Recorde de bilheteria na Broadway, musical Funny Girl ganha versão brasileira estrelada por Giulia Nadruz e Eriberto Leão | MEU OLHAR por Victor Soriano

Quando entramos na plateia do teatro Porto Seguro para apreciar a nova versão brasileira do clássico da Brodway Funny Girl – A Garota Genial nos deparamos com um cenário fixo que nos transporta automaticamente para um subúrbio com grandes referências à época da primeira guerra mundial (período no qual a história é contada). Paredes de tijolos, estruturas metálicas e iluminação intimista, todas essas características gritam a arquitetura industrial da época, e a cereja do bolo é a orquestra exposta no mezanino incorporada à cenografia.

Giulia Nadruz e Eriberto Leão
foto: CAIO GALLUCCI

O espetáculo conta a história da jovem judia Fanny Brice, uma atriz que assim como muitas no ramo, sonha com o estrelato e a fama.

Mesmo sendo desprezada por praticamente por todos, ela rouba os holofotes num show local e é contratada por um famoso produtor que resolve investir em sua carreira.

Giulia Nadruz, veterana do teatro musical brasileiro, transita com facilidade no humor ácido da personagem, e ao mesmo tempo que consegue nos carregar com sua emoção em músicas lentas,  nos faz querer gritar em canções com notas mais altas e explosivas (características da versão original do espetáculo).

Apesar da personagem ter o humor como uma de suas características cênicas, o alívio cômico do espetáculo é de responsabilidade da irreverente Stella Miranda, que interpreta a mãe de Fanny. Aos saudosos amantes de “Toma Lá dá Cá” essa é uma oportunidade de matar a saudade da voz inconfundível da lenda que interpretou Dona Alvará nas telinhas da Globo.

O tempo passa, e agora com o investimento certo, Fanny conquista seu espaço, sucesso e fama e acaba conhecendo o jogador compulsivo Nicky Arnstein, interpretado pelo novato em musicais Eriberto Leão.

Os dois acabam se apaixonando loucamente e esse relacionamento é um divisor de águas na narrativa da peça. Eu diria que o primeiro forte enredo é a protagonista lutando para conquistar o seu lugar ao sol, e após conhecer seu amado, o enredo se volta para a relação deles e como Fanny passa a ter comportamentos compulsivos, abusivos, psicologicamente questionáveis e contraditórios. Em resumo, enquanto a carreira da atriz e cantora prospera, o relacionamento dos dois se deteriora.

Um outro ponto importantíssimo dessa nova versão é que ela é uma nova leitura.

A adaptação brasileira assinada por Bianca Tadini e Luciano Andrey, dirigida por Gustavo Barchilon e produzida pela Barho Produções em parceria com a 7.8 Produções Artísticas repaginou o espetáculo com o aval da equipe criativa original, para que ele pudesse atender a contemporaneidade que vivemos. Para se ter ideia do nível de mudanças, há músicas que só existem na versão do filme de 1968 e nem chegaram perto dos palcos da Broadway, mas entraram para a adaptação brasileira.

“Os clássicos são fundamentais, mas é importante revisá-los, sem que a essência se altere”, justifica o diretor. “Basta mexer em uma ou outra palavra que tudo ganha um sentido mais adequado aos dias atuais.”

Outro ponto interessante do texto é a quebra da quarta parede, onde em alguns momentos os personagens interagem diretamente com a plateia aumentando a imersão no enredo.

Assistindo Funny Girl – A Garota Genial refleti sobre as diversas semelhanças com a realidade do universo de quem trabalha com arte e cultura no brasil. A maratona para se ter uma oportunidade, as dificuldades de conciliar vida pessoal X vida profissional, além da falta de incentivo externo que assombra muitos profissionais da área.

É impossível não se conectar com o espetáculo e perceber que estar em cima do palco é sempre uma oportunidade de criar, não só as suas memórias, mas também as do público, e talvez seja essa a maior dádiva de ser artista.

SERVIÇO

Funny Girl – A Garota Genial

Onde: Teatro Porto. Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos.

Quando: Sexta, 20h; sábado, 16h30 e 20h; domingo, 15h30 e 19h. Até 8 de outubro. A partir de sexta (18).

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