“A Voz Suprema do Blues”: Uma grande estrela sempre vai brilhar.

A Voz Suprema do Blues já está disponível no catálogo da Netflix em todo o mundo. O longa de George C.Wolfe (You’re Not You, 2014) tem apenas 94 minutos de duração e é estrelado por ninguém mais, ninguém menos que Viola Davis e Chadwick Boseman, o eterno Pantera Negra. Este é o último trabalho do ator que faleceu em agosto de 2020.

A Voz Suprema do Blues, ou Ma Rainey’s Black Bottom é uma adaptação da obra teatral original de August Wilson. Ambientada no ano de 1927, a trama é inspirada na real Ma Rainey, cantora negra conhecida como a mãe do blues.

No começo do século XX, imagine o que uma cantora negra não enfrentou para mostrar seu trabalho e provar seu valor? A proposta do longa é narrar essa história e mostrar de certa forma como a exploração da cultura negra enriqueceu vários e vários empresários brancos – o que ainda acontece muito.

A protagonista vivida pela sempre incrível Viola Davis trava uma batalha com empresários brancos para a gravação de seu novo disco. E não somente com eles, mas também com o trompetista da banda, Leeve Greene, encarnado por Chadwick – que não tem medo algum da mãe do blues.

A Voz Suprema do Blues é um filme que vai além dos conflitos narrativos. Ele trabalha em cima dos conflitos entre os personagens, e esse é o grande acerto da obra. Para isso usa alguns artifícios, como por exemplo resolver toda uma situação em um único ambiente. No caso, a gravação do disco de Ma Rainey no estúdio. É algo que aproxima os personagens e que precisa de total foco em suas ações.

Tanto Ma Rainey quanto Leeve Greene são protagonistas dessa obra. São duas forças da natureza, mas de cargas energéticas opostas, o que os coloca em constante conflito durante a gravação. Dizem que dois bicudos não se bicam, e de fato com uma análise um pouco mais profunda, eles são mais parecidos do que imaginam.

São dois músicos negros, que são passados para trás constantemente apesar de todo o talento que possuem, sendo sempre preteridos em relação a outros profissionais, de preferência brancos. Mais do que vítimas da sociedade, Ma e Leeve se tornam vítimas de si mesmos. De suas mazelas e inseguranças, criando uma redoma de proteção em volta deles mesmos que acaba afastando algumas pessoas.

Ter um longa que aproxima seus personagens, foi fundamental para que essa história fosse contada. O texto tem a carga da vivência de cada um desses dois, através de monólogos que são a deixa perfeita para que os atores brilhem com suas composições. E é exatamente isso que acontece.

Viola Davis está sempre fantástica. A atriz é quase uma EGOT, títulos concedidos a artistas que ganharam todos os principais prêmios da indústria norte-americana: Emmy, Grammy, Oscar e Tony.

Ela que já tem dois Tony’s, um Emmy por How To Get Away With Murder e um Óscar de Melhor Atriz coadjuvante pelo filme Um Limite Entre Nós (outra adaptação de August Wilson) não precisa provar seu talento para ninguém. Onde tem Viola Davis, com certeza tem uma excelente atuação por trás.

Contudo, o grande destaque do longa foi Chadwick Boseman, naquela que talvez seja a melhor performance dele em filmes. A alegria, a dor, a tristeza e o desespero de sua personagem são transmitidos pelo olhar, pela entonação na voz. É do oito ao oitenta, com diversas nuances e chamados internos. Chamados de ajuda de um homem traumatizado mas que não perdeu sua ambição.

Viola e Chadwick estão entre as principais apostas para vencer o Óscar de Melhor Ator e Atriz do ano de 2021.

Caso ele vença a categoria que tem outros preferidos como Gary Oldman e Delroy Lindo, será muito mais do que uma homenagem. É a coroação de um talento que perdemos muito cedo e que nos deixou após seu trabalho mais lindo e tocante.

Como toda estrela, Chadwick segue brilhando.

Nota: 3.5/5.0

Trailer:

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