SOB PRESSÃO – PLANTÃO COVID NÃO SÓ HOMENAGEIA COMO TAMBÉM ENALTECE A IMPORTÂNCIA DO SUS | CRÍTICA

Por tOn Miranda

Os fãs e admiradores da série SOB PRESSÃO não tem do que reclamar: além do fato da série global ter três temporadas premiadas com sucesso de público e de crítica, em meio a pandemia do novo coronavírus, o elenco atendeu ao convite/chamado do diretor Andrucha Waddington para gravarem um especial com dois episódios para falar da realidade pandêmica da COVID-19 e ser a primeira produção a reocupar os Estúdios Globo em Jacarepaguá no Rio de Janeiro.

Com uma produção repleta de cuidados e protocolos para garantir a segurança de elenco, técnicos, produtores e diretores, a abordagem do atual tema onipresente em toda mídia brasileira foi narrada com delicadeza, autenticidade e sensibilidade. Além de prestar uma justa homenagem aos profissionais da saúde, enalteceu e colocou em pauta a importância da valorização do Sistema Único de Saúde – o SUS.

Foram escalados para o SOB PRESSÃO – PLANTÃO COVID os protagonistas Dr. Evandro (Julio Andrade) e a Dra. Carolina (Marjorie Estiano), além é claro da turma que completa a equipe como Décio (Bruno Garcia), Charles (Pablo Sanábio), Mauro (David Junior), Vera (Drica Moraes), Keiko (Julia Shimura), Marisa (Roberta Rodrigues) e Rosa (Josie Antello).

Lucas Paraizo, que escreveu os dois episódios com consultoria do médico Marcio Maranhão, nos presenteou com uma trama que mistura as histórias dos pacientes internados no Hospital de Campanha (ambiente com mais de mil metros quadrados construídos nos Estúdios Globo) que cruza com os dramas pessoais e profissionais dessa equipe médica que enfrenta um vírus invisível e ainda pouco conhecido, num ambiente com muitos doentes, poucos médicos e escassez de materiais básicos para enfrentar a doença.

O arco dramático ainda revela ao público flashbacks de Evandro que explicam como sua vocação à profissão foi aflorada através de sua mãe, Penha, vivida pela Fabiula Nascimento e sua admiração ao Dr. Samuel, vivido por Stepan Nercessian (cujo o personagem morreu na segunda temporada da série). Quem vive o jovem Evandro nesses flashbacks é o irmão de Julio Andrade, o ator Ravel Andrade que declarou que “Já estava feliz demais pelo meu irmão, que é meu maior mestre, por ele fazer esse trabalho falando da pandemia, passando informação para o povo, dentro desta série que tem uma profundidade, uma verdade que sempre me atraiu. Quando soube que eu ia fazer o Evandro jovem foi uma explosão dentro de mim. Trabalhar com Julio me abençoando, me passando o personagem para eu fazer o jovem que imaginava foi maravilhoso. Só tenho a agradecer por esse momento. Meu irmão é um cara que me incentiva e acredita em mim. A gente compartilha a vida, os dias, tudo. Temos uma conexão muito forte”.

O ator Julio Andrade falou com exclusividade ao Canal Diversão & Arte e nos relatou como foi pra ele, em especial, a realização desses dois episódios especiais que tratam com tanta delicadeza e realidade do nosso momento atual, quase como uma crônica social:

“Todas as minhas escolhas, todos os trabalhos que eu decido fazer, eu penso muito antes e os personagens me encontram assim. Eu acho que SOB PRESSÃO veio muito nesse momento que eu precisava por pra fora alguma coisa e esse projeto ele tinha esse ingrediente de comunicar, de abrir discussões, de falar diretamente com as pessoas e com as pessoas que mais precisam. Eu acho que SOB PRESSÃO tem essa função e SOB PRESSÃO é um reflexo do nosso Brasil hoje, porque ali tem muitas discussões, muitas histórias próximas do nosso cotidiano, se aproxima muito da realidade e num momento que as pessoas mais precisam. Então eu decidi fazer SOB PRESSÃO por isso também, porque eu acho que estava também exercendo meu lado político, meu lado humano, meu lado cidadão. O especial COVID entra nesse momento em que as pessoas todas estão pensando no mesmo assunto, estão vivendo a pandemia, então a proximidade com a dramaturgia ela fica mais forte, é quase que um espelho da nossa sociedade do que a gente está vivendo. SOB PRESSÃO traz o lado de dentro, de dentro pra fora, o lado de dentro dos hospitais, onde as pessoas não tiveram acesso na pandemia, isso fez com que as pessoas prestassem atenção e se identificasse com esse momento. Quando o Andrucha me convidou pra fazer, ele me ligou, e eu já vinha pensando uma semana antes, eu estava pensando que a gente podia voltar com reprise, alguma coisa assim que pudesse trazer essas questões, porque a gente estava vivendo esse problema com a saúde pública, esse episódio com a saúde pública. O Andrucha, pra minha surpresa, uma semana depois me ligou me fazendo o convite para fazermos dois episódios sobre o COVID. Na hora eu aceitei, eu não pensei o quão difícil seria, que isso poderia ter uma consequência, não pensei, porque eu sabia que era necessário fazer, que era importante fazer, então eu me coloquei a disposição porque a causa era mais importante.

Foi difícil sim pra fazer, porque tinha um protocolo que a gente seguiu que era super rígido e também o fato da gente estar todo paramentado isso foi também uma questão pra eu também aceitar, saber que eu estava completamente protegido, isso me fez tranquilizar um pouco, e aceitar um pouco essa condição de ser a primeira produção filmada dentro de uma pandemia, mas saímos vitoriosos desse projeto, nenhuma pessoa foi infectada, a gente teve o maior cuidado, um cuidou do outro, a gente conseguiu sair bem dessa produção. Eu acho que foi um sucesso, o resultado foi muito bacana, eu recebi muitas mensagens bacanas. Eu acho que é isso, SOB PRESSÃO tem essa função de comunicar e de abrir discussões importantes e naturalmente, a gente não tenta forçar, a gente simplesmente tenta fazer aquilo que está aí, aquilo que acontece, aquilo que já existe, a gente tenta trazer pra dramaturgia um pouco do que a gente vive.”

A série que é uma parceria da Globo com a Conspiração Filmes coleciona prêmios e já foi indicada para o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz para Marjorie Estiano, no ano de 2019. O tema de abordar a pandemia do COVID foi um desejo do autor e do diretor que diante desse cenário negativista de um governo irresponsável que tenta desqualificar a Ciência, se viram numa generosa obrigação de trazer luz a população através de uma dramaturgia empática aos problemas levantados: “A gente tinha que colocar a pandemia na nossa história, exatamente pelo diálogo que temos com a realidade e, principalmente, porque isso faz com que o público tenha um olhar diferenciado para os profissionais de saúde que estão atuando na linha de frente neste momento. A gente se debruça, de alguma maneira, para tentar fazer com que as pessoas vivam a experiência dos profissionais de saúde”, conta o autor Lucas Paraizo.  

Andrucha Waddington, diretor artístico da série, acredita também na força da mensagem de esperança que os dois episódios especiais trazem. “A homenagem é a nossa primeira bandeira, mas além disso, a gente traz também uma esperança de que “vai passar” e de que devemos nos cuidar e cuidar dos outros. Só assim vamos enfrentar e superar esse momento”, reflete.

Destaco ainda uma cena que atravessa todo e qualquer espectador da série, a cena da foto pro crachá da Dra. Carolina defendida brilhantemente pela atriz Marjorie Estiano que sem texto, só com a força dramatúrgica do contexto, comunica de forma profunda as dores e dissabores que sua personagem estava vivenciando com aquele olhar.

O encontro de Chico Buarque e Gilberto Gil na canção SOB PRESSÃO

No último episódio, o público também é presenteado com um encontro musical dos amigos Gilberto Gil e Chico Buarque. Gil compôs com Ruy Guerra a canção SOB PRESSÃO que é um retrato fiel não só dos dois episódio especiais sobre a COVID, mas ela azeita e contempla toda a obra da série que narra a luta desses profissionais da saúde que dedicam suas vidas no SUS, e que lutam para que ele continue sendo uma realidade na vida do povo brasileiro, lutando por melhorias e por sua NÃO extinção.

Os versos de Gil e Guerra revelam poeticamente um Brasil que agoniza na ignorância de um povo ludibriado pela ganância política dos governantes corrompidos pelo poder, mas aponta uma esperança com uma fé na Arte, na Ciência e na Educação.

Sob Pressão – Gilberto Gil e Chico Buarque (Gilberto Gil / Ruy Guerra)

Falta de ar nos gemidos dos “ais”
A febre, seus fantasmas, seus terrores
Sem pressa, passo a passo, mais e mais
A besta avança pelos corredores

O médico caminha com cautela
Estuda as artimanhas do inimigo
A enfermeira brava vence o medo
Pouco lhe importa a extensão do perigo

O mundo está (?) ao Deus dará
O povo não se entrega é cabra cega
É lá e cá sem lei, sem mais aviso
Só sei que é preciso acreditar

Fazemos todos parte desta história
Mesmo que os tontos blefem com a morte
Num jogo de verdades e mentiras
Um jogo duplo de azar e sorte

A ciência abre as suas asas
A esperança à frente como um guia
Com São João na reza, a pajelança
A intervenção de Xangô na magia

Neste canto aqui da poesia
Casa da fantasia e da razão
Abre-se a porta e entra um novo dia
Pela janela a dentro um coração

A voz de um bardo a bordo da alvorada
O sol da aurora secando o pulmão
Ano passado se eu morri na estrada
Vai que esse ano não morro mais não

É pra montar no lombo da toada
Desembarcar do trem da pandemia
É pra fazer da rima arredondada
O rompante final de uma alegria

Vamos em frente amigo, vamos embora
Vamos tomar aquela talagada
Vamos cantar que a vida e só agora
E se eu cantar amigo
A vida é nada

Os dois episódios de SOB PRESSÃO – PLANTÃO COVID estão disponíveis no catálogo da Globoplay.

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