O carioca mais mineiro do planeta, Milton Silva Campos do Nascimento, nasceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de 1942. Mas depois da morte de sua mãe doméstica, foi adotado pelo casal de professores mineiros e criado em Três Pontas, Minas Gerais.
Com 13 anos ganhou seu primeiro violão. Aos 15 anos, Milton criou com Wagner Tiso, seu amigo de infância, o grupo vocal Som Imaginário. Logo depois criaram o W’s Boys, com Milton, Wagner, e seus irmãos Wesley e Wanderley. O grupo se apresentava “nos bailes da vida” da região.
Em 1963, Milton mudou-se para Belo Horizonte, para fazer o vestibular para Economia, mas a música o tomou. Na época, formou com Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges e Fernando Brant, o Clube da Esquina. Em 1966 foi para São Paulo, mas estava difícil conseguir que suas músicas fossem gravadas.
A sorte começou a mudar quando conheceu Elis Regina, que gravou “Canção do Sal”, sua primeira música. Foi amor à primeira audição. Elis passou a ser sua musa inspiradora e a cantora que mais gravou suas composições: “Tirando a minha mãe e o meu pai, a Elis é o maior amor que eu tive na minha vida. Quando começamos a ficar próximos nunca mais nos separamos. Todas as músicas que eu fazia dali em diante eu pensava nela cantando”, já disse Milton Nascimento sobre Elis Regina.
Milton, junto com os grandes da MPB – Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa, Jorge Benjor, Elis Regina e tantos outros, versou a resistência artística contra o Regime da Ditadura Militar, nos anos 70 e até meados dos anos 80 onde “Coração de Estudante” foi um dos hinos de resistência de uma juventude que lutou pelas Diretas Já e o fim da ditadura.
A trajetória artística de Milton Nascimento é diversificada, sendo impossível enquadrá-la num rótulo. Trata-se também de um grande compositor e músico que é ao mesmo tempo um grande intérprete. Com raríssimo talento, Milton conseguiu unir uma grande sofisticação de linguagem com um profundo compromisso com a arte popular e a cultura brasileira.
Entre suas músicas de sucesso estão: “Travessia” (1966), “Sentinela” (1969), “Clube da Esquina” (1970), “Cais” (1972), “Nada Será Como Antes” (1972), “Fé Cega, Faca Amolada” (1975), em parceria com Beto Guedes, “Ponta de Areia” (1975), “Maria, Maria” (1979), “Canção da América” (1980), “Caçador de Mim” (1981), “Coração de Estudante” (1983) e “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor” (2002).
Caetano já tentou sintetizar o amigo Bituca: “Milton é a forma mais intensa da criação musical do Brasil no mundo desde Carmen Miranda e a Bossa Nova. Como esta, ele influenciou músicos do primeiro time global. Mas não é principalmente por isso que devemos festejar sempre sua miraculosa existência. É principalmente pelo sentido intrínseco de sua arte, cujos mistérios estamos mais aptos a contemplar, que nós brasileiros celebramos seu nascimento. Os sentidos mais ocultos da construção do Brasil estão compactados em seus acordes com quartas desconcertantes, seus ritmos equívocos, suas melodias sobrenaturais. Sua música e sua pessoa contêm a alma do primeiro preto trazido da África e do primeiro Jesuíta que pisou na América. Conseguimos sentir tudo o que não podemos entender. Ou melhor: entendemos sem tomar plena consciência. Viva Milton Nascimento, a beleza, a sensualidade, a fé, a música”.
É uma gota de história. É para lembrar. É para não esquecer.