Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião: Uma ponte que transcende o passado, o presente e o futuro | MEU OLHAR
Por tOn Miranda
O sábio príncipe do samba, Paulinho da Viola, em 1972 já versava, em um dos seus sucessos, “quando penso no futuro, não esqueço o meu passado” (Dança da Solidão, 1972). Esse pensamento nos ajuda a ilustrar os símbolos e poesia potente presente ontem no palco da Sala Itaú Cultural com o espetáculo homenagem – “PEGA, MATA E COME: 60 ANOS DE OPINIÃO” com direção de Jé Oliveira.
Em 1964, o Teatro Opinião, idealizado por Augusto Boal, erguia-se como um farol de resistência contra a opressão do regime militar. Através da música e do teatro, o espetáculo original deu voz aos anseios e angústias do povo brasileiro, tecendo um mosaico de crítica social e política em tempos sombrios.
Sessenta anos depois, o Itaú Cultural recebeu na noite de ontem, 06 de junho de 2024 “Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião”, uma releitura vibrante e atualizada do espetáculo original, dirigida pelo genial Jé Oliveira. Mais do que uma simples homenagem, a montagem se configura como uma ponte entre o passado e o futuro, tecendo um diálogo entre as lutas e os sonhos de ontem com as realidades e desafios de hoje.
Sob a nova dramaturgia de Mariana Mayor e Julian Boal, o espetáculo transcende a mera reprodução do original. A linguagem híbrida, mesclando música e teatro, abre espaço para a expressão de novas vozes e perspectivas, conectando as canções emblemáticas do repertório original com as urgências do presente.
No palco, os extraordinários Ellen Oléria, Xis, Alessandra Leão, Paulo Tó e Xeina Barros dão vida a uma dramaturgia pulsante, construída a partir de suas próprias histórias e vivências. As canções de Zé Keti, João do Vale e outros artistas ganham novos sentidos, ecoando as lutas por justiça social, igualdade e liberdade que ainda hoje marcam a sociedade brasileira.
“Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião” não se limita a revisitar o passado, mas sim a reavivá-lo, infundindo-o com a energia e a criatividade das novas gerações. É um convite à reflexão crítica, à ação transformadora e à celebração da arte como instrumento de resistência e mudança.
Quero aqui mencionar alguns destaques:
Ellen Oléria é fenômeno da natureza e uma das vozes femininas pretas mais potentes que temos na atualidade da cena cultural preta brasileira. Ela tem diversos momentos emocionantes durante o espetáculo, mas quando ela resgata Zumbi de Jorge Benjor, canção que a fez ser conhecida por todo Brasil em rede nacional, ela evoca não só a nossa ancestralidade que a canção traz, mas também os seus primeiros passos numa trajetória artística que eu ouso dizer que inspira há muitos que estão nas estradas de suas vidas. Destaque também para suas expressões atravessadoras que ela traz em Carcará.
Alessandra Leão é outra artista que não conhece limites para transcender e encantar plateias com sua arte, com sua cultura, com seu poder poético. Ela, junto com todo elenco, agiganta-se num palco com sua arte que parece que engole e envolve o público que não sente nenhuma vontade de se livrar de suas presas artísticas embaladas por sua voz, seu tambor e seu talento.
Os figurinos de Éder Lopes e as projeções de Bianca Turner, são um espetáculo dentro do espetáculo, que ajudam a contar as histórias sem roubar a cena, mas incorporando-a em todo o espetáculo, como um personagem com os personagens. Tantos os figurinos como as projeções, trazem imagens da montagem original de 1964 com os ícones do elenco que marcaram a história do nosso país.
A encenação do espetáculo coroa o encerramento da Ocupação Maria Bethânia no Itaú Cultural, uma homenagem à icônica cantora e à força da palavra em sua trajetória. A sinergia entre o espetáculo e a ocupação cria um espaço propício para a reflexão sobre a arte como ferramenta de resistência e transformação social, valores que permeiam tanto a obra de Maria Bethânia quanto o legado do Teatro Opinião.
“Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião” é mais do que um espetáculo. É um manifesto, um grito de esperança e um convite à ação. É a prova viva de que a arte, quando utilizada com maestria e compromisso, tem o poder de incendiar consciências, inspirar mudanças e construir um futuro mais justo e igualitário para todos.
SERVIÇO
Espetáculo Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião
SÓ ATÉ DOMINGO! (09 de junho)
De 6 a 9 de junho (quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h)
Capacidade: 224 lugares
Entrada gratuita Ingressos: https://itaucultural-eventos.byinti.com/#/ticket/
Classificação indicativa: livre
Ficha técnica
Direção cênica: Jé Oliveira
Dramaturgia: Julian Boal e Mariana Mayor
Elenco: Ellen Oléria, Xis, Alessandra Leão, Paulo Tó e Xeina Barros
Músicos: Thiago Sonho, Lua Bernardo, Rodrigo Caçapa, Marcelo Cabral
Desenho de Luz: Matheus Brant
Figurino: Éder Lopes
Som: Caio Alarcon e Ale Viana
Projeções: Bianca Turner
PROTOCOLOS:
– É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após esse período, o ingresso será invalidado e disponibilizado na bilheteria.
– O mezanino é liberado mediante ocupação total do piso térreo – A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar.
– Devolução de ingresso:
Até duas horas antes do início da atividade, é possível cancelar o ingresso diretamente na página da Inti, assim outra pessoa poderá utilizá-lo. Na área do usuário, selecione a opção “Minhas compras” no menu lateral, escolha o evento e solicite o cancelamento no botão disponível.
– Programação sujeita a cancelamento:
O Itaú Cultural informa que sua programação, virtual ou presencial, poderá ser cancelada em caso de contaminação por Covid-19 de qualquer artista envolvido. Nesse caso, os ingressos adquiridos perdem a validade. O público que reservou o ingresso será notificado por e-mail. Um eventual reagendamento da programação ficará a exclusivo critério do IC, de acordo com a disponibilidade de agenda, sem preferência para quem adquiriu os ingressos anteriormente.
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô
Terça a sábado, das 11h às 20h
Domingos e feriados, das 11h às 19h
Informações: pelo telefone (11) 2168.1777 e wapp (11) 9 6383 1663
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Adorei o texto!