Curta Brazuca – Quanto tempo tem o tempo, se não estamos juntos? | CRÍTICA

Por   Gustavo Vieira

Essa história começa sem dever um fim; sentados, esperamos com um copo, corote, coração, firmes na mão… (…) estatizamos as relações, nos distanciando com o “wi-fi” nas mãos (…) somos os herdeiros do isolamento e amantes da depressão...

Jader Monteiro

Idealizado e realizado em tempos de pandemia e quarentena, o curta-metragem brasileiro Quanto tempo tem o tempo, se não estamos juntos?, escrito e dirigido por Jader Monteiro, procura retratar a experiência de duas jovens com as angústias da passagem do tempo, do isolamento social e das incertezas patentes nesse período em que o mundo vira de cabeça para baixo.

É muito bom ver o quando o Brasil produz obras interessantes sobre nossos tempos e este é o caso deste novo curta que, com cerca de seis minutos, nos traz uma obra com bastante fôlego, aliando boa fotografia – quase sempre em planos fechados –, uma trilha sonora marcante e melancólica e uma linguagem poética. Por “linguagem poética” é preciso que não cedamos à tentação de achar que estamos diante de uma poesia idealizada – pelo contrário -, aqui, o foco é, sim, a experiência privada, mas as reflexões das personagens trazem, também, as fragilidades políticas e sociais de nosso sistema e denunciam o desamparo do governo àqueles que não podem se proteger em isolamento, seja por não poder trabalhar de casa, seja por não poder prover o próprio sustento do auxílio econômico vergonhosamente inexpressivo do governo.

Logo nos primeiros segundos o curta nos traz um narrador que declama uma amarga poesia, junto ao corte de diversas cenas da cidade em enquadramento fechado – uma esquina vazia; pessoas de cabeça baixa; sombras caminhando em alta velocidade sobre a ponte: tudo concatenado para emular a angústia do isolamento. A direção aposta na força estética da junção entre forma e tema, uma vez que nos apresenta uma cidade em fragmentos distópicos junto a uma poesia que indaga a experiência. As personagens expõem suas angústias, memórias e sentimentos, mas não possuem nome e, essa justaposição entre a exposição da subjetividade e a impessoalidade de pessoas sem nome próprio nos causa um efeito de identificação imediato: poderia ser Maria, poderia ser Joana, poderia ser até mesmo Paulo.

Estamos diante de um filme que vale ser visto e revisto. Dito isso, sem cair na tentação de dar muitos spoilers, destaco alguns momentos da fotografia e direção que põem em pé uma cena que nos remente ao sufocamento do corpo aprisionado: aqui, a sensação de asfixia encontra paralelismo na própria característica da doença e se relaciona com a asfixia de nossa própria sanidade; se por um lado um vírus, de fator biológico, atenta contra o corpo, por outro lado a experiência do brasileiro, confinado há mais de doze meses em casa, alijado das práticas de afeto e lazer nos sufoca simbolicamente, acentuando o sofrimento de nossa subjetividade e saúde mental. Como seres sociáveis, o curta representa a violência desses tempos atípicos.

Quanto tempo tem o tempo, se ainda não estamos juntos? é, portanto, uma obra que busca colocar em pé a linguagem da poesia e trazer uma estética para a experiência de nosso tempo. O curta tem como ponto forte a linguagem poética que dita o tom das cenas vividas pelas jovens em isolamento; trata-se de uma obra que explora de maneira sensível nossas angústias emocionais e afetivas em meio à pandemia.

Onde assistir?

O curta está rolando em festivais nacionais e internacionais – incluindo a participação na “Seleção Oficial Lift-off Seassions -2021”, no Reino Unido e ainda não possui data de estreia.

Vamos ficar ligado nos canais oficiais da produtora Filmes sem Nome e aguardar este e mais lançamentos.

Segue o Instagram oficial para ficar de olho: @filmessemnome

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