Mostra TODOS OS GÊNEROS do Itaú Cultural ganha edição 100% online em 2020 com o tema ‘masculinidades’

Por tOn Miranda

Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria do que eu quisesse ter. Que nada, minha porção mulher, que até então se resguardara é a porção melhor que trago em mim agora, é que me faz viver” os geniais versos de Gilberto Gil, de 1979, da música “Super homem – a canção” (do álbum Realce) exprimem a ideia que desde aquela época já se discutia que a masculinidade tóxica não faz bem pra ninguém. Essa masculinidade tradicional, que é tão questionada e repelida nos nossos dias, é um modelo caduco e ultrapassado de masculinidade baseada na exclusão e no domínio do outro, na subordinação do diferente.

Na sétima edição da mostra TODOS OS GÊNEROS: Mostra de Artes e Diversidade, que o Itaú Cultural promove todos os anos, o tema é ‘masculinidades’, um tema que segundo Galiana Brasil (gerente do núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, uma das áreas de expressões artísticas que encabeçam a equipe multicultural da mostra) veio pra problematizar, questionar, reposicionar e dar voz ao processo de construção das masculinidades.

A mostra que começa HOJE, 24 de agosto e vai até 30 de agosto (domingo), será realizada pela primeira vez 100% online, com transmissão no site do IC e trará pro público durante a última semana de agosto, conversas com formadores de opinião, artistas, ativistas e pensadores convidados, como Tiago Koch, criador do projeto Homem Paterno. Pode também assistir a espetáculos como Barrela, texto de Plínio Marcos encenado pela Companhia Cemitério de Automóveis, cujo enredo trata da violência sexual nos presídios masculinos, assim como cenas de dança e teatro feitas a partir do pensamento sobre a masculinidade recebida e a masculinidade criada.  

O encerramento fica por conta dos shows permeados pelo universo musical queer do rapper paulista Rico Dalasam e do cantor pernambucano Ciel Santos

“Precisamos ver a masculinidade de uma maneira plural, com todas as perspectivas e questões que esse lugar das masculinidades traz, todas as intersecções: masculinidade e transgeneridade, masculinidade e negritude, masculinidade e paternidade, então são várias camadas que esse tema toca, e onde ele reverbera também. O processo de curadoria artística, como sempre, traz muito esse olhar pros territórios e pra diversidade. Nós temos: performance, dança, teatro, música, então são várias linguagens, que já um pouco a nossa forma de operar nos projetos, e trazendo essa polifonia, trazendo o máximo de camadas, de significações, a gente tem por exemplo o trabalho do André Vitor, que bota a subjetividade da masculinidade do homem sertanejo, num lugar muito distante, muito diferente do que a gente costuma ver, no imaginário, nos clichês, da forma como se lê o sertão nordestino, tem também o trabalho do Elilson que é uma performance num espaço urbano, acontecendo agora, nesse momento de distanciamento, enfim, são camadas de subjetividade poética que a programação traz e a curadoria olhou muito pra isso, pra essa diversidade nessa construção da masculinidade, tanto do ponto de vista das identidades quanto do ponto de vista das geografias e dos territórios”, pontuou Galiana ao Canal Diversão & Arte.

Confira abaixo a programação:

Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade 

Sétima edição 

De 24 a 30 de agosto​  

No site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br​   

Concepção e realização: Itaú Cultural​  
Curadoria: Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural​  


PROGRAMAÇÃO, SINOPSES E SERVIÇO 

24 de agosto (segunda-feira) 

18h30 

Cenas Teatrais – Filho Homem 

SINOPSE: 

Um documentário ficcional sobre as diferenças e proximidades entre dois irmãos – um criado para ser homem e outro criado para ser mulher. Violência, amor e a descoberta da transexualidade estão entre os temas abordados em cena. 

FICHA TÉCNICA: 

Concepção e atuação: Bernardo de Assis (RJ)  

Duração aproximada: 10 minutos 

Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 12 anos 

Interpretação em Libras 

19h 

Mesa de abertura – Masculinidades em trânsitos 

Com Airan Albino (RS), Lino Arruda (SP) e Marcelino Freire (PE) 

Mediação: Thiago Rosenberg (SP) 

Duração aproximada: 60 minutos 

Classificação indicativa: livre

Interpretação em Libras 

25 de agosto (terça-feira) 

17h 

Roda de Conversa – A construção das masculinidades 

Com Jordhan Lessa (RJ), Marcus Boaventura (BA) e Sirley Vieira (PE) 

Mediação: Guilherme Valadares (MG) 

Duração aproximada: 60 minutos 

Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 10 anos por conter diálogos não estimulantes sobre sexo dentro de um contexto educativo

Interpretação em Libras 

20h  

Cenas Teatrais – Oboró 

SINOPSE: 

A obra retrata a realidade e a subjetividade de homens negros, marcadas por questões como a hipersexualização do corpo e a busca por perfeição em troca de um lugar ao sol numa sociedade de estrutura racista. 

FICHA TÉCNICA: 

Texto: Adalberto Neto 

Direção: Rodrigo França 

Atuação: Cridemar Aquino (RJ), Drayson Menezzes (RJ) e Sidney Santiago Kuanza (SP) 

Produção: Fábio França e Mery Delmond 

Realização: Diverso Cultura e Desenvolvimento 

Duração aproximada: 40 minutos 

Classificação Indicativa: não recomendada para menores de 12 anos 

Interpretação em Libras 

26 de agosto (quarta-feira) 

17h 

Roda de Conversa – Paternidades  

Com Luis Baron (SP), Orun Santana (PE) e Tiago Koch (RS) 

Mediação: Viviane Duarte (SP) 

Duração aproximada: 60 minutos 

Classificação Indicativa: livre

Interpretação em Libras 

20h 

Espetáculo – Bola de Fogo 

SINOPSE: 

Devidamente trajado, o ator e diretor Fábio Osório Monteiro prepara e frita a massa do acarajé enquanto performa a si próprio e a outros corpos negros. O trabalho explora questões de política, espiritualidade, memória, afeto e ancestralidade. 

FICHA TÉCNICA: 

Direção: Fábio Osório Monteiro (BA) 

Codireção: Leonardo França 

Colaboração: Jorge Alencar e Neto Machado 

Produção executiva: Natália Valério 

Produtor assistente/contrarregra: Gabriel Pedreira 

Interpretação em Libras: Cintia Santos 

Produção: Dimenti Produções Culturais 

Duração aproximada: 45 minutos 

Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos por conter linguagem imprópria

Interpretação em Libras 

27 de agosto (quinta-feira) 

20h  

Espetáculo – Barrela 

SINOPSE: 

Encenação do primeiro texto do dramaturgo paulista Plínio Marcos (1935-1999), a peça traz a história real de um menino que, preso por um pequeno delito, foi violentado por companheiros de cela – os quais, mais tarde, foram mortos por ele. O espetáculo discute o estado de exceção que se cria em determinados ambientes e o código de conduta entre criminosos.  

FICHA TÉCNICA: 

Texto: Plínio Marcos 

Direção e trilha sonora: Mário Bortolotto 

Elenco: Mário Bortolotto, Walter Figueiredo, Marcos Gomes, Nelson Peres, Paulo Jordão (Rodrigo Cordeiro), André Ceccato (Marcos Amaral), Daniel Sato e Alexandre Tigano 

Iluminação: Caetano Vilela 

Cenário e arte do cartaz: André Kitagawa 

Assistentes de direção: Marilia Medina e Gabriela Fortanell 

Assessoria de imprensa: Pombo Correio 

Fotos: Marta Santos  

Duração aproximada: 55 minutos 

Classificação indicativa: 16 anos 

Interpretação em Libras 

28 de agosto (sexta-feira)  

20h 

Cenas Encomendadas  

Duração: 30 minutos no conjunto dos vídeos

Kaddish, uma Oração para os Homens que Eu Matei 

SINOPSE: 

Partindo da reza tradicional judaica em homenagem aos mortos, que só pode ser recitada pelos filhos homens da pessoa falecida, Ronaldo Serruya ficcionaliza elementos autobiográficos para abordar o modelo masculino judaico-cristão que o formou e a necessidade de matá-lo para afirmar diante do mundo seu corpo queer e que convive com o HIV. 

FICHA TÉCNICA: 

Criação, dramaturgia e atuação: Ronaldo Serruya (SP) 

Direção e edição de imagens: Luiz Fernando Marques 

Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos por conter linguagem imprópria e descrição de violência

Interpretação em Libras 

C(h)ancela 24 

SINOPSE: 

Partindo do uso recorrente no Brasil do número 24 – que remete à figura do “veado” e à condição de ser “viado” – como xingamento contra homens gays, o artista vê essa herança vocabular da normatividade hétero-masculina e traz na performance e texto ação-tributo que fez aos 24 anos para um irmão, também homossexual, suicidado com a mesma idade. 

FICHA TÉCNICA: 

Criação e performance: Elilson (PE) 

Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos por conter citação de ato violento que pode causar angústia

Interpretação em Libras 

29 de agosto (sábado) 

20h 

Cenas Encomendadas 

Duração: 45 minutos no conjunto dos vídeos

Para Não Dançar em Segredo 

SINOPSE: 

A obra revisita memórias e construções identitárias de gênero do performer André Vitor Brandão, abordando as problemáticas da construção de uma masculinidade hegemônica no Sertão. O vídeo é um convite para a celebração das masculinidades na dança e um desejo de tornar manifesta a pluralidade imanente dos corpos masculinos, sobretudo aqueles que habitam o Sertão. 

FICHA TÉCNICA: 

Roteiro, direção e interpretação: André Vitor Brandão (PE) 

Direção de fotografia, montagem e edição: Fernando Pereira e Robério Brasileiro 

Direção de arte: Ana Paula Maich 

Trilha sonora original: Gean Ramos 

Assessoria criativa: Jailson Lima 

Produção: Alan Barbosa 

Classificação indicativa: livre

Interpretação em Libras 

CorazA 

SINOPSE: 

“A couraça era o medo e a vergonha de ser livre. Eu resolvi soltar e liberar minha musculatura para respirar e ser o que sou!” 

FICHA TÉCNICA: 

Direção e interpretação: Odacy Oliveira (AM) 

Auxiliar de direção: Alan Panteón 

Produção e consultoria artística: Valdemir Oliveira 

Iluminação: Alan Panteon e Odacy Oliveira 

Cenografia: Odacy Oliveira e Alan Panteón 

Filmagem: Alan Panteón 

Paisagem sonora: Moncho Bunge 

Classificação indicativa: livre

Interpretação em Libras 

Nkisi Hongolô – A Divindade do Arco-Íris 

SINOPSE: 

Uma abordagem da masculinidade como um princípio energético dinâmico e que pode ser alterado. Assim, os padrões sociais deixam de ser dados para serem construídos e formatados pela individualidade de cada um. Hongolô é um Nkisi – uma divindade – de princípio masculino. Está ligado às mudanças e recebe vários nomes, dependendo do seu local de culto em terras bantus. É também Hongolô que auxilia na comunicação entre os seres humanos e as divindades. 

FICHA TÉCNICA: 

Concepção: Pablo Bernardo, Ricardo Aleixo e Rui Moreira (RS) 

Câmeras e atuação: Rui Moreira e Ricardo Aleixo 

Concepção de design sonoro: Ricardo Aleixo 

Montagem de vídeo e áudio: Pablo Bernardo 

Classificação indicativa: livre

Interpretação em Libras

30 de agosto (domingo) 

20h  

Show 

Ciel Santos (PE) 

Rico Dalasam (SP) 

Duração aproximada: 30 minutos 

Classificação indicativa: 16 anos 

Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos por conter diálogos sexuais e nudez velada.

Interpretação em Libras

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