Na preguiça, no progresso | Crônica

O mesmo vento forte que conduzia o alvoroço instantâneo dos caracóis dos seus cabelos, ventava sem rumo e sem vítimas. Onde estará você, meu amor? Perguntava-me enfurecido como num jeito envelhecido.

Durante minhas buscas pelas ruas sangrentas e insalubres de – São – São Paulo, sem latidos de cachorros e sob olhares superiores do mais puro elixir de autoridade, o sucesso parecia nunca dar as caras.

Eu voltava para casa com meu rumo ainda não identificado. Sentado em minha cadeira velha, minha única companhia acabara por encarnar em um aparelho televisivo. Todos os olhos ali estavam, dentre amontoados civis que levantavam placas mencionando ser proibido proibir. Afinal, era isto, certo? Vamos protestar! Só não vá se perder por aí.

Parda, solteira, exuberante!

Mas foi no domingo ou na segunda?

Lá fora é esse mormaço, esse cansaço.

Chega de tudo!

Procurei-a na igreja que costumávamos frequentar aos domingos, sem sucesso, nem mesmo no andor. Desfalecido por entres as paradas de sucesso, nada. O soar agudo da tropicália penetrante que tomava minha cabeça dolorida persistia. Será que eu vou morrer de dor?

Ai minha menina, a solidão vai me matar de dor.

Era no avesso do espelho que ela se encontrava, com medo e ensanguentada, aos berros e lágrimas, talvez alguém a notasse. Ela não poderia estar morta, quem poderia imaginar? A doce e revolucionária jovem, com tanto futuro pela frente, sem pulso, sem cor, sem respirar.

Fala! Lindonéia, fala!

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