Com texto e direção de Michelle Ferreira, espetáculo cria uma espécie de anedota trágica sobre o surgimento da categoria gênero na humanidade
As relações entre gênero e poder são o foco da peça 4 da Espécie, a história do corpo coisa nenhuma, escrita e dirigida por Michelle Ferreira, que estreia no dia 10 de novembro, no Sesc 24 de Maio, onde segue em temporada até 4 de dezembro. O espetáculo d’A Má Companhia Provoca traz no elenco Ivone Dias Gomes, Letícia Rodrigues, Lúcia Bronstein, Maíra De Grandi, Maura Hayas, Renata Augusto e Renata Guida.
A trama se passa em um feriado de Dia dos Mortos, quando Jaque Martini, Soni Kunder, Bibi Bibete e Lee Quatropanise encontram para viver uma aventura num chalé isolado nas montanhas. Lá, começam a ter pequenos conflitos que geram grandes problemas e trazem revelações sobre o caráter de cada um – sua mesquinhez, preguiça, vaidade e egoísmo.
Acuadas pela natureza, essas pessoas disputam território no âmbito doméstico e se envolvem em jogos de poder e dominação, brigando com ferocidade por coisas banais, fazendo alianças que revelam a frágil relação entre elas. Mudam seus discursos conforme seus interesses, cometem delitos ora inocentes, ora nem tanto, distorcendo o sentido da democracia. Uma agressividade latente está no ar, um impulso para a disputa, uma necessidade de fazer política.
Parecem capazes de dominar o mundo. Exercem a liderança pela oratória ou pela violência. Mas algo parece fora do lugar. Quem são essas pessoas? Tem gênero? Por que um certo tipo de comportamento parece deter sempre o monopólio do poder?
A história é contada enquanto estressa os estereótipos sociais e transita rapidamente entre eles por meio de relações de poder e situações limite.
“Acreditamos que, se quisermos mudar um sistema de opressão, temos de olhar a feminilidade e a masculinidade como algo artificial, construído e esculpido por nós. Caso contrário, repetiremos o cruel casamento entre capital e patriarcado, sem nunca sair das cansativas dualidades que aprisionam os gêneros em ideais inalcançáveis por todos. O homem universal simplesmente não existe. A mulher universal também não. Isso é instrumento de domesticação.”, questiona a autora e diretora Michelle Ferreira.
Embora quase todas as peças da autora tenham protagonismo feminino, é a primeira vez que Ferreira traz a discussão para a estrutura narrativa. “E, para isso, é preciso que as mulheres contem suas próprias histórias. Que as artistas coloquem suas obras, que as escritoras escrevam, que as cientistas pesquisem… É por meio do trabalho real, objetivo e que ajuda a carroça da humanidade a ir para frente que vamos construir outras narrativas e versões da História. Precisamos de uma ficção a favor das diversidades, para que os corpos das mulheres parem de morrer e possam, simplesmente, existir. Precisamos aceitar as inúmeras possibilidades de sujeitos, não mais presos às dualidades mente/corpo, natureza/cultura, macho/fêmea e organismo/máquina”, acrescenta.
A encenação é apoiada na pesquisa que A Má Companhia Provoca vem desenvolvendo ao longo da sua trajetória sobre o jogo teatral. “Acho que nesta montagem radicalizamos o jogo, porque ele é extremamente explícito em cena. A plateia, inclusive, acaba sendo direcionada a torcer pela sobrevivência de uma dessas quatro personagens. Quem vai vencer o jogo daquela vida que está sendo contada ali?
E 4 da Espécie – A História do Corpo Coisa Nenhuma (2018) também foi a primeira peça de Ferreira a ser publicada em um livro, como resultado do prêmio PROAC 2017 de Criação Literária – Texto de Dramaturgia.
SINOPSE
Quatro pessoas decidem passar um feriado em um chalé isolado nas montanhas. Enquanto a natureza os intimida e um leão os espreita, os quatro tentam achar uma forma democrática de conviver. Mas a aparente civilidade entre eles se desestabiliza quando fortes interesses pessoais entram em jogo.
FICHA TÉCNICA
Texto e Direção: Michelle Ferreira
Diretora Assistente: Leticia Rodrigues
Elenco: Ivone Dias Gomes, Letícia Rodrigues, Lucia Bronstein,
Maíra De Grandi, Maura Hayas, Renata Augusto e Renata Guida.
Direção de arte: Kleber Montanheiro
Desenho de luz: Claudia Di Bem
Desenho de som: Fernando Martinez
Trilha original: Eric Budney
Sonoplastia: Michelle Ferreira
Preparação corporal: Maíra De Grandi
Assistente de Figurino: Marcos Valadão
Operação de Luz: Iaiá Zanatta
Operação de som: Tomé de Souza
Cenotécnico: Evas Carretero
Costureira: Salomé Abdala
Direção de Produção: Gustavo Sanna
Assistente de Produção: Raphael Carvalho
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Fotos e vídeos: Laerte Késsimos
Programação Visual: Maura Hayas
Provocadora: Flávia Strongolli
Idealização e Produção Geral: A Má Companhia Provoca
SERVIÇO
4 da Espécie – A História do Corpo Coisa Nenhuma, de Michelle Ferreira
Temporada: 10 de novembro a 4 de dezembro. Quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h
Sesc 24 de Maio – Rua 24 de Maio, 109, São Paulo – 350 metros da estação República do metrô
Ingressos: sescsp.org.br/24demaio a partir de 01/11 às 12h e nas bilheterias das unidades Sesc SP a partir de 02/11 às 17h. R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (Credencial Plena – Sesc)
Capacidade: Localizado no subsolo, o teatro do Sesc 24 de Maio tem capacidade para 216 pessoas, incluindo acomodações para cadeirantes, pessoas obesas e/ou com deficiência e mobilidade reduzida.
Classificação: 16 anos
Duração: 80 minutos
Gênero: Comédia dramática