Por Thiago Nunes
O Brasil é o país mestre em produzir telenovelas. Há 70 anos fazemos para todos os tipos de públicos e pessoas.
Tem novela mais romântica, tem aquelas mais puxadas na comédia, tem as que nos prendem do começo ao fim com suas reviravoltas, e tem até um suspense policial de vez em quando para agradar o noveleiro.
Aliás, esse é um termo curioso: noveleiro! Em algum momento da vida, todos nós fomos noveleiros. Seja os mais velhos, ou os mais jovens. Mesmo que a única vez que você tenha ficado preso na frente da tv com uma novela tenha sido para ver o embate entre Carminha e Nina, você com certeza já foi noveleiro também. Mesmo que por um curto período.
A geração mais velha pôde ter contato com obras que se tornaram um grande clássico da dramaturgia, coisa que este que vos fala não teve tanto assim. O Vale a Pena Ver de Novo era a sessão descoberta de grandes novelas do passado que ainda poderiam dialogar de certa forma com a sociedade naquele momento.
O Video Show (ah, que saudades!) trazia sempre os bastidores das novelas em exibição e curiosidades das que já passaram no tempo. Era uma delícia ver o Túnel do Tempo, Falha Nossa, aberturas. E em determinado momento, o programa até adotou o “Novelão da Semana”, quadro com exibições de clássicos em um curto período, como um mega resumão para deixar quem nunca viu à par da trama ou para simplesmente matar as saudades.
Era bom demais, né?!
Lá pelo ano de 2010, o público noveleiro foi presentado com um novo canal na TV Paga: O Canal VIVA que trouxe reprises de diversos conteúdos como Xuxa Park, Cassino do Chacrinha e, claro, as novelas que nós tanto amamos.
Reprodução: TV Globo
A primeira foi Por Amor, uma das mais queridas de Manoel Carlos e que foi reprisada novamente pelo canal anos mais tarde, e tamanho o sucesso pintou novamente nas tardes da emissora-mãe no Vale a Pena Ver de Novo. Quatro por Quatro, icônica novela de Carlos Lombardi com os personagens Raí e Babalu que até hoje são lembrados também estreou no mesmo dia. E mais adiante foi a vez de Vale Tudo, considerada por muitos a melhor novela de todos os tempos. Escrita por Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, a trama de Odete Roitman se tornou uma das mais queridas pelo público.
De lá pra cá foram vários os resgates clássicos como: Que Rei Sou Eu? Rainha da Sucata, A Próxima Vítima, Mulheres de Areia, A Gata Comeu, Vamp, O Dono do Mundo e até mesmo o resgate de Pai Herói, novela de Janete Clair que não pode ser vista por muitas pessoas fãs de novela, pois desde seu ano de exibição original, em 1979, nunca mais ela foi reprisada.
Rapidamente o VIVA se tornou um queridinho do público noveleiro, mesmo em meio a polêmicas como a exibição de Bebê a Bordo, que passou a sofrer cortes em cenas importantes (e polêmicas) por conta de audiência, segundo apontam dados do UOL e mais recentemente também por conta do esticamento da imagem original, que para os fãs fazem com que a obra perca muito de sua qualidade de imagem.
Mas a surpresa para o público noveleiro não parava por aí. O Viva vem cada vez mais trazendo novelas mais “recentes” como Chocolate com Pimenta, Mulheres Apaixonadas e Da Cor do Pecado. Chama atenção que essas novelas já têm mais de dezessete anos, e já podem ser consideradas para a exibição no VIVA. Lembrando que na primeira reprise, Por Amor tinha apenas 13 anos de distância de sua exibição original em 1997. Acontece que mesmo trazendo novelas mais “contemporâneas”, o grupo Globo não desistiu de surpreender seu público noveleiro e resgatou grandes clássicos dos anos 80 para a grade. Tivemos Brega e Chique, deliciosa novela de Cassiano Gabus Mendes com Marilia Pêra e Gloria Menezes sensacionais em seus papéis sendo exibida na faixa das 14h30. Em seguida, veio Sassaricando, outro clássico de Silvio de Abreu. Essa foi a novela onde Cláudia Raia interpretou Tancinha, uma das personagens que com certeza está na galeria de grandes personagens da dramaturgia.
E agora temos no ar O Salvador da Pátria, novela nunca reprisada antes e que tem se mostrado uma trama forte e muito bem amarrada em seus primeiros capítulos. É a primeira vez que uma novela de Lauro César Muniz é reprisada pelo VIVA. E o autor também apareceu com outra de suas obras em outra plataforma, o Globoplay.
Desde o dia 26/04, aniversário de 56 anos da TV Globo inclusive, o Globoplay trouxe Roda de Fogo para o catálogo, novela que o autor escreveu junto com Marcílio Moraes, outro autor que ainda não tivemos a oportunidade de redescobrir suas duas obras como titular: Mico Preto e Sonho Meu.
Desde junho de 2020 o Globoplay tem trazido, a cada duas semanas, uma novela clássica completa e na íntegra para o catálogo. Começamos com A Favorita, clássico de João Emanuel Carneiro que também nunca havia ganhado reprise. Depois vieram Tieta, Estrela Guia, Vale Tudo, A Indomada… Não necessariamente nessa ordem.
A surpresa foi quando a plataforma anunciou a chegada de Kubanacan, uma novela que também nunca ganhou reprise. Isso acendeu a chama de esperança dos noveleiros que viram a possibilidade de resgatar tramas mais antigas que nem o Canal Viva havia exibido ainda. E foi o que aconteceu.
Em fevereiro de 2021, entrou para o catálogo a novela O Bem Amado. Clássico de Dias Gomes que foi a primeira novela em cores da TV Brasileira, lá no ano de 1973. A divulgação foi muito bem feita e nas redes sociais só se ouvem elogios para a trama. Recentemente tivemos Roda de Fogo e tem previso para chegar por aí outro clássico de Janete Clair: Pecado Capital.
É muito bom que a Globo, através de seus canais como Globoplay e VIVA tragam para o público essas obras mais antigas e restauradas. É uma oportunidade de que o público conheça grandes sucessos do passado e vejam em cena atores que ainda estão vivos e até mesmo os que já nos deixaram. Mas nem só por isso.
A novela ainda hoje é o principal veículo de comunicação do Brasil. É caríssimo colocar um anúncio ali, diariamente só na Grande São Paulo, cerca de 6 milhões de pessoas assistem a novela das nove. É muito difícil confrontar tamanho público, e essa é uma herança histórica.
Cada novela é um retrato muito específico de sua época. Uma novela de 1975, 1982, 1996 ou 2012 retratam como era o nosso país naquele momento. Em que contexto vivíamos, como nos comportávamos, o que era considerado “normal” e o que não era, que músicas ouvíamos, que estilo dançávamos, que estilo de roupa era nosso guia de moda, e por aí vai…
Torçamos para que esse resgate continue firme e forte e que possamos cada vez mais prestigiar grandes momentos da nossa dramaturgia, seja qual for a plataforma.