Cultura em Movimento: Inspirando Futuros

Como o mercado da arte, cultura e entretenimento pode transformar jovens em agentes de mudança e fomentar uma nova geração de profissionais da cultura

foto com recursos de IA

Por tOn Miranda

Recentemente eu me envolvi em dois projetos paralelos de formação para dois distintos públicos de jovens de programas sociais: jovens da Fundação Casa e jovens do Programa Jovem Monitor Cultural da Prefeitura de São Paulo. Ao me deparar com esses dois públicos, que em comum tem a juventude latente, pensei em como o universo da produção cultural é vasto, dinâmico e cheio de possibilidades. Para jovens que estão em programas sociais como a Fundação Casa e o Programa Jovem Monitor Cultural, ter contato com essas oportunidades pode ser transformador. A partilha de experiências por parte de produtores culturais e outros profissionais do ramo não apenas abre portas para que esses jovens vislumbrem novas possibilidades profissionais, mas também cria um ciclo de inspiração, onde a cultura deixa de ser uma experiência passiva para se tornar uma arena de protagonismo.

A cultura, quando acessada em toda sua amplitude, é um espaço de expressão, de representação e, acima de tudo, de construção. E, ao trazer os jovens para dentro desse fazer cultural, o impacto não se restringe à formação de novas plateias, mas estende-se para a criação de novos produtores, gestores, técnicos e agentes criativos que atuarão na preservação e inovação desse ecossistema.

A Cultura como Instrumento de Transformação

foto com recurso de IA

O Brasil é um país plural em termos culturais, com uma riqueza que se expressa nas mais variadas linguagens artísticas — do teatro à música, das artes visuais ao audiovisual. No entanto, o acesso a essa diversidade e a participação efetiva nos processos de criação, produção e gestão cultural nem sempre é possível para jovens de classes menos favorecidas. É aqui que a experiência de um produtor cultural pode ser um farol, mostrando que é possível trilhar esse caminho.

Compartilhar a prática do fazer cultural é, antes de tudo, criar uma ponte entre a realidade desses jovens e o mercado da arte e cultura. Ao expor os bastidores de um evento cultural, as etapas de planejamento, os desafios da produção, a relação com os artistas e o público, o produtor cultural faz mais do que revelar os detalhes técnicos da profissão. Ele mostra que a cultura é uma ferramenta de transformação social e que, através dela, é possível alterar o curso de trajetórias de vida.

Muitos desses jovens vêm de contextos de vulnerabilidade, onde a perspectiva de futuro é limitada pela falta de oportunidades. Quando são apresentados à produção cultural, ao universo dos eventos, dos festivais e das exposições, eles percebem que a cultura não é algo distante, reservado a uma elite, mas um espaço que pode ser ocupado, vivido e transformado por eles. E esse processo de empoderamento é fundamental para que novas gerações de artistas e profissionais da cultura se formem com diversidade e representatividade.

Vozes Inspiradoras: Reflexões de Quem Faz Arte e Cultura no Brasil

A convite da coluna MEU OLHAR do Canal Diversão & Arte, reunimos depoimentos de profissionais renomados do cenário cultural brasileiro, verdadeiros faróis de inspiração para as novas gerações. Com diferentes vivências e trajetórias, esses artistas, produtores, técnicos e criativos compartilham suas histórias, reflexões e experiências que moldaram suas carreiras e, de forma profunda, o mercado cultural. A partir de três perguntas, eles revelam as linguagens artísticas que os inspiram, momentos decisivos que os conectaram ao poder transformador da cultura e as referências que os guiaram ao longo do caminho. Suas respostas mostram como o legado artístico pode impactar e iluminar o futuro de jovens talentos.

AS PROVOCAÇÕES

1. Cite e explique o porquê qual é uma linguagem artística que é fonte inspiradora e renovadora para te manter conectado a sua trajetória.

2. Qual foi o momento mais marcante da sua carreira que te fez perceber o impacto da cultura na vida das pessoas e como você acredita que esse impacto pode transformar a vida dos jovens?

3. Existe algum mentor ou referência que teve um papel importante na sua formação e carreira? Como esse legado te influenciou e de que forma você acredita que pode ser uma referência para a próxima geração de profissionais culturais?

OS DEPOIMENTOS

Natália Souza | foto: Murilo Alvesso

Natalia Souza é produtora cultural na área de Artes Cênicas do núcleo de Curadorias e Programação Artística do Itaú Cultural, atriz e diretora formada em Artes Cênicas e mestra em Artes da Cena.

  1. Sem dúvida, o teatro é a linguagem que mais me atravessa, me motiva e me conecta com tudo o que sempre imaginei. Cada vez mais, entendo que o teatro está ligado ao meu propósito. É ele que me impulsiona a me revisitar e a querer ser uma pessoa melhor. Escolhi essa linguagem para trabalhar na vida, e não me imagino fazendo outra coisa. O teatro me permite fabular, criar novos imaginários sobre a vida e sua dureza, trazendo a possibilidade de sonhar e novas subjetividades. Com o teatro, sei que posso inventar outros mundos, histórias e ser outras pessoas. Mesmo com os desafios no caminho, não desisto, porque acredito que o teatro é uma linguagem de transformação, e ao longo da minha trajetória, vi muita coisa e muita gente se transformar por meio dele.
  2. Não sei se há um momento mais marcante na minha trajetória, até porque tenho duas: como artista e como produtora. Como produtora, estou há mais tempo, mas ainda é uma jornada recente, de oito anos. O que mais me gratifica é saber que fiz a diferença para as pessoas, mesmo em trabalhos complexos. Quando alguém me dá um retorno positivo sobre o impacto do meu trabalho, isso me emociona. Acredito que o trabalho na cultura é processual, feito no dia a dia, e que o que planto hoje, especialmente para mulheres jovens, pode impactar positivamente no futuro. Tento ser uma referência para elas imaginarem futuros possíveis.
  3. Minha maior influência na vida é a minha mãe, uma mulher negra, nordestina, que migrou para São Paulo em busca de uma vida melhor. Ela lutou muito para ser quem é hoje e para que eu pudesse ser a mulher que sou. Não consigo separar minha vida pessoal da profissional, pois muito do que sou vem dela. Minha mãe é minha base, minha mentora, e me ensinou a nunca esquecer de onde vim. Graças à sua persistência, pude sonhar e trabalhar com arte, algo que transformou minha vida. No campo profissional, Galiana Brasil é minha maior influência. Além de ser minha gestora, ela se tornou uma referência importante pela sua ocupação de espaços e autonomia. Ela me inspira profundamente, assim como outras mulheres da minha geração que também me influenciam.

Marcello Gugu | foto: arquivo pessoal/ divulgação

Marcello Gugu é MC, um artista que traduz o cotidiano urbano e desafios das quebradas através da cultura Hip Hop.  

  1. Eu acredito que a criatividade é uma das energias mais próximas de Deus e acredito que essa energia pode ser alimentada de diversas formas. Friedrich Nietzsche pontua que a vida sem a música seria um erro e, de fato, pra mim, a música é a linguagem que mais me atrai e me desperta a consciência para o universo que me rodeia e a sociedade que me cerca. É através da música que me conecto com pessoas, emoções, percepções e serve tanto como fonte de inspiração, como fonte de força e renovação. Para além de ser uma ferramenta e um lugar que abriga memórias afetivas, a música tem um impacto direto na minha arte e é quem coloca meus pés no chão. Ou tira eles.
  2. Existe uma citação muito comum dentro do movimento, constantemente repetida por seus adeptos, que pontua: “O Hip Hop salvou minha vida” e, geralmente essa frase não é dita à toa. A cultura Hip Hop tem, por definição, ser um agente de transformação social, responsável por oferecer alternativas diante a cenários fragilizados pela violência, pela desigualdade social e pelas faltas de oportunidades. A cultura propõe uma busca incessante não só pelo entendimento artístico, mas também pessoal, fazendo com que as pessoas, além de se profissionalizarem, se emponderem e se tornem protagonistas de seus próprios destinos. Há cerca de dez anos atrás, tive a oportunidade de iniciar um trabalho de oficinas e palestras em uma das unidades da Fundação Casa em São Paulo, a Casa Topázio, a convite do antigo coordenador pedagógico Anderson e de um grafiteiro chamado Dinas. Esse trabalho se estendeu para demais unidades e, durante todo processo, foi muito bonito perceber como a arte e a cultura podem ser acesso, abraço, divã, acolhimento. Em cada encontro, as atividades propostas se moldavam e se transformavam de acordo com o momento e, a longo prazo, algumas mudanças, mesmo que pequenas, já eram significativas. Até hoje encontro adolescentes na rua e que, na época cumpriam medida socioeducativa e que lembram das trocas, muitos afirmando que, embora não seguiram o caminho da arte, a arte foi essencial naquele momento para acender uma lâmpada num momento tão difícil. Ainda realizo esse trabalho e os resultados, felizmente, ainda se repetem.
  3. Ao buscar entender a formação e desenvolvimento da cultura Hip Hop, conseguimos perceber a presença de algumas filosofias e existe uma que eu acredito ser de suma importância para manutenção e continuidade do movimento que é Sankofa, símbolo que faz parte de um sistema de comunicação que pertence à cultura dos povos da língua Akan, que pontua a necessidade e importância de estudar o passado, para aprender de onde viemos, como construímos a nossa identidade e quais os rumos estamos tomando. Quando sabemos nossa origem, entendemos e temos base para definir para onde vamos e, por acreditar num Hip Hop que é circular, cíclico e baseado em filosofias de partilha, acredito ser essencial existir a troca entre gerações, por isso acho que seria muito raso pontuar poucos nomes numa cultura tão grande e coletiva, porém, é inegável que existiram e existem pessoas presentes que foram e são responsáveis por muito aprendizado na minha trajetória. Dentre essas pessoas, tenho o privilégio de trabalhar e ser amigo da grande maioria como Dj Duh, Dj e um dos maiores produtores musicais do país, nomeado no Grammy e detentor de um conhecimento e coração gigante. Pudemos fazer o meu primeiro disco juntos, inúmeras músicas e, atualmente, estamos trabalhando no segundo. Posso citar também G. Box, um Mc pioneiro de Diadema que ministrava oficinais na icônica Casa do Hip Hop em Diadema, Dj Nato Pk e Enéas Enezimo (In Memoria). O Hip Hop me deu e continua me dando a oportunidade de conviver com grandes artistas e pessoas e, além de aprender com elas, entender que, como legado, só podemos oferecer aquilo que temos e, como tive esse acolhimento, busco oferecer o mesmo para quem está chegando para que, possamos formar uma base forte nessa nova geração e o movimento continue a dar frutos e florescer.

Duca Rachid | foto: divulgação

Duca Rachid é escritora, jornalista, dramaturga e autora de novelas de sucesso e premiadas.

  1. Todas as artes são inspiradoras pra mim: a música, a literatura, o cinema, o audiovisual. Também as artes plásticas em geral. Todas elas de uma forma ou outra me estimulam com ideias. Para criar, você sempre recorre ao seu repertório. Além das artes, o jornalismo também é uma fonte de ideias pra mim. A novela Órfãos da Terra, por exemplo, nasceu de uma reportagem que assisti na Globonews sobre a situação de mulheres vivendo em campos de refugiados.
  2. Acho que um dos momentos mais legais que eu vivi, foi assistir Cordel Encantado na padaria da esquina de casa e ver como a novela reverberava junto aos funcionários, quase todos nordestinos. Eles se identificavam com os personagens e tinham orgulho de como a cultura deles estava representada ali. Um amigo que estava em viagem pelo sertão, também me mostrou uma foto de pessoas que paravam todas suas atividades para ver a novela naquelas TVs da praça, que ainda existem nas pequenas cidades do interior. Acho que não só os jovens, mas as pessoas de maneira geral gostam de se ver suas culturas, seus hábitos, representados, de forma positiva. Isso é muito bom para a autoestima das pessoas. Por isso a importância da cota de tela, na TV e no streaming. Outro momento importante foi durante a exibição de Amor Perfeito que recebi o vídeo de um menininho negro que dizia que se orgulhava de ter o cabelo igual ao do Marcelino. Que ele achava bonito. Isso foi muito comovente.
  3. Eu tive vários mentores, não poderia citar um só.  Se tenho que citar alguém eu cito o novelista Walther George Dürst, com quem tive a sorte de trabalhar e que me ensinou muito. Ele foi um dos fundadores da teledramaturgia moderna, adaptando clássicos brasileiros para a TV –   Guimarães Rosa, Jorge Amado, por exemplo. Não há um só dia em que eu não recorra aos ensinamentos do Dürst.  Ele me ensinou que a arte popular, não necessariamente deve ser populista.  Pode e deve ter qualidade, verdade. Acho que qualquer pessoa que trabalhe com audiovisual deveria conhecer a obra desse grande autor brasileiro.

Victor Soriano | foto: Letícia Vieira/divulgação

Victor Soriano é um produtor cultural e analista em Relacionamento no Itaú Cultural no núcleo de Mediação Cultural e Relacionamento. Ele também é artista e faz um trabalho incrível nos Parques de entretenimento.

  1. Bom, vai parecer um pouco clichê, mas eu sempre fui muito conectado com as artes da cena, tanto as artes cênicas quanto música, e isso é muito curioso porque depende muito do meu momento de vida. No profissional eu me conecto muito mais com as artes cênicas e no pessoal eu me conecto muito mais com a música, acho que elas têm potências muito diferentes e acessam locais muito diferentes, ao mesmo tempo que caminham paralelamente e eu acho que não é à toa que, em geral, música e artes cênicas são duas grandes potências para o público geral. Elas fazem com que a gente se conecte e sinta coisas que muitas vezes a gente só consegue sentir e vivenciar com aquilo.
  2. Eu acho que uma coisa que me impactou muito, a gente tem um projeto no Itaú Cultural que dialoga muito diretamente com o público jovem e com um recorte muito específico de público jovem, que é aquele jovem que está passando pela Fundação Casa, que está cumprindo uma medida socioeducativa por alguma infração. E algo que me emociona muito é quando esses jovens voltam ao Itaú Cultural de maneira autônoma, já após Fundação Casa. Um momento muito marcante foi quando uma vez eu vi um grupo de jovens que eram ex-Fundação e aí eles vieram por conta própria ao Itaú Cultural porque eles se sentiram muito pertencentes àquele espaço de tanto vir com visitas educativas, programações etc. E aí, eu como produtor, eu percebi que o nosso papel é só ser um catalisador para que as pessoas criem memória, para que as pessoas criem cultura, para que as pessoas absorvam, para que as pessoas vivenciem isso. E no final das contas, eu acho que não somos isso, sabe? Nós somos criadores de memória! Nós somos empoderadores de uma geração que vem com muita sede, que vem com muitas opiniões, que vem com muita força. E eu acho que isso é fundamental para que a gente tenha uma geração que saia cada vez mais do senso comum e entre ali num senso crítico, que parece que muitas vezes já vem de berço com eles, porque eles opinam sobre absolutamente tudo, né? Mas acho que é isso.
  3. Sim, quando eu olho para a minha carreira, de maneira bem institucional, não tem como não falar do Itaú Cultural, né? Porque é mais de uma década ali. Eu acho que a pessoa que mais me influenciou foi a Nathalie Bonomi, que era uma produtora sênior da casa e eu acho que a Nathalie foi uma ótima base, uma ótima referência pra mim porque eu lembro o quanto ela me ensinou, da gente individualizar as pessoas e entender que elas estão em processos diferentes. Se colocar um pouco no lugar do outro, mas ao mesmo tempo tomando muito cuidado, sendo muito cauteloso, não envolver as suas emoções e não se deixar misturar algumas coisas porque é isso, quando a gente tá falando de arte e cultura muitas vezes a gente tem que lidar e mediar com situações que são mais delicadas. Ela é minha grande referência depois de todos esses anos ali, porque eu sinto que se ela não tivesse dado uma base muito sólida com certeza não teria conseguido plantar uma árvore e colher frutos depois. Acho que isso aconteceu porque eu tive um solo muito fértil ali com ela.

Iago Germano | foto: arquivo pessoal/divulgação

Iago Germano é arquiteto, cenógrafo e diretor artístico.

  1. Bom, para mim, a linguagem artística que mais me conecta e mais me representa e mexe comigo, com os meus sentimentos, são as instalações artísticas. Essa arte, essa linguagem que mescla arte visual com arquitetura, com espaço, com outros sentidos nossos, para além do visual, com toque, com sensorial, muitas vezes com o som também. Eu acho que é o que mais mexe comigo, o que me dá mais vontade de criar e que sempre que vejo boas instalações me comovem. São grandes instalações mesmo, espaciais, que promovem essa experiência sensorial mesmo.
  2. Tive grandes momentos na minha carreira recente, e os mais marcantes foram as duas vezes em que organizei um stand para uma escritora independente na Bienal do Livro de Salvador, em 2022 e 2024. Nessas experiências, senti o impacto imediato do público, especialmente os jovens, que se conectaram com a temática dos livros lançados e o visual marcante dos stands. Mesmo sendo uma escritora independente, conseguimos atrair muitas pessoas, e as vendas esgotaram em ambas as ocasiões. Esses momentos me mostraram como uma boa experiência visual, com propósito e mensagem, pode cativar e gerar grandes resultados.
  3. Quando penso em referências, dois nomes me vêm à mente: Gringo Cardia e Ney Matogrosso. Gringo, como diretor de arte e cenógrafo, me inspira por sua atuação diversificada, trabalhando com grandes nomes da cultura brasileira e por sua formação em arquitetura, que nos conecta em vários níveis. Ney Matogrosso, embora de um campo diferente, me inspira pela forma como ele comunica, extrapola limites e lida com a expressão artística. Ambos influenciam minha visão e acredito que, com minha autenticidade e experiências, posso me tornar uma referência para a minha geração, explorando diferentes áreas e perspectivas.

Lucas Magrão | foto: divulgação

Lucas Magrão é roadie de diversas bandas e artistas que tocam pelos palcos do Brasil.

  1. A minha linguagem artística é a da música. Sempre foi a minha fonte inspiradora. Eu venho de família de músicos e me encontrei como roadie nesse meio. E é isso… É isso que me mantém super conectado para eu ter essa trajetória que faz mais de 25 anos já. Que delícia!
  2. O momento mais importante da minha carreira foi de trabalhar com pessoas da música que eram superimportantes, super referência para mim. Como eu trabalhei com a Elza Soares muito tempo e isso foi um impacto muito grande na minha vida, até como jovem. Eu vejo isso que também tem um grande impacto na vida de muitos jovens hoje em dia. que realmente sente a coisa diferente.
  3. Ah, teve muitos amigos que me ajudaram na minha carreira, assim, de início também foi o Gustavo Ladar, que é uma pessoa muito importante que me impulsionou bastante. Depois teve o Netão, roadie também, que foi um cara muito importante na minha vida ensinando muito sobre postura e muitas outras coisas no palco. Eu acho que é bacana ter essa visão e eu me vejo também como referência para essa galera nova que tá começando a trabalhar de roadie agora. Eu acho isso superbacana!

Bruno Truzzi | foto: arquivo pessoal/divulgação

Bruno Truzzi é economista, cientista social, professor universitário, mas não necessariamente nesta mesma ordem. Ele é analista de dados do Observatório da Fundação Itaú.

  1. O audiovisual, especialmente o cinema, e a música são duas linguagens culturais que me conectam profundamente com minha trajetória pessoal e profissional. Sempre que estou ouvindo ou estudando música, ou assistindo a um filme, sinto uma forte ligação com minhas memórias. Essas formas de arte têm o poder de nos conectar não só com o nosso passado, mas também de nos inspirar para o futuro, refletindo o que desejamos e esperamos. Essas duas atividades culturais me influenciam e servem de ponte tanto para o que vivi quanto para o que quero alcançar.
  2. O encontro de gestores culturais em Vitória, nos dias 14 e 15 de agosto de 2023, foi um momento marcante para mim, simbolizando o poder transformador da cultura. Esse evento reuniu gestores municipais, estaduais e federais, além de fazedores, especialistas e muitos jovens. Foi o primeiro encontro após a recriação do MINC, trazendo esperança e celebração. Além das discussões e planejamentos, o simples fato de estarmos juntos já inspirava uma retomada cultural. A cultura, especialmente por meio de políticas públicas, tem o poder de empoderar jovens e influenciar tanto a vida pessoal quanto profissional, impactando áreas como saúde mental, criatividade e habilidades coletivas.
  3. Ao longo da minha trajetória acadêmica e profissional, três pessoas me marcaram profundamente. Primeiro, o professor Daniel Serqueira, renomado pesquisador da violência no Brasil e defensor do papel da cultura na ressignificação de territórios, é uma grande referência acadêmica para mim. Em segundo, Luciana Modé, minha primeira coordenadora no âmbito cultural, que me ensinou a importância de vivenciar a cultura para entender seu impacto. Por fim, Gilberto Gil, um ídolo pessoal e profissional, cuja trajetória artística e política inspira muitos, especialmente como gestor cultural. Esses três exemplos me influenciam a primar pela ética, rigor científico e imersão no objeto de estudo, aspectos que acredito serem fundamentais para a próxima geração de profissionais culturais.

Davi Guimarães | foto: arquivo pessoal/divulgação

Davi Guimarães é ator e produtor cultural. Um dos artistas que compõem a constelação de talentos da Cia. de Teatro Heliópolis em São Paulo.

  1. Para me manter conectado à minha trajetória, sempre busquei inspiração em histórias reais, ligadas ao teatro e à vida. Minha pesquisa é voltada às humanidades, e as experiências e vozes de outros sempre foram uma fonte essencial de inspiração. Como intérprete e criador, sinto a responsabilidade ética de transpor essas histórias para a cena de forma poética e imagética. O cinema e as artes plásticas também são grandes referências para mim, especialmente cineastas como Tarantino, Almodóvar e o surrealismo de Jodorowsky, que trazem cores, vibrações e sensações poderosas. Acredito que é essencial ter um olhar afinado e saber filtrar essas informações para criar algo significativo.
  2. Um momento marcante na minha carreira foi trabalhar com o público do EJA em colaboração com a Companhia de Teatro Heliópolis. Entrevistamos adultos com trajetórias de vida marcadas por desafios e superações, muitos dos quais retornaram à escola. Um dos aspectos mais impactantes foi ver esses adultos e jovens se reconhecerem nas histórias encenadas. Quando suas histórias eram refletidas artisticamente no palco, mesmo que de forma poética, havia uma conexão profunda e mágica. Ver as pessoas se verem em cena, mesmo que em pequenos detalhes ou gestos, foi uma experiência extremamente gratificante e reveladora.
  3. Minhas maiores referências são as pessoas com quem convivi e fiz teatro ao longo dos anos. Tive o privilégio de trabalhar em várias companhias de São Paulo, incluindo a Companhia de Teatro Heliópolis, e também com o grupo Faroeste, onde trabalhei com Paulo Faria, que me ensinou que teatro e vida são inseparáveis. Aprendi com diretores que se envolvem diretamente com o ator em cena, vivendo o teatro como parte integral da vida. Minha mãe também é uma grande referência, pois através do teatro conseguiu criar seus filhos, incluindo um com síndrome de Down. Além disso, me inspiro no trabalho visual e criativo de Dimitris Papayano e na sensibilidade e conhecimento de Alexandre Marti, ambos figuras fundamentais na minha visão de teatro.

Bia Ramsthaler | foto: arquivo pessoal/divulgação

Bia Ramsthaler é idealizadora do Canal Diversão & Arte e apresentadora do podcast “Um Papo com Bia”. Doutora em Comunicação pela PUC-SP, é gestora de conteúdo, especialista em projetos incentivados e autora do livro “Comunicação e cultura: diálogos e tensões por trás da cena” (Editora Appris, 2015).

  1. Para mim, o teatro é a linguagem artística mais forte e representativa, pois tem a capacidade de nos fazer pensar, refletir e revisitar tanto a nossa história quanto a do outro, trazendo uma transformação profunda. O teatro é a base da minha consciência crítica sobre como me posiciono no mundo. A literatura, embora diferente, ocupa um espaço igualmente importante. Enquanto o teatro exige minha presença, a literatura vem até mim, proporcionando uma experiência íntima e pessoal. Ambos são essenciais em minha trajetória artística, alternando momentos de maior relevância em diferentes fases da minha vida.
  2. Eu não conseguiria destacar um único momento marcante, mas alguns foram transformadores para mim. O primeiro foi quando descobri o teatro, ainda criança, com 9 ou 10 anos, ao fazer um teste numa igreja e conseguir o papel principal em um espetáculo de Páscoa. Isso me mostrou que eu tinha algo a oferecer ao mundo. O segundo foi no Teatro Escola Célia Helena, onde aprendi que o teatro forma pessoas para a vida, não apenas atores. Lá, também descobri o backstage e a produção. Outro momento crucial foi meu trabalho com arte-educação ao lado de Dércio e Dorothy Marques. Dércio é uma figura fundamental da cultura brasileira, e Dorothy, com seu trabalho revolucionário com crianças em vulnerabilidade, me ensinou que as pequenas revoluções feitas com amor podem mudar vidas e ampliar horizontes.
  3. Dércio Marques foi um mentor essencial para mim, não apenas na arte, mas na forma de viver e ver o mundo. Ele tinha uma visão plural da arte e da cultura popular brasileira, sem fazer julgamentos sobre as pessoas ou suas escolhas. Dércio me ensinou que cada pessoa é um mundo que merece viver e conviver. Além disso, ele me mostrou o mundo ao viajar muito comigo, o que me fez entender a importância de circular, trocar experiências e fazer conexões. Outro mentor importante foi Gabriel Garcia Marques, que ampliou meu olhar sobre o mundo através de sua literatura, assim como Guimarães Rosa, que também influenciou profundamente minha visão de vida. Esses três são os principais nortes na minha jornada.

Vini Rigoletto | foto: arquivo pessoal/divulgação

Vini Rigoletto é produtor e programador cultural. É o coordenador de exposições do IMS.

  1. Acho que a música é uma linguagem artística poderosa que expressa emoções e conecta culturas, e me amplia muito quanto visão de mundo. Ela inspira a minha criatividade e provoca reflexões, e serve como um guia trajetória pessoal e profissional. Por essas razões, a música é uma fonte renovadora e motivadora, me deixa em constante movimento para produzir e também me conectara pessoas, lugares e me trás referências.
  2. Um momento marcante da minha carreira foi quando produzi um projeto em um museu voltado para a população de rua, focando na inclusão. Esse projeto criou um espaço de pertencimento onde essas pessoas puderam se expressar e compartilhar suas histórias. Ver a transformação nos participantes, ao se sentirem valorizados e ouvidos, me fez perceber o impacto profundo da cultura na vida das pessoas. Acredito que essa experiência pode inspirar jovens, mostrando como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para promover mudanças, empoderamento e um senso de comunidade.
  3. Várias pessoas me inspiraram ao longo da minha trajetória, mostrando a importância da empatia e da inclusão na arte. Essas influências me motivaram a conectar a cultura com a comunidade, buscando sempre transformar realidades. Acredito que posso ser uma referência para a próxima geração ao incentivar a criatividade e a colaboração, mostrando que a cultura é uma poderosa ferramenta de transformação social e potência.

O Futuro do Mercado Cultural: Tendências e Oportunidades

fotos com recursos de IA

O mercado da arte e cultura está em constante evolução, e as tendências para 2025 e 2026 apontam para uma transformação cada vez mais inclusiva, digital e colaborativa. Para os jovens que se interessam por ingressar nesse universo, compreender as direções para onde o setor caminha pode ser um guia poderoso.

1. Expansão Digital e Plataformas Interativas 

Com o avanço das tecnologias digitais e a democratização do acesso à internet, o mercado cultural se expande para além dos palcos e galerias físicas. Plataformas de streaming, festivais online, NFTs (tokens não fungíveis) e arte digital são apenas algumas das tendências que vêm crescendo. Jovens produtores culturais terão a oportunidade de explorar essas novas formas de expressão, que permitem maior alcance, acessibilidade e inovação. O desenvolvimento de competências digitais será um diferencial importante para quem deseja se destacar nesse mercado em expansão.

2. Sustentabilidade e Práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança) 

O compromisso com a sustentabilidade e com práticas de ESG será uma das pautas centrais para o mercado cultural nos próximos anos. Empresas e instituições culturais estão cada vez mais preocupadas com o impacto ambiental e social de suas atividades. Para os jovens produtores, isso significa a necessidade de se familiarizar com práticas mais ecológicas na produção de eventos, com a inclusão de comunidades locais, e com projetos que promovam a diversidade e equidade racial, de gênero e social.

3. Economia Criativa e Colaborativa 

A colaboração entre artistas, produtores, gestores e técnicos será um dos motores do mercado cultural nos próximos anos. O fortalecimento de redes colaborativas, onde diferentes profissionais trabalham juntos para a realização de projetos, será fundamental. Esses jovens terão à disposição novas ferramentas e plataformas para criar, distribuir e comercializar seu trabalho, o que abre espaço para uma maior autonomia e independência criativa. A economia criativa continuará a ser um setor em expansão, impulsionado pelo empreendedorismo cultural e pela inovação.

4. Valorização da Diversidade Cultural 

A cultura brasileira é um reflexo da multiplicidade de vozes, histórias e identidades que compõem o país. Nos próximos anos, espera-se que haja uma valorização ainda maior das narrativas periféricas, indígenas e afro-brasileiras no cenário cultural. Para os jovens que ingressam nesse mercado, é uma oportunidade única de fazer parte de um movimento que valoriza a diversidade e cria espaço para novas vozes. Eles poderão atuar na produção de eventos e projetos que promovam a inclusão e que deem visibilidade a histórias e culturas que, historicamente, têm sido marginalizadas.

5. Formação Técnica e Qualificação Profissional 

Com o mercado cultural se tornando cada vez mais especializado, a formação técnica e a qualificação profissional serão diferenciais cruciais. Jovens que desejam se inserir nesse mercado deverão buscar cursos, oficinas e programas de formação que ampliem suas habilidades. As áreas técnicas, como sonorização, iluminação, cenografia, produção executiva e gestão cultural, terão uma demanda crescente, e estar preparado para atuar em uma ou mais dessas áreas será um grande trunfo.

Aqui está uma lista com dicas de locais de formação gratuita ou de baixo custo, que oferecem cursos e programas profissionalizantes nas áreas de técnico de luz, som, produção cultural, artes cênicas, música, artes visuais, fotografia, roteiro, entre outras:

São Paulo

Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT)

Oferece cursos gratuitos em áreas como produção cultural, iluminação, sonorização, audiovisual, fotografia, entre outros. 

Localização: Cidade Tiradentes, São Paulo. 

Site: Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes

SP Escola de Teatro

A instituição oferece cursos gratuitos de formação profissional em áreas como direção, cenografia, figurino, iluminação, sonoplastia e técnicas de palco. 

Localização: Praça Roosevelt, São Paulo. 

Site*: SP Escola de Teatro

Fábricas de Cultura 

As Fábricas de Cultura oferecem cursos gratuitos de formação em diversas linguagens artísticas, incluindo música, teatro, artes visuais, e também cursos técnicos como produção cultural e audiovisual. 

Localização: Várias unidades em São Paulo (Brasilândia, Vila Nova Cachoeirinha, Sapopemba, Capão Redondo, etc.). 

Site: Fábricas de Cultura   

Centro Cultural da Juventude (CCJ)

Oferece uma variedade de oficinas e cursos na área de cultura, incluindo produção de eventos, audiovisual, música e artes visuais. 

Localização: Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo. 

Site: Centro Cultural da Juventude

Oficinas Culturais do Estado de São Paulo

Programa do Governo do Estado que oferece cursos gratuitos de diversas áreas culturais, incluindo iluminação, sonorização, artes visuais, teatro, e produção cultural. 

Localização: Diversas unidades em São Paulo. 

Site: Oficinas Culturais   

Programa Vocacional (Prefeitura de São Paulo)

Oferece formações em artes visuais, teatro, música e dança, além de oportunidades para desenvolver habilidades em produção cultural e técnica. 

Localização: Diversas unidades culturais em São Paulo. 

Site: Programa Vocacional

Rio de Janeiro

Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV)

Oferece cursos gratuitos e bolsas para formação em artes visuais, além de oficinas em áreas como iluminação e produção cultural. 

Localização: Parque Lage, Rio de Janeiro. 

Site: EAV Parque Lage

Lona Cultural Municipal Herbert Vianna

Espaço cultural no Rio que oferece cursos e oficinas em áreas como teatro, música, produção de eventos, e técnicas de palco. 

Localização: Maré, Rio de Janeiro. 

Site: Lona Cultural Herbert Vianna

Minas Gerais

Escola Livre de Artes Arena da Cultura (Belo Horizonte)

Oferece cursos gratuitos de formação em artes visuais, artes cênicas, música, audiovisual e produção cultural. 

Localização: Belo Horizonte, MG. 

Site: Arena da Cultura

Pernambuco e Ceará

Escola Pernambucana de Circo

Oferece cursos gratuitos em áreas como iluminação, sonorização e técnicas de circo, além de formação artística para jovens de baixa renda. 

Localização: Recife, Pernambuco. 

Site: Escola Pernambucana de Circo

Porto Iracema das Artes

Escola de formação em artes com cursos gratuitos em áreas como audiovisual, música, teatro, dança e produção cultural. 

Localização: Fortaleza, Ceará. 

Site: Porto Iracema das Artes

Nacional

SENAC – Programa de Gratuidade

O Senac oferece cursos técnicos gratuitos através do Programa Senac de Gratuidade (PSG), com formações em áreas como produção de eventos, cenografia, iluminação e sonorização. 

Localização: Diversas unidades no Brasil. 

Site: SENAC PSG

SENAI – Cursos Técnicos Gratuitos

O SENAI oferece cursos técnicos gratuitos em diversas áreas, incluindo técnicas de som, iluminação e cenografia, além de cursos voltados para a indústria cultural. 

Localização: Diversas unidades no Brasil. 

Site: SENAI

Sesc – Cursos e Oficinas Culturais

O Sesc oferece, em várias regiões do Brasil, cursos e oficinas gratuitas nas áreas de música, artes cênicas, audiovisual e produção cultural. 

Localização: Diversas unidades no Brasil. 

Site: Sesc

Outras Iniciativas

Instituto Criar de TV e Cinema

O Instituto Criar oferece formação técnica e profissional gratuita para jovens em áreas como produção audiovisual, iluminação, sonoplastia e fotografia. 

Localização: São Paulo, SP. 

Site: Instituto Criar

Oportunidades Culturais – Itaú Cultural e Fundação Itaú

O Itaú Cultural da Fundação Itaú oferece diversas oportunidades de formação gratuita em áreas de artes visuais, cênicas, música, audiovisual, roteiro e dramaturgia, além de cursos em produção cultural e gestão de projetos. 

Localização: São Paulo, SP (e online). 

Site: Itaú Cultural e Escola IC

Esses espaços oferecem uma ampla gama de formações voltadas para o mercado cultural e proporcionam oportunidades para que jovens possam se qualificar profissionalmente e ingressar nesse setor em expansão.

Caminhos para o Protagonismo

foto com recursos de IA

A cultura não é apenas entretenimento; ela é um campo de disputas simbólicas e políticas, onde se constrói identidade e se promove transformação. Jovens inseridos em programas como a Fundação Casa e o Programa Jovem Monitor Cultural têm um imenso potencial de se tornarem agentes de mudança dentro desse cenário. Ao serem inspirados por profissionais da cultura que compartilham suas trajetórias e desafios, eles são levados a acreditar que o mercado cultural também pode ser seu espaço de realização.

Esses jovens precisam ver que existem múltiplos caminhos a serem trilhados no mundo da cultura. Desde a produção e curadoria até a técnica e a gestão, há uma infinidade de funções que garantem a existência de uma cena cultural robusta e diversa. Mais do que isso, eles precisam entender que suas histórias, seus contextos e suas experiências são valiosas e podem enriquecer o campo da cultura. Por isso, ao compartilhar experiências com jovens de contextos vulneráveis, o produtor cultural não está apenas oferecendo uma perspectiva de carreira. Ele está oferecendo a oportunidade de reescrever histórias, de criar novas narrativas e de transformar o próprio futuro. E ao inspirar esses jovens a ingressar no mercado da arte e cultura, estamos construindo uma sociedade mais diversa, inclusiva e, sobretudo, mais criativa.

Deixe um comentário: