O alucinante submundo de Beetlejuice |MEU OLHAR por Victor Soriano

Por Victor Soriano

Quando Beetlejuice foi anunciado, eu fiquei particularmente curioso em saber como uma das comédias musicais mais queridinhas da Broadway seria adaptada.

O público brasileiro tem sede pelo riso e quando bem adaptado nos palcos, normalmente se torna uma boa receita de sucesso.

O último musical que brincou com o mundo dos mortos e veio ao Brasil (A Família Addams) foi sucesso absoluto, o que ajudou a subir a pressão no fantasma desajustado que é Beetlejuice.

Mas antes, vamos voltar um pouco e entender como essa insana história surgiu. No final dos anos 80, o diretor Tim Burton, conhecido por toda a sua ousadia e estranheza lançou o que viria a ser um clássico instantâneo, que atravessou gerações: a comédia ‘Beetlejuice – os fantasmas se divertem’. O sucesso foi tão estrondoso que, mais de 30 anos depois, o filme se transformou em um musical da Broadway.

Depois de aterrorizar corações mundo afora e aterrissar na terra do Cristo Redentor em uma temporada de sucesso em 2023, a afrontosa e divertidíssima história chega a São Paulo, para uma temporada no que tudo aparenta, já está sendo um sucesso. Com direção de Tadeu Aguiar e produção geral de Renata Borges Pimenta a Touché

Entretenimento acertou em cheio na adaptação.

O enredo gira em torno de um casal recém-falecido que se transformam em fantasmas, presos em sua antiga casa. Com a chegada de novos moradores, eles precisam da ajuda de um fantasma mais “experiente” – Beetlejuice (Eduardo Sterblitch com alternância de João Teles), que se utiliza de métodos questionáveis para expulsar os novos inquilinos.

Sem dúvida alguma Eduardo Sterblitch é um nome de peso para o espetáculo, mas tive o privilégio de assistir João Telles dar vida a sua versão no espetáculo, e uma coisa ficou evidente: ele sabe o que está fazendo. Telles brinca justamente com o fato de Sterblitch não estar no elenco do dia e satiriza os fãs que vieram assisti-lo, uma sacada ótima.

Durante o desenrolar o espetáculo eu tentei contar a quantidade de referências e brasilidades que foram adaptadas para o público, e falhei miseravelmente: são muitas, e em sua grande maioria entram no texto no tempo certo e em alguns momento com uma jogada de improviso.

Desde figuras do mundo da música como Anitta, Luísa Sonza, Ivete Sangalo, Rodriguinho até figuras políticas como a deputada federal Érika Hilton e o ministro do supremo Alexandre de Moraes, há incontáveis referências bem-humoradas que tiram boas gargalhadas da plateia que se conecta e mergulha na brincadeira.

Falando em conexão com o público, um ponto altíssimo do espetáculo é a quebra da quarta parede que acontece com frequência pelo personagem. Teles brinca com o público e transita no texto de maneira assertiva, trazendo um humor ácido que é o principal traço de personalidade do personagem.

Ana Luiza Ferreira interpreta Lydia Deetz, uma adolescente, recém moradora da casa que está em um conflito emocional após perder sua mãe e no decorrer da trama se conecta com os fantasmas de uma maneira intensa.

A versão original nunca foi conhecida por ter grandes músicas que marcaram gerações do teatro musical, mas Ana Luiza consegue roubar a cena com seus vocais que flutuam com intensidade nas notas mais altas de algumas músicas. Renato Theobaldo assina a cenografia que claramente traz a estética imposta pelo Tim Burton e seria uma tolice se não aproveitassem tamanha fonte de referências para matar a sede do público que esta vez mais exigente com as produções brasileiras.

Desde o momento de estarmos sentados na plateia aguardando o início do espetáculo onde podemos ouvir alguns elementos sonoros brincando com o público e fazendo referência a história até o agradecimento do elenco, eu resumiria “Beetlejuice – o Musical, o Musical, o Musical” (nome esse triplamente utilizado para brincar com o enredo do protagonista) em uma viagem alucinada pelo além com a garantia de boas risadas.

SERVIÇO

Beetlejuice, O Musical, O Musical, O Musical

Temporada até 28/04/2024

Horários: Quartas, Quintas e Sextas às 21h00

                  Sábados às 16h00 e 21h00

                  Domingos às 16h00 e 20h30

Classificação: 18 anos

Local: Teatro Liberdade – Rua São Joaquim nº129 – Liberdade – São Paulo

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