Esqueça tudo que você sabia sobre assistir conteúdos e sobre a palavra “maratona”
Por Thiago Nunes
Hoje, com plataformas de streamings para todos os gostos, o que não faltam são conteúdos dignos de ganharem boas horas da nossa atenção em um final de semana.
É possível encontrar nos streamings os mais variados tipos de conteúdos. Desde séries clássicas como Friends, até as mais atuais, como as recentes apostas da Netflix: Emily em Paris, A Maldição da Residência Bly e Bom Dia, Verônica (esta última nacional).
Toda semana tem um lançamento novo que promete prender o público por algum par de horas na frente da TV, computador, smartphone, tablet ou qualquer que seja o dispositivo escolhido.
Antigamente, lá pelos anos 80 e até o início dos anos 2000 as videolocadoras estavam em alta. Você ia, alugava um conteúdo para que pudesse assistir e devolvia o VHS (anos depois o DVD) e na semana seguinte podia voltar para encontrar suas próximas aventuras.
Com o surgimento da internet, do YouTube, da Netflix, Amazon Prime, dentre outros serviços a locadora deixou de ter sua razão de existir fisicamente e muitas acabaram indo a falência. Agora, por um preço fixo ao mês, você pode “alugar” conteúdos e assisti-los como, quando e onde quiser. Sem limite de tempo ou prazo para devolução.
Mesmo com esse conteúdo à disposição no momento em que quiser, as pessoas ainda optam por assistir os conteúdos de uma vez só, o que chamamos de “maratonar”. Existem os maratonistas da São Silvestre e existem os maratonistas de séries.
Maratonar quer dizer que você vai consumir algum conteúdo (em grande parte das vezes seriados) de forma frenética e ininterrupta em um curto período de tempo.
O assunto ficou sério e pela internet você encontra reportagens sobre como fazer a maratona perfeita, que comidas consumir enquanto assiste e quais produções são dignas de uma “maratona”.
Com a pandemia do novo coronavírus, esse hábito se intensificou. No início da quarentena, algumas plataformas ofereceram desconto na assinatura, um mês grátis ou até mesmo liberaram conteúdos para não-assinantes como o GloboPlay que permitiu que mesmo os não-assinantes, pudessem assistir clássicos da emissora como Os Normais, A Diarista, Toma Lá Dá Cá e até mesmo a novela Amor de Mãe, que estava no ar e foi paralisada, ainda sem previsão oficial de retorno.
E se isso antes era uma exclusividade das séries, parece não ser mais.
Desde junho o GloboPlay tem trazido novelas clássicas de volta a seu catálogo, o que indicou um aumento significativo de assinantes para a plataforma. É crescente o número de pessoas que viram uma novela inteira, quase 200 horas de conteúdos em apenas um mês.
Este que vos fala levou um pouco mais. Terminei minha maratona em um pouco mais de dois meses, o que ainda assim é um período curto de tempo para um conteúdo tão longo como uma novela, que por vezes tinha mais de uma hora de arte (duração do capítulo como um todo).
Talvez esse comportamento social seja explicado pelo nosso redor.
Nossos amigos começam a ver algo, e eles vão comentar sobre, despertando a sua vontade de assistir e você vai. Para evitar os famosos spoilers, você tenta dar um gás para não ficar pra trás e não ter sua experiência estragada, descobrindo coisas importantes antes da hora.
Stranger Things é uma das séries estadunidenses que mais gosto na atualidade. Quando teve o lançamento da terceira temporada, me sentei diante da TV e vi três ou quatro episódios de uma só vez. Detalhe: Fiz isso à noite, e já tinha amigos que haviam terminado a série que foi lançada na madrugada anterior.
No dia seguinte, me fechei no quarto, dei play e fui assistindo sem parar até o final do dia, quando finalmente terminei.
Me obriguei a consumir o conteúdo dessa forma, pois acabaria pegando spoilers de uma forma ou de outra. Todo mundo já estava asssistindo e muitos já haviam terminado. Me afastei das redes sociais pois não queria descobrir o que acontecia com aqueles personagens, até que eu mesmo visse com meus próprios olhos.
Depois, revi a temporada com calma e apesar de já conhecer aquela trama, foi uma experiência mais divertida. Pude aproveitar melhor os ganchos, digerir com calma as ações dos personagens e como aquilo tinha impacto para a trama central, além de poder ver tranquilamente, sem pressa.
Num passado recente, tínhamos outro fenômeno mundial. Game of Thrones, da HBO era vista e comentada todas às noites de Domingo em que estava no ar. Se você perdia o conteúdo no horário, era bom evitar as redes sociais, mas se conseguia acompanhar ou fugir dos spoilers, ficava numa expectativa gigante para a próxima semana – ou próxima temporada.
Era um caso onde os ganchos e acontecimentos eram melhor aproveitados. “Fulano morreu? Como assim? Preciso ver esse conteúdo urgentemente.”
A ESTRATÉGIA
Da próxima vez que for assistir um conteúdo, principalmente uma série repare que antes que você possa ver todos os créditos finais, uma espécie de “pop-up” vai aparecer sobre à tela avisando que o próximo episódio começará em alguns segundos.
Você pode claro, cancelar ou adiantar esse processo para que aqueles infinitos segundos não fiquem entre você e a resolução do conflito que acabou de assistir.
Essa mensagem tenta à pessoa que pode estar em um estado de euforia por saber como o protagonista vai se livrar de uma situação, como o vilão vai agir ao ser pego por alguém ou o que vai acontecer depois que um grande problema estoura.
No momento final do episódio (ou do capítulo) estamos curiosos em relação ao desdobramento da situação e quando nos é oferecido a opção de continuar assistindo, é bem mais fácil que sigamos horas a fio assistindo a série.
É uma estratégia que ajuda a prender as pessoas para que vejam a série completa, sendo levada a isso. Não é preciso que você espere uma semana pelo próximo episódio. Você consegue resolver essa situação com apenas mais cinquenta minutos do seu tempo.
FALTA DE TEMPO?
As vezes, durante a semana não existe muito tempo para assistir séries. É trabalho, faculdade, casa, filhos, academia, tudo o mais… Por isso, muitas pessoas preferem por ver o conteúdo de uma só vez no final de semana, ou pelo menos o máximo que conseguir. Assim absorvem a história e no próximo final de semana já podem ver outra coisa.
Ah, mas existe uma forma de distribuir esse conteúdo também.
Sabe como?
Maratonando pelo celular enquanto vai pro trabalho, enquanto malha, no horário de almoço. É possível instalar o aplicativo em seu celular, baixar os episódios e de fato assistir onde quiser.
Isso é saudável?
Alguns especialistas já começaram a nos alertar sobre o perigo de maratonar tantos episódios assim de forma desenfreada. Um estudo da Universidade de Toledo, nos EUA mostrou que as maratonas são comuns em pessoas com tendências à depressão e ansiedade. Não é uma regra, claro! Mas é um ponto de atenção.
Alguns outros pesquisadores chamam atenção para o fato de que viver tanto tempo imerso em séries, por exemplo pode fazer com que isso afete a vida social e os relacionamentos próximos das pessoas.
Maratonar um conteúdo e terminar os novos episódios em um dia – ou em um final de semana tornou-se motivo de orgulho. Você de fato concluíu uma martona e está pronto para encarar as próximas.
É sempre bom conhecer uma nova história, se encantar com novos personagens e torcer para que se deem bem (ou mal, depende do ponto de vista). Desde que suas maratonas não atrapalhem sua vida social, sua alimentação e seus relacionamentos, tá tudo bem curtir mais e mais maratonas. Afinal, o que não faltam são bons conteúdos dignos de nossa atenção.