O racismo e o machismo, os gigantes males da humanidade, estão em pauta em ‘O HIPOPÓTAMO DE ESCOBAR’ | TEATRO

Cia do Pássaro volta para as atividades com texto de Dione Carlos e direção de Dawton Abranches abordando temas cascudos, mas necessários

Por tOn Miranda

A selvageria humana manifestada através do racismo e do machismo estão presentes na temática que Dione Carlos aborda em seu texto teatral O HIPOPÓTAMO DE ESCOBAR que tem como pano de fundo as diversas notícias que têm sido vinculadas na imprensa sobre as consequências geradas pelos hipopótamos levados da África para a Colômbia pelo narcotraficante Pablo Escobar.

“O Hipopótamo de Escobar tem a ver pra mim com masculinidade tóxica, tem a ver com o homem que em dado momento se depara com essa questão e detecta os males que essa masculinidade tóxica causa na vida dele e resolve romper com esse pacto e com esse sistema, esse modo de funcionar, de pensar, de enxergar o mundo, e tem a ver também, pegando como metáfora, os hipopótamos do Escobar”, nos contou a dramaturga Dione Carlos.

Pablo Escobar criava entre outros bichos exóticos, os hipopótamos, quando ele foi preso na fazenda, a Hacienda Nápoles, na Colômbia, que ficou abandonada. Na casa dele tinha muitos animais da África, elefantes, hipopótamos, girafas, e esses animais com o tempo romperam as cercas do lugar e fugiram em busca de alimento, fugiram para um rio e começaram a procriar. Na África, em seu habitat natural, eles demoram pra se reproduzir, mas na Colômbia passaram a se reproduzir de ano em ano, o que causou um desequilíbrio ecológico na estrutura da cidade.

Eles invadiram esse rio, chegando a ter uns 300 hipopótamos, se reproduzindo loucamente, porém eles começaram a andar nas cidades por onde esse rio passava, e numa das cidades a população se afeiçoou a esses animais, começaram a alimentá-los, então eles passaram a viver na cidade – do rio pra cidade e da cidade pro rio. Até que o Governo da Colômbia alertou as pessoa pro perigo, o hipopótamos é extremamente territorialista, mas parece que os da Colômbia não. Ainda hoje, o governo colombiano não conseguiu encontrar uma política eficiente para lidar com esses animais de aparência dócil, cujos hábitos ainda são desconhecidos pelos colombianos, e que estão entre os mamíferos que mais matam humanos na África. O governo da Colômbia tomou uma iniciativa muito estúpida, começaram a caçar esses hipopótamos para leva-los para outros lugares, para zoológicos, para santuários. Uma certa vez, deram um tiro de anestesia em um deles, só que matou o hipopótamo e a população se revoltou, porque pra muita gente até hoje o hipopótamo do Escobar é uma espécime de santo, com direito a altares.

O espetáculo que é protagonizado pelos atores Alessandro Marba e Rafael Procópio, inaugura uma nova fase da Cia do Pássaro, que transmitirá a peça de 35 minutos, diretamente da sua sede, o Espaço Cia do Pássaro, através da página oficial do companhia no Facebook.

“É uma experiência inédita. Ainda não sei avaliar. Não quero que pareça teatro filmado. Tentaremos pensar a câmera como plateia mesmo. Pra ficar mais dinâmico. É um espetáculo pra continuarmos pensando que a pandemia não pode fazer perdemos nosso espírito crítico diante das problemas sociais que enfrentamos junto com ela. O processo foi intenso no sentido de descobrir as camadas por trás do texto de Dione, que fala sobre um homem que observa um hipopótamo através de sua janela. Que janela é essa? Talvez, essa janela seja também um espelho que reflete os padrões de masculinidade de um homem latino moldado pelo processo de colonização. A proposta de desconstrução desses padrões de masculinidade nos coloca diretamente diante da necessidade de um processo de descolonização”, pontuou Dawton Abranches, diretor do espetáculo.

Dione nos falou ainda que “o fato do Alessandro (Marba) ser um ator preto e o (Rafael) Procópio ser um ator branco, a encenação do Dawton (Abranches), propõem que esses dois atores em cena se confrontando, se observando, para que a gente pense para além do sistema dessa masculinidade tóxica, o racismo também contribui pra essa insanidade que é viver, no caso dos meninos, crescer dentro dessa estrutura, porque o machismo não faz mal só para as mulheres, ele faz mal também para os homens. E o racismo ele animaliza os corpos e eu acho que esse personagem ele confronta contra tudo isso.”

De fato, “temos um homem preto diante de um homem branco. O que cada um pode enxergar de si no outro. No espetáculo você fica em dúvida sobre quem é o verdadeiro hipopótamo. De quem estamos falando na realidade?” completou Dawton.

O retorno ao primitivo propõe que num processo inverso ao do rinoceronte de Ionesco, esse homem se perceba mais humano à medida em que se torna hipopótamo.

Aproveite e mergulhe, somente nesse final de semana, nessa brilhante encenação que traz a imperdível, física e poética interpretação do ator Alessandro Marba que recentemente completou a primeira temporada do novo programa do Canal Diversão & Arte, o Encontro no Ninho, com bate-papos deliciosos com diversos artistas independentes.   

SERVIÇO

O HIPOPÓTAMO DE ESCOBAR

Datas e horários: 29/08 | SÁBADO – 23h

                                 30/08 | DOMINGO – 17h e 19h

Dramaturgia: Dione Carlos

Direção: Dawton Abranches

Elenco: Alessandro Marba e Rafael Procópio

Iluminação, Cenário, Figurinos e Sonoplastia: Alessandro Marba e Dawton Abranches.

Classificação: 10 anos

Duração: 35 minutos

Teatro onde ocorrerá a apresentação: Espaço Cia do Pássaro

Transmissão Online: https://www.facebook.com/cia.dopassaro | https://www.facebook.com/ciadopassarovooeteatro

GRATUITO

Realização e Produção: Cia do Pássaro – Voo e Teatro

Apoio: Canal Diversão & Arte

Deixe um comentário: