interpretada por Fernanda Montenegro.

A VIDA INVISÍVEL é, como bem define Fernanda Montenegro, “um filme uterino” de uma delicadeza sem precedentes.

Além de Fernanda, Carol e Julia, no elenco ainda vemos Gregório Duvivier como Antenor, a personificação do homem criado sob a perspectiva de uma sociedade machista. Cristina Pereira, Flávio Bauraqui, Nikolas Antunes, Antônio Fonseca, Flávia Gusmão, Bárbara Santos, Maria Manoella e Gillray Coutinho também compõem o elenco.

“A Vida Invisível” chega às salas de cinema em um momento delicado e de grandes incertezas para o campo da produção audiovisual brasileira. É sabido que a cultura e seus agentes vêm sofrendo vários tipos de ataques, censuras e cortes de verbas. Em entrevista coletiva, Rodrigo Teixeira, produtor do filme, conta que o orçamento de R$ 6 milhões teve que ser, em parte, adiantado por investimentos pessoais em razão dos entraves causados com as mudanças empreendidas pelo Governo na gestão da Ancine. Mas Karim é otimista e destaca que “o exército de artistas que formamos nos últimos anos, tende a fazer cada vez mais cinema porque nós sempre achamos uma saída”. Fernanda Montenegro reforça a ideia ao destacar que a arte sobreviveu a tudo e que assim continuará a ser.

Em meio a estas e outras batalhas culturais, “A Vida Invisível” chega às telas para apresentar a vida cotidiana da família Gusmão e o enorme desafio de duas irmãs na busca por seus sonhos frente a condição de serem mulheres subjugadas pelo machismo estrutural que caracteriza ainda hoje a sociedade brasileira. É um filme sobre o passado, porém fortemente conectado com o presente. Trata-se de uma experiência necessária para quem gosta do cinema nacional.

BEATRIZ RAMSTHALER

bia@canaldiversaoearte.com.br

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