MÃE DE ALUGUEL (2020) | CRÍTICA

O longa Mãe de Aluguel (The Surrogate) do diretor Jeremy Hersh é uma das mais gratas surpresas da 44ª Mostra de São Paulo.

O longa retrata a história de Jess Harris, uma publicitária e designer de vinte e nove anos de idade, que trabalha em uma ONG no Brooklyn, em Nova Iorque. Ela decide então ser a “barriga de aluguel” e doadora de óvulos do seu melhor amigo Josh, e o marido dele, Aaron.

Algumas semanas depois a confirmação da gravidez, um exame pré-natal traz o diagnóstico: o feto é portador da síndrome de Down. O casal Aaron e Josh já não tem mais certeza se quer ter o filho ou não, e a família de Jess se envolve na história, acreditando que a moça não está considerando todas as variáveis, enquanto que o dilema moral entre interromper ou não a gravidez abala o relacionamento do trio.

Histórias sobre barriga de aluguel não são exatamente uma novidade, mas a forma com a qual a gravidez de Jess é abordada, é diferente. Não só pelo dilema moral que envolve seguir ou não com uma criança que já está diagnosticada com síndrome de Down, mas também pela abordagem que o longa traz.

Jeremy também assina o roteiro da produção, e esse talvez seja o principal ponto forte do filme, que o torna  um dos melhores lançamentos do ano de 2020. O debate moral é construído de forma magistral através de longos dialógos.

Com destaque para o confronto entre Jess e o casal de amigos e também com sua mãe, onde vamos entendendo mais o background da personagem através do inconformismo da família com a sua decisão. Esse recurso ajuda com que a situação seja vista com outros olhos, pois conhecendo melhor o passado da personagem, entendendo quem ela é, é quase que impossível não gerar empatia por ela.

O texto e a construção de Jess saltam do papel com a atuação de Jasmine Batchelor. Mesmo diante de inúmeras adversidades que sua personagem encontra, ela consegue a manter com a leveza necessária, diante da visão otimista da moça.

Mas não é só isso… Quando acuada, Jess reage.

Sabe se impor, se defender e lutar pelo que quer. Não é uma protagonista puramente feliz e otimista que passa o tempo todo sorrindo e esperando para que o melhor aconteça.

O filme tem algumas cenas longas e outras mais curtas, o que não é necessariamente um problema. Na verdade, essa construção ajuda na experiência. Hersh levanta questões que não são respondidas pelas personagens em tela, mas fica implícito para que nós, enquanto telespectadores a respondam.

Mãe de Aluguel é um filme que traz uma protagonista negra em uma posição de destaque profissional, bem como Aaron, marido de seu esposo que também é um homem negro com excelentes condições financeiras. Porém, mais que isso… Mãe de Aluguel traz em sua construção a atenção para portadores de síndrome de down e até mesmo outros deficientes físicos.

É um longa imperdível, que levanta debates morais que você responde para si mesmo enquanto assiste, e com certeza pensa neles um tempo depois.

Disponível no site da Mostra SP até o dia 05 de novembro com aluguel a 6 reais.

Vale muito à pena!

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