Por tOn Miranda
A noite do 16 de março de 2024 deveria entrar para História do Cancioneiro Brasileiro como uma das noites marcantes que a cidade de São Paulo testemunhou no palco do Teatro Raul Cortez no Sesc 14 Bis que se transfigurou em um portal para a magia da música brasileira. Amaro Freitas, Zé Manoel e Alaíde Costa, unidos em um palco histórico, brindaram o público com uma releitura memorável do clássico álbum “Clube da Esquina”, transportando-os para um universo de emoções e sensibilidade.
Uma Sinfonia de Talentos:Sob a luz suave do teatro, Amaro Freitas e Zé Manoel numa sintonia e comunhão profunda entre eles conduziram a plateia em uma viagem musical inesquecível. A maestria de Freitas se manifestava em improvisos arrebatadores, como em sua versão jazzística de “O Trem Azul”, onde o ritmo frenético da bateria de Rodrigo Digão Braz e os sopros vibrantes de Henrique Albino criaram uma atmosfera eletrizante. Já Zé Manoel, com sua sensibilidade ímpar, imprimiu um toque metanóico e introspectivo às canções, como em sua emocionante interpretação de “Clube da Esquina”, onde o piano dialogava com o baixo acústico de Guto Wirtti em uma melodia melancólica e profunda.
A Voz Incomparável de Alaíde Costa:
Aos 88 anos, Alaíde Costa provou que a idade é apenas um número. Sua voz potente e vibrante ecoou pelo teatro, emocionando o público desde de sua delicada entrada no fundo do palco e a cada verso das canções que entoou com seus súditos. Sua interpretação de “Me Deixa Em Paz” foi um dos momentos mais marcantes da noite, um verdadeiro show de força interpretativa e entrega emocional. Ao entoar “Nada Será Como Antes”, Alaíde nos presenteou com a sabedoria e a experiência de uma vida dedicada à música, em uma performance que transcendia o tempo e o espaço.
Um Encontro de Gerações:
O show de Amaro Freitas, Zé Manoel e Alaíde Costa foi mais do que uma simples homenagem ao “Clube da Esquina”, Milton Nascimento e sua turma. Foi um encontro de gerações, um diálogo entre passado, presente e futuro da música brasileira. A tradição mineira se mesclou à vanguarda instrumental, criando uma sonoridade única e inovadora, onde o talento arrebatador desses dois grandes ícones da nova música brasileira – Amaro Freitas e Zé Manoel – reverenciavam com talento e ancestralidade a exuberante Alaíde Costa e a obra de Milton Nascimento.
Momentos Inesquecíveis:
A noite foi recheada de momentos memoráveis. A sintonia impecável entre os músicos, a emoção contagiante do público, a energia contagiante de cada canção. Impossível não se arrepiar com a interpretação conjunta de “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, onde as vozes de Amaro e Zé Manoel se harmonizaram em um coral celestial com uma plateia cúmplice, transgeracional e apaixonada que lotou a sala que leva o nome de um dos nossos grandes atores brasileiros.
Um Legado para o Futuro:
O show de 16 de março de 2024 ficará para sempre na memória de quem teve o privilégio de presenciar. Uma noite mágica que celebrou a riqueza da música brasileira, a genialidade de Milton Nascimento e Lô Borges e o talento de três artistas excepcionais.
Uma produção impecável:
Merece destaque a impecável produção da 78 Rotações, sob a batuta de Laércio Costa, que contribuiu para a atmosfera mágica e inesquecível da noite. A escolha do repertório, a iluminação intimista, o som impecável, tudo contribuiu para a experiência sensorial única proporcionada ao público. Em suma, o show de Amaro Freitas, Zé Manoel e Alaíde Costa foi um marco na história da música brasileira, um presente inestimável para o público presente e um legado para as futuras gerações. Uma noite que transcendeu o tempo e o espaço, eternizando-se na memória de todos que a presenciaram.