Com texto e direção de Alex Gruli, “Só” dialoga com o momento em que vivemos e coloca quatro parentes em uma sala virtual para que acompanhem o desligamento dos aparelhos que mantém vivo um outro membro da família
Alex Gruli, ator, diretor e dramaturgo, assina a obra Só, apresentada nas próximas duas terças-feiras, dentro da programação do projeto Palco Virtual do Instituto Itaú Cultural. A peça reúne em cena Alex Gruli, Fernando Neves, José Roberto Jardim e Kátia Daher, atores parceiros de longa data (todos eles são atores da formação inicial da Cia Os Fofos Encenam).
A obra, criada em 2015, foi adaptada para o contexto virtual. A história se passa em torno do fato de que um dos membros da família, desenganado pelos médicos, terá os aparelhos que o mantém vivo, desligados.
Apenas um parente está presente no hospital. Todos os outros, vivendo uma condição de pandemia, estão em casa, conectados em uma sala virtual. Enquanto esperam que os aparelhos sejam desligados, questões acerca do relacionamento familiar e lembranças de passagens de vida com a parente hospitalizada são trazidas à pauta.
Quando criada em 2015, a peça chegou a ser apresentada em um teatro físico e, ao invés da sala virtual, o encontro da família se dava de forma presencial. Ao adaptar o texto e a montagem para a relação virtual, Gruli não apenas adaptou a peça para o contexto do teatro on-line, mas também a colocou em profundo diálogo com o atual momento social vivido no Brasil e no mundo. O estar perto ao mesmo também em que se está longe transforma de forma muito sensível as relações entre as pessoas. Os atores definem como instigante o desafio de utilizar uma ferramenta de conversa virtual para criar e realizar um espetáculo nos tempos atuais de isolamento, renunciando à presença, que é um dos preceitos do fazer teatral. “Isso é o artista furando, abrindo uma brecha na impossibilidade”, analisa Neves.
Já Alex Gruli, em conversa exclusiva com o Canal Diversão & Arte, também promove uma importante reflexão sobre a experiência cênica mediada pela tecnologia, dizendo que“Só é um texto escrito em 2015 para ser realizado em palco convencional, com público presente. Com o início da pandemia, me veio a ideia de adaptá-lo para o formato on-line: com algumas alterações, toda a história que se passava na sala de espera de um hospital entre 4 pessoas da mesma família foi trazida para uma reunião on-line através do Zoom. Assim começou o processo de criação desse espetáculo, que estreia essa semana no Palco Virtual do Itaú Cultural. O processo de adaptação dramatúrgica foi extremamente instigante para mim, pois a nova linguagem me abriu outras possibilidades de interação entre os personagens, criando novas cenas e conflitos. A falta da presença física dos integrantes do projeto não foi um grande obstáculo para a realização, já que o próprio texto, depois de adaptado, pretendia a realização on-line. A tecnologia envolvida no processo precisou ser entendida e absorvida por nós durante os ensaios e, isso sim, é um grande desafio. Em primeiro lugar, para entendermos as possibilidades reais da ferramenta: às vezes, tínhamos ideias que não eram possíveis de se realizar; outras vezes, a ferramenta nos gerava ideias que nem imaginávamos ter. Acredito que o grande desafio é se reinventar cenicamente diante dessa nova proposta. Mas isso é o melhor combustível para o artista: colocar-se defronte à dificuldade e se superar, se reencontrar como proponente de novos caminhos. A criação é sempre instigante; e quanto maiores as dificuldades de realização, me parece que o desafio se torna mais chamativo para o artista”.
Para assistir ao espetáculo Só, garanta seu ingresso com antecedência pelo Sympla. É gratuito e o espetáculo acontece nos dias 8 e 15 de setembro, sempre às 20h por meio da plataforma Zoom.
SERVIÇO:
Projeto Palco Virtual – Itaú Cultural
8 e 15 de setembro (terças-feiras), às 20h
Só
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Local: via plataforma Sympla/Zoom
Capacidade 270 lugares
Acesso em Libras
Gratuito
Ficha Técnica:
Texto e direção: Alex Gruli
Elenco: Alex Gruli, Fernando Neves, José Roberto Jardim e Kátia Daher